Inglaterra segura ressurgimento da Colômbia, supera maldição dos pênaltis e pega a Suécia nas quartas

Luiz Henrique Zart
Popytka
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12 min readJul 3, 2018
O English Team deu fim à sina: Venceu sua primeira disputa de pênaltis em Copas (Getty Images)

48 minutos do segundo tempo. A Inglaterra ganhava por 1 a 0, depois de um pênalti convertido por Harry Kane, e cozinhava o jogo. A bola veio para a área e Yerry Mina subiu no terceiro andar para mandar a cabeçada para as redes, pela terceira vez na Copa, impressionante, para dar sobrevida à Colômbia. Foi o lance que deu o quadro do jogo: uma partida tensa, não tão bem jogada, em que o árbitro Mark Geiger teve uma atuação terrível. Na prorrogação, um tempo foi de cada seleção. Em Moscou, na Otkritie Arena, a igualdade se manteve, e a decisão foi para os pênaltis. Justamente onde os Three Lions tinham um histórico desfavorável — perdendo as três disputas em que esteve em mundiais. Aí, a trave e Jordan Pickford deram fim à maldição, e Eric Dier mandou para as redes a bola da classificação inglesa para as quartas de final. A Colômbia batalhou, deu o sangue e volta para casa depois de uma campanha honrada, deixando Brasil e Uruguai como os únicos dois sul-americanos entre outros seis europeus nas quartas. Já os ingleses seguem para encarar a Suécia.

Os times

José Pékerman mudou a disposição da Colômbia para o embate com os ingleses. Sem seu principal jogador, James Rodríguez, contundido, o técnico sul-americano rearranjava a equipe. David Ospina, com uma pequena lesão no tornozelo, continuava dando experiência e proteção ao gol. Yerry Mina, vindo de atuações com gols na fase de grupos, ganhava a vaga na dupla de zaga, ao lado de Davinson Sánchez. Johan Mojica e Santiago Barrios, de força ofensiva, ficariam um tanto mais presos sem a bola, para cobrir a chegada dos alas ingleses. A grande variação tática acontecia pelo meio, desta vez com três volantes. Carlos Sánchez, pelo meio, oferecia mais força física, com Jefferson Lerma e Wilmar Barrios mais pelos lados, ainda atrás da linha do meio de campo. Pouco mais adiantados, Juan Quintero e Juan Guillermo Quadrado eram as opções de criação e velocidade, se movimentando atrás de Falcao García.

Gareth Southgate, por sua vez, não abria mão de suas convicções. Jordan Pickford era o arqueiro, com três zagueiros à sua frente: Harry Maguire, John Stones e Kyle Walker. Ashley Young e Kieran Trippier apareciam como alas, dando mais amplitude ao time com a bola e alinhando-se aos zagueiros sem ela. Pelo setor de meio, Jordan Henderson ficava mais retido atrás, liberando Jesse Lingard e Dele Alli para irem à frente, na criação. Geralmente, eles abriam o jogo aos alas, esperando um cruzamento ou uma jogada lateral. A opção de segundo atacante, mais móvel, era por Raheem Sterling, se mexendo por trás de Harry Kane.

O campinho de Colômbia x Inglaterra (Fifa.com)

O jogo

O último duelo das oitavas era o encontro de duas escolas diferentes: a ginga e malemolência sul-americana contra o pragmatismo inglês. No campo, a partida começou em alta velocidade. A Inglaterra começou dando trabalho, especialmente pelos lados, com a subida de seus alas, Kieran Trippier e Ashley Young. Em disputa pela esquerda, Yerry Mina deu o carrinho e deslizou pelo gramado tocando com o braço na bola. Na cobrança, Young tinha a área abarrotada de gente, mas bateu firme e direto, exigindo boa defesa de Ospina. Apesar disso, os ingleses apostavam no jogo aéreo que, no começo, foi bem suportado por Sánchez e Mina. Na sobra, a estratégia colombiana era ligar o contra-ataque rápido com Cuadrado e Quintero.

Foi em uma descida ao ataque que Lingard recebeu pela direita e abriu o jogo para Trippier. O ala bateu de primeira procurando Kane na segunda trave. Mina vacilou na marcação e o camisa 9 dos Three Lions cabeceou desajeitado, por cima do gol. Nos primeiros 20 minutos, a Colômbia não conseguia se encontrar em campo. Isso porque a defesa inglesa se colocava bem posicionada quando os sul-americanos adentravam o campo de ataque, formando uma linha de cinco na defesa. Com todo mundo no campo defensivo, eram poucos os avanços de Arias e Mojica, fazendo com que Cuadrado e Quintero não conseguissem servir Falcao, isolado na frente e bem coberto pelos defensores. Sem válvulas de escape, a Colômbia não chegava ao ataque. E os europeus, por outro lado, tinham na troca de posição entre Sterling — que se atrapalhava com a bola, Lingard e Alli por trás de Kane o principal recurso de ataque.

Conseguindo bloquear as ações ofensivas dos ingleses — que foram melhores na primeira meia hora de jogo -, os colombianos esfriaram o jogo. Adiantaram a marcação, mas vinham com pouca intensidade à frente, a não ser por dois chutes de longe de Quintero, com direção, mas sem força — encaixados por Pickford. O English Team chegava mais nas bolas paradas, como foi com Trippier. Depois de confusão na montagem da barreira, no entanto o ala bateu para fora. E a Colômbia tinha uma atuação abaixo das anteriores.

Segundo tempo

Na segunda etapa, a Inglaterra seguia a mesma proposta. Saía para o jogo com os zagueiros, criando as jogadas pelas alas. A novidade era que tanto Lingard quanto Sterling tentavam se desprender da marcação para buscar jogo mais atrás. Assim, conseguiram uma falta lateral que originou um escanteio. Young mandou para a área e Carlos Sánchez — de uma Copa lastimável, em seu segundo pênalti cometido — se enroscou com Kane, derrubado na área. O juiz Mark Geiger assinalou. Aos 10 minutos, depois de muita reclamação, Harry Kane posicionou a bola na marca da cal e bateu tirando o peso, no meio do gol. Ospina caiu para o lado. Sexto gol do centroavante inglês em apenas três partidas no mundial.

Então, Pékerman mandou mais um atacante a campo, Carlos Bacca, na vaga do volante Lerma. Mas depois do gol e de toda a pressão envolvida na marcação do pênalti, o jogo ficou tenso e pegado. Ninguém aliviava as divididas mais fortes e o árbitro não tinha controle de nenhuma situação, disparando cartões amarelos para todo lado. Em uma das chegadas dos Three Lions, em que Dele Alli aproveitou cruzamento de Young e mandou sob a baliza de Ospina, os colombianos reclamaram de simulação de outra penalidade.

A tentativa do comandante cafetero era de uma recomposição tática. Bacca e Falcao ficavam à frente, com Cuadrado posicionado à ala, com Arias como volante, e Barrios mais próximo de Quintero no meio. E com a passagem dos minutos o jogo foi se tornando cada vez mais truncado, com a Colômbia forçando jogadas aos seus centroavantes, sem nenhuma efetividade. Então, aos 36 minutos, a Colômbia desperdiçou a oportunidade de levar a partida à prorrogação. Bacca bateu a carteira de Maguire já no campo de ataque e avançou. Falcao García puxou a marcação e abriu espaço para Cuadrado, passando pela direita. Bacca acionou o jogador da Juventus, que bateu de primeira e pegou muito mal na bola. Era uma chance de ouro.

Os colombianos começaram a tentar bolas alçadas em profusão na área, com as passagens de Cuadrado e Arias pelos lados. Mesmo Falcao deixava Bacca isolado à frente e voltava para armar o time junto a Quintero, já desgastado. O camisa 20 saiu, para a entrada de Muriel.

E quando os Cafeteros pareciam sem fôlego, ressuscitaram. a defesa conseguiu afastar a bola e Mateus Uribe, que veio do banco, emendou um chute exuberante do meio da rua. A bola ia violenta para a gaveta de Pickford, que se espatifou para defender com a pontinha dos dedos e mandar para escanteio. Na cobrança para a área, Yerry Mina, pela terceira vez em três jogos da Copa, subiu mais que todo mundo e cabeceou para o chão, vencendo Jordan Pickford e Trippier, que estava na linha para evitar o pior. A Inglaterra recebia a merecida punição por enrolar o jogo e sair com a vitória. Com péssima arbitragem, a Colômbia arrancava trinta minutos de sobrevida. Com a virilha estirada, o defensor da camisa 13 superava a atuação desastrosa da arbitragem.

A bola de Mina para o gol, no fim dos acréscimos (Getty Images)

A prorrogação

Reanimados pelo gol, os Cafeteros iniciaram a prorrogação melhor do que a Inglaterra. Mesmo com uma nova formação em campo, conseguiam manter a bola à frente, criando perigo à defesa do English Team. Os comandados de José Pekerman ganhavam as divididas, com a maioria da torcida a favor. Aos 5 minutos, Mojica, promovido a ala, apareceu bem pela esquerda e bateu rasteiro para a área. Por muito pouco Bacca não alcançou de carrinho. Pickford saiu antes para ficar com a bola.

Aos 7 minutos, provavelmente um lance dos mais polêmicos da partida. Duas bolas estavam em campo e Young cobrou o lateral para Maguire. Falcao roubou a bola do zagueiro e quando dava o passe a Bacca, o juiz parou o jogo. O primeiro tempo era todo dos sul-americanos. Enquanto a Inglaterra errava passes e jogadas simples, a Colômbia ia ganhando as jogadas aéreas. Aos 10, Cuadrado cobrou escanteio na área e Mina e Sánchez se posicionaram para o cabeceio. O zagueiro do Barcelona tinha melhor posição, mas o defensor do Tottenham chegou antes e mandou à direita de Ospina. Três minutos mais tarde, Mojica apareceu bem pela ponta e mandou na cabeça de Falcao. O camisa 9 pegou mascado e desperdiçou uma grande chance. Os Three Lions claramente sentiram o gol, nervosos com a situação.

Na segunda etapa da prorrogação, o cansaço era evidente. A zaga colombiana bloqueou a primeira chance criada por Jamie Vardy, que entrou ao longo do jogo. Danny Rose, outro que veio do campo, tirou o ar de todos os cafeteros. Ele subiu pela esquerda e bateu cruzado, e a bola passou ao lado da trave de Ospina, que não alcançaria.

A Colômbia se defendia como podia, e estava exposta. Primeiro, Trippier foi ao fundo pela direita e lançou Vardy. Ele cruzou rasteiro e Lingard chegava para bater para o gol, mas foi travado por Barrios, em partida monumental. Na sequência, a bola levantada em escanteio chegou à cabeça de Eric Dier. O camisa 4, com liberdade, mandou por cima do gol de Ospina. Mais trocas vieram: Na Colômbia, Cristian Zapata substituiu Arias e, pelos ingleses, saiu Trippier, exausto e com cãimbras, para a vinda de Marcus Rashford. Vinham praticamente para o momento decisivo, porque a partida se encaminhou às cobranças de pênaltis.

Os pênaltis

A Colômbia começou batendo, com o camisa 9 Falcao García. De pé direito ele mandou no meio e superou Pickford, que caiu para o lado. 1 a 0. Então, foi a vez do centroavante inglês, Harry Kane. O jogador do Tottenham bateu rasteirinho no canto direito, sem chances para Ospina, que acertou o lado: 1 a 1. Cuadrado foi o próximo dos Cafeteros. O camisa 11 encheu o pé e mandou no canto de Pickford, marcando o gol: 2 a 1. Pelo time de Southgate, então, veio o jovem Rashford. Ele mandou forte no cantinho de Ospina, para estufar as redes: 2 a 2. Muriel foi o próximo dos comandados de José Pékerman. Ele tirou o peso da bola e só deslocou o goleiro: 3 a 2. Henderson cobrou o terceiro penal da Inglaterra e Ospina voou para intervir espetacularmente. Jogou a pressão para o outro lado. Mas Uribe carimbou o travessão e deixou para que Trippier igualasse a disputa: 3 a 3. Bacca cobrou o último dos cinco pênaltis para a seleção Colombiana e Jordan Pickford defendeu a bola à meia altura. A cobrança final foi de Eric Dier, que fez 4 a 3 e assegurou a vaga da Inglaterra nas quartas de final. Foi a primeira vitória nos pênaltis dos ingleses em Copas do Mundo, depois de três derrotas seguidas — nas semifinais em 1990 para a Alemanha, nas oitavas em 1998 para a Argentina, e nas quartas em 2006 para Portugal.

A defesa derradeira de Jordan Pickford, de 24 anos (Reuters)

O cara da partida

Poderia muito bem ter sido Yerry Mina, que deu tempo a mais para a Colômbia chegar aos pênaltis. Lá, poderia ser Ospina, que salvou uma das cobranças e foi bem em todas as outras. Mas não. Houve Jordan Pickford. O goleiro de 24 contou com a sorte em uma cobrança e defendeu outra no momento em que o time mais precisa dele.

Pickford saltou para defender — e também para comemorar (Getty Images)

O caminho das seleções: a queda e o próximo passo

Colômbia

A estreia dos Cafeteros não foi de bons momentos. Já começou mal no primeiro lance de perigo dos japoneses, quando Carlos Sánchez colocou a mão na bola dentro da área e, além de dar vantagem aos adversários no placar, ainda foi expulso. A Colômbia não conseguiu suportar a intensidade que tentou dar ao jogo e, no fim, levou o gol de Osako, de cabeça, que decretou a derrota na rodada de abertura, por 2 a 1. Portanto, a partida seguinte seria de vida ou morte. Contra os poloneses, quem vencesse o embate eliminaria o adversário. A Colômbia teve uma atuação de gala, regida por James Rodríguez, na vitória por 3 a 0, inapelável. Na última rodada, a tensão tomava conta do estádio, já que a dependência do resultado do jogo entre Japão e Polônia poderia tirar os sul-americanos das oitavas. Para garantir a vaga, a vitória seria importante, e ela veio: com o gol de Yerry Mina, de cabeça. Para as oitavas, o sarrafo subia mais: a Inglaterra pela frente era um desafio diferente dos enfrentados nos primeiros jogos. Na sexta participação em mundiais, tentava repetir sua melhor campanha, quando foi às quartas de final em 2014, no Brasil.

James não pode ajudar: retrata a decepção cafetera depois de muito sofrimento (Getty Images)

Inglaterra

Já antes do sorteio, era possível perceber que a Inglaterra era franca favorita à classificação junto à Bélgica. Com muitos erros na estreia, ainda assim conseguiu superar os tunisianos por 2 a 1, graças ao faro artilheiro de Kane, indo às redes duas vezes. Passado este peso, atropelou o Panamá por 6 a 1, sem problemas. A questão era que faltavam testes de mais peso. Um deles poderia vir na rodada final, quando se disputou (ou não) o primeiro lugar. Tanto belgas quanto ingleses pouparam seus principais jogadores, com os Three Lions levando a pior. Ou nem tanto, já que pararam do lado que, julgavam, teoricamente mais fraco no chaveamento. Tudo isso em busca de uma estrela a mais sob o emblema, já que a única foi no distante ano de 1966.

Aos Three Lions ficou a explosão da comemoração: passaram às quartas — e nos pênaltis (Getty Images)

O embate

A Inglaterra foi melhor em grande parte do jogo. Fez o seu gol e, então, começou a controlar o jogo de outra forma, reduzindo o ritmo para garantir sua vaga no tempo normal. Não contava com o gol de Mina, que levou o jogo à prorrogação. E isso derrubou o time inglês na primeira etapa da prorrogação. Depois, nos 15 minutos finais, os selecionados de Southgate voltaram à carga, mas o empate persistiu. A vitória nos pênaltis não pode esconder as fraquezas do time inglês, que teve pouco repertório contra a Colômbia, a não ser pelas bolas aéreas e por um pênalti achado. A defesa teve problemas mesmo com três zagueiros e a dependência de Harry Kane pode ser boa, ao mesmo tempo em que pode virar uma arma manjada. Segue adiante e enfrenta a Suécia, de um sistema defensivo rígido. Já a Colômbia deixa a Copa de forma honrada. Fez uma boa campanha se classificando em primeiro lugar e lutando muito na partida diante dos ingleses. O time de Pékerman teve o azar de ter um pênalti contra e precisou se controlar para conseguir o gol agônico. Sucumbiu, mas tem bons valores para as próximas Copas. Perdeu muito sem James, mas tem Quintero como carro chefe para o Catar. A saída de Falcao e Cuadrado também é previsível adiante.

Como fica o chaveamento

Os ingleses medem forças com a Suécia, sábado, às 11h (Fifa.com)

Ficha Técnica

Colômbia 1 (3) x (4) 1 Inglaterra

Local: Estádio Spartak, em Moscou
Árbitro: Mark Geiger (EUA)
Gols: Harry Kane (ING); Yerri Mina (COL)
Cartões amarelos: Wilmar Barríos, Santiago Arias, Carlos Sánchez, Falcao García, Carlos Bacca e Juan Cuadrado (COL); Jordan Henderson e Jesse Lingard (ING)

Colômbia: David Ospina; Santiago Arias (Cristián Zapata), Yerri Mina, Davinson Sánchez e Johan Mojica; Wilmar Barríos, Carlos Sánchez (Mateus Uribe) e Jefferson Lerma (Carlos Bacca); Juan Cuadrado, Juan Quintero (Luis Muriel) e Falcao García. Técnico: José Pékerman

Inglaterra: Jordan Pickford; Kyle Walker (Marcus Rashford), John Stones e Harry Maguire; Kieran Trippier, Jesse Lingard, Jordan Henderson e Ashley Young (Danny Rose); Dele Alli (Eric Dier), Raheem Sterling (Jamie Vardy) e Harry Kane. Técnico: Gareth Southgate

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