Messi perde pênalti e é anulado pela Islândia, que arranca empate ao marcar na sua estreia em Copas

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
7 min readJun 16, 2018
(Getty Images)

Não é segredo para ninguém a forma como joga a Islândia. Aplicação defensiva, compactação e entrega são elementos essenciais da construção do jogo da equipe. Se era parte do épico ter superado grandes seleções na campanha da Eurocopa de dois anos atrás, agora, a estreia em Copas do Mundo se mostrava um desafio igualmente difícil. O resultado de 1 a 1 neste sábado, no Estádio Spartak, em Moscou, marca a data do primeiro gol dos vikings em Copas. Mais que isso, é uma demonstração de que não vai ser fácil para ninguém no grupo, nem mesmo para a Argentina de Messi. O camisa 10 foi anulado pela muralha islandesa, seja pela marcação ou pelo goleiro, responsável por negar a virada à Albiceleste da marca da cal.

Os times

Jorge Sampaoli tinha algumas indefinições para a escalação da estreia. Priorizou a experiência de Willy Caballero no gol, já que Sergio Romero foi cortado por lesão. À sua frente, à revelia das deficiências defensivas, era acompanhado de uma zaga vinda de Manchester — um do City, outro do United — Marcos Rojo e Nicolás Otamendi no miolo, e Eduardo Salvio e Nicolás Tagliafico pelas laterais. No meio, a vaga de volante de Biglia era certa. A dúvida era de quem o acompanhava no balanço defensivo: pesou a experiência de Javier Mascherano, mesmo atuando na China. A opção por Maximiliano Meza na linha de meias era mais cautelosa na recomposição, já que daí em diante era criatividade e ofensividade pura: Ángel Di Maria por um lado, Lionel Messi centralizado, abastecendo Kun Agüero.

Em sua primeira Copa do Mundo, na Islândia, a qualidade coletiva e a resistência como grupo que determinam a montagem do elenco, como foi na Eurocopa, onde foi longe. Também considerando a relevância do adversário, a formação vinha com duas linhas, quatro na zaga, cinco no meio. No gol, Hannes Halldórson. Kári Árnasson e Ragnar Sigurdsson firmes pelo meio da defesa, acompanhados do veloz Birkir Már Saevarsson pela direita, e Hördur Magnússon, mais físico, pela esquerda. Entretanto, é no meio que estão as principais peças dos islandeses. Aron Gunnarsson é quem carrega o piano na defesa. Emil Hallfredson, de bom passe, também apoia a defesa, junto com os outros meias, fortes pelos extremos, Johann Gudmundsson e Birkir Bjarnason, que dão liberdade ao craque do time pelo meio: Gylfi Sigurdsson. Mais à frente, isolado, Alfred Finnbogason, substituto do herói do time na Euro, Kolbeinn Sigthórsson.

(Fifa.com)

O jogo

Seria interessante observar o encontro das propostas de Argentinos e Islandeses. O domínio se apresentava aos sul-americanos, com qualidade do meio para frente, encarando a defesa sólida dos Europeus. No sentido oposto, os contra-ataques eram um risco, uma vez que a defesa dos comandados de Jorge Sampaoli tem sérios problemas, apesar do suporte dado por Mascherano. E, ainda tendo um time de estatura bem mais baixa, a Argentina ameaçou primeiro com a bola parada. Em cruzamento de Messi, Tagliafico estava dentro da área para dar uma casquinha e mandar raspando a trave direita. Finnbogádson respondeu arriscando o chute já dentro da área e mandando por cima.

A insegurança defensiva da Argentina já dava seus sinais quando os Vikings chegavam com mais força. Foi assim com um erro primário na saída de bola da defesa, aos 9. Rojo recuou para Caballero na fogueira, e o goleiro precisou sair de carrinho para evitar um arremate. Bjarnason pegou a sobra, mas bateu mal e não aproveitou. Vale ressaltar: o jogo era franco. Com mais volume de jogo e a posse de bola, a Argentina ameaçou Halldórson em um chute de fora, em jogada clássica de Messi, cortando para o meio e batendo. O goleiro, apesar disso, se saiu bem. Entretanto, com as linhas islandesas montadas, a Albiceleste conseguiu adentrar a área adversária. Aos 18, Rojo tentou o chute de fora da área e Agüero dominou como se fosse um passe. De costas para a defesa, conseguiu virar, abrir espaço e fuzilar a meta de perna esquerda. O placar estava aberto. E diante de um adversário fechado, os chutes de longe eram uma opção: como tentou Messi, para boa defesa do arqueiro da Islândia.

A vantagem, entretanto, iria por água abaixo com mais uma das recorrentes panes defensivas do time de Sampaoli. A Islândia subiu ao ataque em superioridade numérica e cruzou uma série de bolas rasteiras à área argentina. A defesa, bagunçada, não impediu o chute cruzado de Sigurdsson. Caballero deu rebote e Finnbogason aproveitou. Foi um marco histórico: o primeiro gol do país gelado em Copas do Mundo. Apesar de amplo domínio da posse de bola, as chances argentinas batiam no muro Viking, e eram um tanto descoordenadas, centralizando suas esperanças no seu camisa 10. Era ferozmente marcado pelo sistema defensivo europeu, com dois ou três na cobertura.

Se resguardando defensivamente, a Islândia usava os laterais longos e as subidas de Tagliafico para explorar o lado direito do ataque. Em uma das chegadas ao ataque, os argentinos reclamaram bola desviada pelo braço do lateral Saevarsson dentro da área. O juiz nada marcou. E antes do fim da primeira etapa, os islandeses ainda ameaçaram mais duas vezes: Na primeira, Caballero caiu bem para espalmar e afastar o perigo; na segunda, Sigurdosson arriscou o chute sem direção de fora da área. Páreo duríssimo, e diversas correções para Sampaoli fazer no intervalo, frente a um adversário que se apresentou bem no ataque sem abrir mão da marcação fortíssima.

Esse quadro continuou no começo do segundo tempo. Sempre com duas linhas extremamente fechadas praticamente dentro da área, a aposta dos islandeses era no comprometimento defensivo, enquanto a Argentina tentava driblar a desconfiança e o nervosismo rondando a área com passes curtos e avançando suas linhas de marcação. Di María começou a chamar mais o jogo para si, e Sampaoli resolveu requalificar a saída de bola tirando Biglia e mandando a campo Éver Banega. No jogo de paciência, os europeus iam sendo encurralados nos primeiros 15 minutos da segunda etapa. Até que, aos 17, messi lançou Meza na área e o meia foi calçado. Pênalti: Bola debaixo do braço de Messi. Cobrou à meia altura no canto esquerdo de Halldórson, que caiu muito bem para fazer a defesa. Mais um ingrediente dramático à estreia argentina.

Heimir Hállgrimsson alterou o posicionamento de sua equipe para evitar as subidas dos laterais. Também deu novo fôlego ao seu meio-campo colocando Rurik Gíslason na vaga de Gudmundsson. Tudo porque a Argentina se lançava à frente: os laterais apareciam como pontas, todos do ataque apareciam à frente, com apenas os dois zagueiros na sobra e Mascherano distribuindo bolas no entorno do círculo central. Já passando dos 20 minutos, Sampaoli tirou o inoperante Di María, dando espaço a Cristian Pavón, destaque do Boca Juniors.

A Argentina ia centralizando ainda mais suas ações nos pés de Messi, pelo meio, justamente onde a marcação era mais forte. Com cinco vezes mais passes trocados e a posse de bola acima dos 70% para a Albiceleste. Aos 37, uma das poucas oportunidades que teve de chutar de fora da área. Em um lance semelhante ao gol marcado diante da Argélia em 2014. Desta vez, porém, a bola passou ao lado do poste islandês. Perto dos 40 minutos, Sampaoli deu mais uma cartada: tirou Meza de campo e escolheu Gonzalo Higuaín para entrar. Com os islandeses em uma exigência física colossal, até mesmo o autor do gol foi substituído.

Já aos 41, foi Pavón que clareou e bateu, quase no meio do gol, e o arqueiro islandês ficou com a bola. Nos últimos lances, a Albiceleste toda procurava seu camisa dez. Aos 44 recebeu em boas condições dentro da área mas o zagueiro, como um leão, antecipou. Depois, Messi, sempre sem espaço, arriscou de perna direita e mandou por cima. E no último lance sofreu falta, um tanto distante do gol. Mandou na barreira, o que evidencia a atuação apagada da Argentina diante da solidez defensiva dos adversários.

O(s) cara(s) da partida

Os caras. Diante da apresentação defensivamente irretocável da Islândia, se destacam alguns jogadores. Emil Halfredsson foi um leão na marcação, perseguindo Lionel Messi como uma sombra. E apesar de Birkir Bjarnason merecer destaque por marcar o primeiro gol da pequena nação europeia em copas, o principal nome foi o goleiro Hannes Halldórson. Irrepreensível, segurou os ataques argentinos — isso quando passaram pela muralha Viking.

Como fica

O Grupo D promete ser enrolado e a partida de hoje foi prova disso. Em aberto a todos os candidatos, as vagas devem ser definidas em detalhes, como no confronto direto, ou mesmo no saldo de gols. Argentina e Islândia precisam esperar o desfecho dos outros membros do grupo, mas o resultado tem sabor diferente. À Albiceleste, denuncia uma inoperância ofensiva e uma defesa completamente instável. À Islândia, é um mérito ao trabalho tático: conseguiu anular as armas adversárias e ameaçar. Na próxima quinta, dia 21, a Argentina tem a Croácia pela frente, em Nizhny Novogorod, às 15h. No dia seguinte, às 15h, a Islândia vai a Volgogrado jogar contra a Nigéria.

(Globoesporte.com)

Ficha técnica

Argentina 1 x 1 Islândia

Local: Estádio Spartak Moscou.

Árbitro: Szymon Marciniak (POL).

Gols: Kun Agüero, aos 19’/1T (ARG); Alfred Finnbogason, aos 23’/1T (ISL).

Cartões amarelos:

Argentina: Willy Caballero; Eduardo Salvio, Nicolás Otamendi, Marcos Rojo, Nicolas Tagliafico; Javier Mascherano, Lucas Biglia (Éver Banega), Maximiliano Meza (Gonzalo Higuaín), Ángel Di María (Cristian Pavón), Lionel Messi; Sergio Agüero.

Islândia: Hannes Halldórson; Birkir Már Saevarsson, Kári Árnasson, Ragnar Sigurdsson e Hördur Magnússon; Aron Gunnarsson (Ari Skúlason), Emil Hallfredson, Johann Gudmundsson (Rurik Gíslason), Birkir Bjarnason e Gilfy Sigurdsson; Alfred Finnbogason (Bjorn Sigurdarson).

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