No primeiro teste para russos e uruguaios, a Celeste foi superior e avançou como primeira de seu grupo

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
7 min readJun 25, 2018
El Pistolero marcou novamente para levar o Paisito às oitavas na primeira posição do Grupo A

No Grupo A, Uruguai e Rússia pouco haviam sido testados. Nas vitórias contra Arábia Saudita e Egito, os comandados por Tabárez sofreram um tanto, enquanto os selecionados de Cherchesov passaram por cima. Então, a última rodada reservava a decisão do primeiro lugar, com o embate direto como o primeiro teste de nível mais alto para ambas as equipes, com muitas modificações. A vitória uruguaia por 3 a 0 sobre os anfitriões veio com facilidade, como, aliás, não havia acontecido nesta Copa. Já os russos sucumbiram às próprias debilidades técnicas, criando poucas ameaças. Na Arena Samara, a Celeste Olímpica foi superior e sai como líder da chave, deixando a Rússia em segundo. Agora, os dois esperam a resolução do Grupo B — com duas vagas em disputa entre Portugal, Espanha e Irã.

Os times

O comandante do Uruguai, Óscar Tabárez, poupou o zagueiro José María Giménez, promovendo Sebastian Coates a titular. Guillermo Varela também perdeu a vaga na lateral esquerda, onde entrou Diego Laxalt, meia mais ofensivo, apontando a utilização dos espaços às costas da defesa russa. Do outro lado, na defesa, esteve Martín Cáceres — que nos dois primeiros jogos esteve na lateral oposta. No meio campo, Cristian “Cebolla” Rodríguez cedeu espaço a Lucas Torreira pelo meio. E, apesar de o campinho da Fifa indicar um esquema com três zagueiros, o que acontecia era: uma linha de quatro atrás, com Nahitán Nandez, Matias Vecino e Lucas Torreira pelo meio, com o dever de reforçar a faixa central, dando mais liberdade a Rodrigo Bentancur seguir à meia, apoiando a dupla Edinson Cavani e Luis Suárez.

Na Rússia, Cherchesov preferiu poupar algumas peças. Yury Zhirkov, que acusou lesão, ficou de fora. Mário Fernandes e Aleksandr Golovin, dois dos principais valores dos soviéticos nas duas primeiras partidas, também não começaram a partida. Com a saída dos destaques, os anfitriões perderam demais o meio de campo, a qualidade da saída pelas alas e, consequentemente, cederam espaços bem aproveitados ao Uruguai.

O campinho de Uruguai x Rússia (Fifa.com)

O jogo

A última rodada do Grupo A apresentaria cenários diferentes. Tanto a Celeste quanto os Soviéticos poderiam se testar em ocasiões que não aconteceram nos jogos anteriores. O Uruguai precisaria lidar com um time mais qualificado que Arábia Saudita e Egito, empolgado pelas boas atuações e pela força da torcida. Já a Rússia colocaria em questão a produtividade do seu ataque contra uma defesa de primeiro nível, sendo pressionado pela dupla infernal Cavani e Suárez também atrás, com defensores relativamente lentos no combate.

Como é praxe nesta Copa, um dos times começa em cima, oferecendo perigo nos primeiros minutos. O Uruguai cumpriu este papel, quando Godín, logo no primeiro girar do ponteiro, tentou um lançamento à frente, procurando Cavani. A sobra ficou com Vecino, na entrada da área. O volante arriscou o chute, mandando à direita de Akinfeev. A Rússia esbarrava nas deficiências técnicas postas à prova pela primeira vez, tanto que o gol sul-americano começou na jogada anterior.

A Rússia tocava bola, até que, em um passe mal feito, Luis Suárez arrancou pela direita, muito mais veloz que seu marcador. Perto da área, tentou encontrar Cavani pelo meio com um passe de trivela. A zaga conseguiu o desvio, mas só parou a chegada de Bentancur com falta. Na entrada da área. Suárez não hesitou e ficou com a bola. Da meia-lua, com muita gente na barreira e pouco espaço para mandar por cima, El Pistolero foi inteligente: bateu firme, rasteiro, no canto de Akinfeev. Com a visão encoberta, o camisa 1 demorou a cair e viu a bola morrer na bochecha da rede. O placar estava aberto, e o camisa 9 marcava o seu segundo no mundial.

Depois do baque inicial, a Rússia conseguiu chegar duas vezes com perigo, mas sem marcar. Primeiro, Dzyuba recebeu o lançamento de costas, na entrada da área e tocou de cabeça, para a meia-lua. O canhoto Cheryshev apareceu de trás entre os dois zagueiros e bateu de perna direita. De manchete, Muslera estava bem colocado para intervir. Depois, o mesmo camisa 6 desceu pela esquerda e cruzou para a área, conseguindo o escanteio. Na cobrança, encontrou Dzyuba, e o camisa 22 subiu mais que Torreira. A cabeçada, porém, foi muito para baixo. A bola quicou no gramado e subiu, por cima da baliza.

Então, aos 22, os comandados de Tabárez chegaram ao segundo. Em mais um cruzamento para a área, a defesa conseguiu cortar, Pela esquerda, Laxalt pegou a sobra e arriscou o chute de longe — mas o que mudou a trajetória da bola mesmo foi o desvio de Cheryshev, no meio do caminho, tirando qualquer chance de defesa de Akinfeev. O esquema tático uruguaio bloqueava as armas que funcionavam nos jogos anteriores ao time do técnico Cherchesov, e a imposição vinha nas chegadas ao ataque, com o Uruguai quase chegando ao terceiro ainda na primeira etapa. Em mais uma saída de bola errada da Rússia, Bentancur foi à frente, tabelou com Suárez, e bateu de perna direita. Akinfeev caiu, e o desvio ia sobrando nos pés de Cavani. Antes que o camisa 21 conseguisse bater, Zobnin chegou e fez o corte providencial.

A situação russa realmente ficou complicada aos anfitriões depois que ficaram com um a menos. Igor Smolnikov, substituto de Mário Fernandes, levou dois amarelos em um intervalo de nove minutos: Primeiro fez uma falta dura no campo de ataque e foi advertido. Então, quando precisou apelar para parar Laxalt com uma tesoura, era tarde. Segunda punição e o lateral para o chuveiro aos 36. Chechesov promoveu a entrada de seu lateral direito titular, optando pela saída de Cheryshev, em um dia não-tão-iluminado quanto os outros.

Vale destacar a mudança do esquema de Tabárez. Com Laxalt arisco pelos lados, Vecino, Nandez e Torreira na proteção, partindo adiante para a saída de bola, quem tinha mais liberdade para aparecer atrás dos atacantes para armar o jogo. Suárez e Cavani alternavam posições a todo momento para confudir a marcação, abrindo espaço para os avanços de quem vinha de trás.

No segundo tempo, Cherchesov arriscou. Tirou o volante Gazinskyi e Alexey Miranchuk, colocando o meia Daler Kuziaev e o camisa 10, Fedor Smolov, poupado com cartão amarelo. O jogo ficou travado, com a Rússia afobada para chegar à frente e o Uruguai parando de atacar com tanta intensidade. Tabárez escolheu renovar a criatividade do time, colocando Georgian De Arrascaeta na vaga de Bentancur. Com as alterações, mesmo com um jogador a menos, a Rússia foi à frente. Liberou a subida de Mário Fernandes, com Smolov e Kuziaev chegando também. Porém, a única vez em que chegou com mais perigo foi justamente num erro sul-americano. Muslera saiu jogando errado, e entregou a bola na entrada da área. A Rússia trocou a bola até ela parar nos pés de Dzyuba. O grandalhão cortou para o meio, fez

Tudo bem, o Uruguai perdeu chances de aumentar o placar. Aos 19, por exemplo: Nández arrancou pelo meio e acionou Cavani. O camisa 21 girou, mas demorou a concluir, e permitiu que Kuziaev o desarmasse. A pouca efetividade se mostrava mais uma vez, quando Cavani, buscando desencantar, partiu pela esquerda e abriu para o chute, mas mandou longe do gol. A Celeste perdia chance atrás de chance. Aos 34, Kutepov tentou a inversão e entregou nos pés de Cavani. Com a defesa desmontada, ele acionou Suárez pelo lado esquerdo. O camisa 9 poderia ter batido, mas preferiu ser solidário. Só que exagerou na força e viu o cruzamento sair forte demais.

A pressão uruguaia seguiu, sem eficiência, em parte também pela aparição de Akinfeev. Cristian Rodríguez, substituto de Nández, tentou a primeira chicotada de fora da área aos 36, com o camisa 1 russo pego de surpresa, chegando a tempo de intervir. Depois, aos 44, quase um repeteco, com uma bola bem mais complicada, assoviando a gaveta: Akinfeev voou de mão trocada e espalmou. Cavani também teria seu tento negado pelo bloqueio da zaga depois de grande jogada individual, mas iria às redes pela primeira vez no mundial aos 44: Em cobrança de escanteio, Godín subiu no quinto andar, superando a marcação de Dzyuba. O cabeceio firme foi parado por Akinfeev de forma milagrosa, mas Cavani estava no lugar certo e se jogou na pequena área para mandar para as redes.

O cara da partida

Luis Suárez. Deixou o seu novamente e aparentou estar mais solto em campo com a presença de Bentancur no apoio pelo meio. ampliou sua artilharia pela celeste e poderia ter feito mais não fosse o companheirismo ao tentar a assistência para Cavani quando poderia ter estufado as redes. Agora é pra valer.

Como fica

O Uruguai fica com 100% de aproveitamento, derrotando todos os adversários sem sofrer sequer um gol. Ao contrário da Rússia, não jogou bem os dois primeiros jogos, mas conseguiu os três pontos, e no confronto direto, não teve problemas. A Rússia, por sua vez, não apresentou tantas credenciais contra uma defesa e um ataque fortíssimos como os dos Charruas. Agora é saber quem vem pela frente nas oitavas.

O grupo A, que já tinha os classificados, hoje decidiu as posições (Globoesporte.com)

Ficha técnica

Uruguai 3×0 Rússia

Local: Arena Samara, em Samara (Rússia)
Árbitro: Malang Diedhiou (Senegal)
Gols: Suárez aos 10’/2T, Laxalt aos 23’/2T, Cavani aos 45’/2T (Uruguai)
Cartões amarelos: Smolnikov, Gazisnky (Rússia), Betancur (Uruguai)
Cartões vermelhos: Smolnikov (Rússia)

Uruguai

Fernando Muslera; Martín Cáceres, Sebastian Coates, Diego Godín e Diego Laxalt; Nahitan Nández (Criatian Rodríguez aos 28’/2T), Lucas Torreira, Matías Vecino e Rodrigo Betancur (Giorgian De Arrascaeta aos 18’/2T); Edinson Cavani (Maxi Gómez aos 47’/2T) e Luis Suárez. Técnico: Óscar Tabárez

Rússia

Igor Akinfeev; Igor Smolnikov, Ilya Kutepov, Sergei Ignashevich e Fedor Kudryashov; Roman Zobnin e Yuri Gazinsky (Daler Kuzyaev, intervalo); Aleksandr Samedov, Alexey Miranchuk (Fedor Smolov aos 15’/2T) e Denis Cheryshev (Mário Fernandes aos 38’/1T); Artem Dzyuba. Técnico: Stanislav Cherchesov

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