No retorno à Copa após 36 anos, o Peru jogou mais que a Dinamarca, mas saiu derrotado

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
5 min readJun 17, 2018
(Getty Images)

Eram 36 anos de espera. Talvez por isso, a ansiedade tenha atrapalhado o retorno do Peru a uma Copa do Mundo. Em Saransk, foi a Dinamarca que concretizou uma de suas chances para sair com um 1 a 0. O time se instabilizou emocionalmente, mas não é para tanto. Apesar de ver a boa sequência invicta ser quebrada, o time de Gareca se apresentou bem, foi incisivo, mas faltou concluir bem as oportunidades. O jogo não foi de equipes tão distantes, mas pesa, para os sul-americanos, ter de fazer mais para superar Austrália e, principalmente, a França.

Os times

Era 1982. Na última Copa em que o Peru esteve, foi o último colocado do seu grupo, atrás de Polônia, Itália e Camarões. Desde lá, um hiato de melancolia. Então, vieram as Eliminatórias para a Copa da Rússia. Depois de uma campanha em que chegou aos poucos, classificou-se já na última rodada, em um empate cardíaco com a Colômbia — com aquela falta letal de Paolo Guerrero para o estádio desabar de emoção. Na repescagem, segurou o 0 a 0 em Wellington e bateu a Nova Zelândia por 2 a 0 em casa. Assim, carimbou o passaporte como a última das seleções a se classificar ao mundial.

Desde a chegada de Ricardo Gareca em 2015, o time ganhou em consistência. Conseguiu mesclar os bons valores e trazer outras opções ao elenco. E ainda que a defesa fosse uma montanha-russa, o ataque dava conta do recado. Assim, com menos dependência dos astros, os Incas melhoraram. O clássico 4–2–3–1 vinha sendo adaptado. E assim foi na estreia peruana. Pedro Gallese oscilava, mas era, sobretudo, a melhor opção ao gol. Ambos os laterais de bons predicados ofensivos, Luis Advíncula e Miguel Trauco, avançaram com qualidade à frente, sustentados por Christian Ramos e o experiente Alberto Rodríguez. Os volantes empenhados, Renato Tapia e Yoshimar Yotún, apoiavam a criação oferecida por Edison Flores, André Carrillo e Christian Cueva, com Jeferson Farfán na posição que seria de Guerrero — no banco.

A Dinamarca, por sua vez, esteve na Copa da África, mas foi mal no ciclo seguinte e não chegou a 2014, em segundo em um grupo complicado, mas sem pontos para chegar à repescagem naquela oportunidade. Nas Eliminatórias européias ficou atrás da Polônia no seu grupo, o que encaminhou a necessidade da repescagem. A Irlanda não ofereceu tanta resistência assim, com um empate sem gols em Copenhague, e Christian Eriksen chamando a responsabilidade e virando o jogo da volta com três gols dos cinco anotados pelos dinamarqueses.

Treinados por Age Hareide, os dinamarqueses são uma engrenagem que gira em torno de Christian Eriksen. Aquém do craque, Kasper Schmeichel vem tentando mostrar seu valor à meta. Henrik Dalsgaard e Jens Stryger Larsen são dois laterais mais defensivos, amparados pela certeza de Simon Kjaer e a ascensão de Andreas Christensen na defesa. William Kvist é o homem de confiança, veterano, na contenção, ao lado de Thomas Delaney, em franca evolução, tanto na carreira quanto no próprio jogo. No ataque, Yussuf Poulsen oferece força nos avanços de um lado, com a capacidade de drible de Pione Sisto pela outra ponta. O preferido à frente foi Nicolai Jorgensen. A velocidade poderia ser uma válvula de escape, deixando o pensamento ao meia-armador.

(Fifa.com)

O jogo

Agônico, o Peru começou em cima. Deixou a defesa da Dinamarca tonta, vista a desordem que se apresentava, uma boa oportunidade aos Incas. Os comandados de Gareca se lançavam ao ataque com lucidez, ganhando as divididas e retomando a bola. O único pecado era a afobação e a tomada de decisões equivocadas, o que se provaria determinante mais adiante. Chegou primeiro aos 12, Com Carrillo arrastando os defensores pela direita. Cortou para o meio e arriscou o arremate com algum perigo.

Mas nenhum fôlego suporta o ritmo acelerado por tanto tempo. Dessa forma, o Peru caiu de produção, com a Dinamarca tomando conta da bola e deixando a partida parelha. A pressa se reduziu assim que a ansiedade passou, e a procura por espaços era mais visível. O Peru estava melhor, apesar de as falhas técnicas impedirem a criação de chances mais claras ao longo do primeiro tempo.

Já quase na saída para o intervalo, o árbitro de vídeo reapareceu — depois de ter colaborado na decisão de um lance no França x Austrália, pela manhã. O lance específico aconteceu com Cueva. Invadindo a área, ele mudou de direção e o zagueiro não acompanhou, dando o rapa. O juiz, a princípio, não marcou. Mas com o apoio do vídeo tudo ficou mais fácil. A expectativa pelo gol, podendo soltar o grito da garganta, não veio. Ao menos nesta rodada. Cueva cobrou muito mal, mandando por cima, longe do gol.

Na segunda etapa, quem abriu o placar foi a Dinamarca. No contra-ataque, Sisto acionou Eriksen, que levou pelo meio e se livrou de alguns defensores antes de encontrar Poulsen pela esquerda. O ponta esperou a saída do goleiro e tocou na saída: 1 a 0. Com isso, os comandados de Gareca se mandaram à frente, mais que antes. Guerrero foi para o jogo e na primeira oportunidade teve presença em um lance de cabeça. Na jogada seguinte, de costas para o gol, mandou de calcanhar e olhou sua bola passar raspando a trave. Farfán parou em Schmeichel, e os peruanos desperdiçaram outras chances, tomados pelo nervosismo. Não conseguiram o gol, e foram punidos pela pouca eficiência. Com os incas expostos, a principal estocada dinamarquesa esteve nos pés de Eriksen, que recebeu do lado esquerdo e bateu, no peito de Gallese. Ficou por isso.

O cara da partida

Christian Eriksen. No meio da correria peruana, conseguiu cadenciar o ritmo e conduzir sua equipe à frente. Foi dele a assistência para o gol da partida, em um duelo fundamental à Dinamarca em uma competição de tiro curto, de apenas três partidas na primeira fase.

Como fica

Era um confronto direto. O Peru sai perdendo, e na próxima rodada, na quinta, dia 21, encara a França em Ecaterimburgo, às 12h. No mesmo dia, às 9h, a Austrália é a adversária do time de Eriksen, em Samara. Com as vitórias, a França assume a ponta pelo saldo de gols, com a mesma pontuação da Dinamarca.

(Globoesporte.com)

Ficha técnica

Peru 0x1 Dinamarca

Estádio: Arena da Mordóvia, em Saranks (RUS)

Árbitro: Baraky Gassama (GAM)

Gols: Yussuf Pulsen aos 14’/2T (Dinamarca)

Cartões amarelos: Tapia (Peru)

Cartões vermelhos: nenhum

Peru

Pedro Gallese; Luis Advíncula, Christian Ramos, Alberto Rodríguez e Miguel Trauco; Renato Tapia (Pedro Aquino aos 42’/2T) e Yoshimar Yotún; André Carrillo, Edison Flores (Paolo Guerrero aos 18’/2T) e Christian Cueva; Jefferson Farfán (Raúl Ruidiaz aos 40’/2T). Técnico: Ricardo Gareca

Dinamarca

Kasper Schmeichel; Henrik Dalsgaard, Simon Kjaer, Andreas Christensen (Zanka aos 36’/2T) e Jens Larsen; William Kvist e Thomas Delaney; Yussuf Poulsen, Christian Eriksen e Pione Sisto (Martin Braithwaite aos 22’/2T); Nicolai Jorgensen. Técnico: Age Hareide

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