Portugal suou a camisa: empatou com um Irã valente e pega o Uruguai nas oitavas

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
7 min readJun 25, 2018
Quaresma ao estilo Quaresma: A trivela encontrou as redes mais uma vez e salvou Portugal (Getty Images)

Não teve vida fácil. Portugal buscou a classificação, mas precisou suar a camisa, em uma partida intensa, sofrendo muitos riscos. O Irã deu muito trabalho, teve um desempenho superior ao que havia apresentado nos jogos anteriores, conseguindo se defender e anular as armas dos selecionados de Fernando Santos ao mesmo tempo em que deu um aperto na defesa portuguesa. A tensão, justificável, tomou conta do jogo no final: Cristiano Ronaldo não teve uma atuação das melhores. Perdeu pênalti, e o Team Melli, sustentado pela solidez defensiva, quase alcançou a classificação — que, se viesse, teria seus méritos. Os asiáticos fizeram uma campanha para se orgulhar, mas são os europeus que avançam às oitavas, salvos pela trivela mágica de Quaresma. Com pontos a se preocupar, passam em segundo, encaram o Uruguai no próximo sábado.

Os times

Fernando Santos não mexeu em seu sistema defensivo, mas nos outros setores, sim. Manteve Rui Patrício no gol, com Raphael Guerreiro e Cédric pelas laterais, com José Fonte e Pepe no miolo. Já no meio, Adrién Silva ganhou a vaga como volante ao lado de William Carvalho. João Mario continuou como meia, enquanto Bernardo Silva perdeu espaço para Ricardo Quaresma. Gonçalo Guedes, que não justificou a presença entre os titulares nas duas partidas anteriores, foi substituído por André Silva, acompanhando Cristiano Ronaldo.

Já o Irã, precisando da vitória para avançar, se fechava para partir nos contra-ataques. Em relação à derrota contra a Espanha, a troca de apenas um jogador: Karim Ansarifard saiu, substituído por Alireza Jahanbakhsh. A prioridade defensiva era a mesma, com a linha de cinco defensores atrás, e uma de quatro para tentar bloquear as ações ofensivas da Seleção das Quinas, com só Sardar Azmoun à frente.

O campinho de Portugal x Irã (Fifa.com)

O jogo

Se no papel a história era uma, no campo, era outra. Ronaldo e Quaresma abriam pelas pontas, com João Mário centralizado na criação e André Silva como centroavante. Foi por lá que o camisa 7 começou ameaçando. João Mário deu um belo passe de chaleira por entre os marcadores e Cristiano se infiltrou, batendo em cima de Beiranvand. O goleiro, aliás, discutiu com o próprio companheiro, Ezatolahi, dizendo que a bola era dele em lance que William mandou para a área e o volante rebateu. Aos 11, o arqueiro foi mais uma vez protagonista. Quaresma apareceu pela direita e cruzou para a área, o camisa 1 saiu do gol, mas não achou nada. A sorte é que a bola rondando a meta não foi concluída por ninguém dos europeus.

Então, o Irã conseguiu ajustar a marcação, ao mesmo tempo em que faltava criatividade ao setor ofensivo de Portugal. Todo no campo de ataque, o time de Fernando Santos procurava Cristiano a todo momento, mas o astro estava sempre bem marcado. Na defesa, os portugueses vacilaram por algumas vezes, principalmente cedendo bolas paradas que os iranianos não conseguiam aproveitar. Quando Azmoun deu um belo passe pelo meio e a marcação não chegaria a tempo de impedir o arremate de Jahanbakhsh, mas Rui Patrício saiu para evitar o perigo. Depois, Jahanbakhsh conseguiu mandar para a área, mas Ezatolahi cabeceou sem força no centro do gol, para defesa segura do guarda-redes recém contratado pelo Wolverhampton.

Faltava precisão nas chances criadas pelas duas equipes. Portugal mantinha amplo domínio da posse de bola, enquanto o Irã recompunha sua defesa muito rapidamente. Os volantes e a defesa de Fernando Santos, entretanto, cometiam algumas falhas, cedendo chances aos asiáticos no contra-ataque. E o jogo não ia além de ser morno. Até que Ricardo Quaresma apareceu. Como de costume, com sua especialidade. O camisa 20 avançou pela direita e acionou Adrién Silva. A devolução de primeira, de calcanhar, quebrou a marcação, mas o mais bonito veio depois: A trivela, de perna direita, acertando o ângulo do goleiro Beiranvand. Inapelável. Uma bola daquelas de cinema para fechar os primeiros 45 minutos.

E o segundo tempo foi bem mais animado. Logo aos 5 minutos, o VAR entrou em ação. Cristiano Ronaldo recebeu pela esquerda e cortou para o meio para bater. Pressionado, caiu na área. O juiz reviu o lance, interpretativo, e marcou. O camisa 7 buscou o canto esquerdo de Beiranvand, mas bateu à meia altura, sem tanta força. Assim, o goleiro do Team Melli se jogou para ficar com a bola em dois tempos, negando o quinto tento, que faria Cristiano Ronaldo igualar Harry Kane, da Inglaterra, na artilharia da Copa.

A defesa do goleiro iraniano incendiou a seleção de Carlos Queiroz. Indignados com a marcação da penalidade, os jogadores pressionaram, chegando forte na marcação e tornando a marcação mais agressiva. Uma tensão que não existia, ou ao menos não era tão intensa, tomou conta dos lances mais corriqueiros. Por precaução Milad Mohammadi substituiu o capitão Ehsan Haji Safi, amarelado. Todos exaltados, reclamando, questionando o tempo de jogo parado. Quaresma tomou e deu no meio. E portugal tentava: Cristiano tinha um muro pela frente e, mesmo assim, arriscou a batida, à esquerda do goleiro. Então Quaresma, autor da pintura que mudou o placar, também deixou o campo, para o retorno de Bernardo Silva.

Com o relógio jogando contra, os iranianos sabiam: só a vitória importava. Então, se lançaram ao ataque. Carlos Queiroz fez sua mudança. Tirou Jahanbakhsh para dar espaço ao centroavante Saman Ghoddos. E o Irã apertava, percebendo os espaços cedidos pelo sistema defensivo ibérico. Foi justamente do camisa 14 um chute da meia lua, rasteiro, sem tanta força, mas que passou perto, assustando Rui Patrício.

Aos 37, os fiscais do VAR assustaram os portugueses. A assistência chamou o juiz para conferir uma possível expulsão de Cristiano Ronaldo. O movimento de cotovelada lhe rendeu apenas o amarelo, o que o faz ir pendurado às oitavas. E mais tarde, quando a pressão iraniana em busca do empate, a assistência de vídeo foi requisitada novamente. Em cruzamento para a área, Azmoun cabeceou no braço de Cédric, em mais um lance interpretativo. O pênalti foi marcado, e Ansarifard concluiu, para o êxtase da maioria asiática no estádio. Tirando a primeira posição do Grupo de Portugal, uma batida na gaveta de Rui Patrício. No quarto minuto dos acréscimos, o Irã quase conseguiu a virada que desclassificaria os europeus. Depois de um lançamento longo vindo da defesa, Ghoddos arriscou o chute da entrada da área. Com o desvio, a bola sobrou para Taremi, que teve espaço, mas bateu na rede pelo lado de fora.

O Irã fez uma boa campanha; poderia ter passado de fase se estivesse em outro grupo (Getty Images)

O cara da partida

Ricardo Quaresma. No aperto português para a classificação, o Irã foi perigoso. Ameaçou Rui Patrício, conseguiu o empate, defendeu-se bem diante da passividade portuguesa e se adiantou em contra-ataque. Aí, depois de uma primeira etapa morna, o rei da trivela usou sua especialidade para assinalar o primeiro gol da Seleção das Quinas sem ser de Cristiano Ronaldo. Um golaço digno de nota.

Como fica

Da barca dos desclassificados, o Irã sai mais frustrado que o próprio Marrocos, porque perde a vaga contra a inconsistência do time português e volta para casa com uma campanha honrosa. Com a vitória portuguesa e o empate espanhol, é Fúria que avança em primeiro, empatada com a Seleção das Quinas, com 5 pontos, com o mesmo número saldo mas à frente em gols marcados. Ambas as seleções tem com o que se preocupar: os comandados de Fernando Santos variam, não tem atuações consistentes na fase de grupos, assim como os espanhóis, que tem um plano de jogo em que falta objetividade e existem alguns vacilos. Agora, os ibéricos partem às oitavas. Os primeiros confrontos estão definidos: Portugal pega o Uruguai no Fisht Stadium em Sochi, no sábado, dia 30, às 15h. Já a Espanha enfrenta a Rússia no dia seguinte, no Estádio Luzhniki, em Moscou, às 11h.

A classificação final do Grupo B: Classificaram os favoritos, mas não sem muito sufoco (Globoesporte.com)

Ficha técnica

Irã 1×1 Portugal

Local: Arena Mordóvia, em Saransk (Rússia)

Árbitro: Enrique Cáceres (Paraguai)

Gols: Ricardo Quaresma aos 45’/1T (Portugal), Karim Ansarifard aos 47’/2T (Irã)

Cartões amarelos: Safi, Azmoun (Irã), Raphael Guerreiro, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Cedric Soares (Portugal)

Cartões vermelhos: nenhum

Irã

Alireza Beiranvand; Ramin Rezaeian, Morteza Pouraliganji, Majod Hosseini e Ehsan Haji Safi (Milad Mohammadi aos 11’/2T); Saeid Ezatolahi (Karim Ansarifard aos 31’/2T); Alireza Jahanbakhsh (Saman Ghoddos aos 25’/2T), Omid Ebrahimi, Vaihd Amiri e Mehdi Taremi; Sardar Azmoun. Técnico: Carlos Queiroz

Portugal

Rui Patrício; Cedric Soares, Pepe, José Fonte e Raphael Guerreiro; Ricardo Quaresma (Bernardo Silva aos 25’/2T), Adrien Silva, William Carvalho e João Mário (João Moutinho aos 39’/2T); Cristiano Ronaldo e André Silva (Gonçalo Guedes aos 50’/2T). Técnico: Fernando Santos

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