O papel do design em uma startup early-stage

As dores, desafios e delícias de participar da construção de uma empresa e de um time de design desde o início.

Rafa Nunes
Por dentro da Livus
8 min readMar 15, 2022

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Ilustração de 5 personagens lado a lado, cada um segurando uma letra, formando a palavra Livus.

Esse ano eu completo 30 anos e cada vez que eu penso nisso uma frase vem na minha cabeça:

Antes dos 30, você faz os seus hábitos. Depois dos 30, seus hábitos fazem você.

Uma coisa que eu tenho vontade a muito tempo é começar a escrever. Eu costumo ler bastante e sempre achei que escrever poderia ser uma maneira de compartilhar mais esses aprendizados com outras pessoas. Conforme o tempo passa, muita coisa do que eu já li e vivi acaba se perdendo na minha memória, e sempre achei que escrever seria um forma de registrar as ideias, reflexões e pensamentos que surgem das leituras, conversa e vivências do dia-a-dia.

E porque não começar com uma experiência recente? No final de Fevereiro eu completei meus primeiros 3 meses na Livus e nesse período a pergunta que mais me fizeram foi “Como é estar em uma empresa desde o comecinho? O que significa fazer parte de um founding team?”

Antes de vir pra Livus eu atuei como Designer por 5 anos na Neon (o mais recente unicórnio brasileiro). Ná época da minha entrada, o time era formado por cerca de 40 pessoas e eu acompanhei o crescimento da empresa até esse time passar das 1500. É muito legal ver milhares e milhões de pessoas sendo impactadas pelo seu trabalho, por uma pesquisa que você participou, por uma funcionalidade que você ajudou a colocar no ar. Mas também é muito legal participar da construção interna da empresa. Ajudar a estruturar desde o início um time, uma área e os pilares da cultura. É uma experiência única.

Depois desse tempo todo eu já não me via mais como parte da empresa que eu tinha entrado, tudo era muito diferente, maior, mais burocrático… E foi ai que apareceu a Livus. Nos primeiros papos que eu tive com o Guilherme Rovai ele me contou que os “Criadores” (a galera que cria e compartilha conteúdo nas redes) além de compartilharem seus talentos com o mundo, na grande maioria dos casos, falam sempre de temas pelos quais são apaixonados. O problema é que por mais que as redes sociais permitam que essas pessoas sejam vistas, construir um negócio digital e viver disso, não é fácil.

O modelo de publicidade que sustentou e ainda sustenta em grande parte a creator economy, favorece exclusivamente quem tem audiências muito grandes. Então se você tem poucos seguidores/inscritos acompanhando seus conteúdos, mesmo que a qualidade do que compartilha seja muito alta, ganhar a vida por meio de parcerias com marcas, ou com a receita que vem direta das redes, vai ser muito difícil.

Ilustração de um evento ao vivo online. Onde uma personagem confeita um bolo enquanto outro personagem assiste e comenta. Ao lado uma ilustração de um vídeo que indica o passo a passo seguido pelos personagens.

E é pra ajudar essas pessoas que a Livus existe:

“Acreditamos em um mundo em que todos podem viver fazendo o que amam”

Foi ai que deu “match”. Era a chance de voltar a fazer parte de uma empresa e um time em nascimento em um lugar onde eu me identificava com a cultura, o desafio e o propósito.

A decisão parecia fácil, até meio óbvia. Mas como uma das primeiras pessoas em uma startup você vai assumir um papel com oportunidades ilimitadas e também cheio de incertezas. Como em qualquer “founding role”, não existe um caminho de carreira claro, porque nem a empresa tem um rumo definido ainda. Então, se você está pensando em fazer algum movimento nesse sentido, o primeiro passo é fazer um trabalho de autorreflexão para entender se estar em uma startup em estágio inicial é ideal para você e seu estilo de trabalho.

Durante esses meus primeiros meses na Livus eu vivi muitas dessas coisas na pele. Em alguns momentos eu senti vontade de ter um manual me falando o que eu deveria esperar de uma empresa nesse momento, como me comportar, como atuar. Então achei legal tentar repassar um pouquinho do que eu aprendi. Seja pra você que tem curiosidade de saber como funciona uma empresa nesse estágio, pra você que está vivendo um momento parecido e principalmente pra quem está agora pensando em mergulhar em um desafio desse tipo :)

É importante você saber que:

1. A mudança constante e a incerteza vão fazer parte do seu dia-a-dia.

Em uma startup em estágio inicial nada é definitivo, e isso pode ser assustador. Você provavelmente vai estar descobrindo um novo mercado, entendendo dores de pessoas sem ter referência alguma de como outras empresas resolveram. Você não sabe onde a empresa estará ano que vem, nem mesmo se ela ainda vai existir. Não sabe se vai e nem quando o negócio se tornará sustentável. Tudo é incerto.

O jeito é abraçar o desconhecido e aproveitar a trajetória! Você vai se sentir incrível quando parar pra refletir sobre o quanto você está aprendendo e quantas experiências diferentes você teve.

2. As coisas mudam rápido, mas acontecem rápido também.

Um dia decidimos que não vamos fazer algo, e no dia seguinte acabamos fazendo. Pode ser frustrante ver tudo que você fez nos últimos dias indo por água abaixo, mas ao mesmo tempo nada é mais gostoso do que ver seu trabalho ganhando vida.

Toda semana você vai ver alguma coisa que você fez ou participou indo parar na mão de algumas pessoas. O que chega até a ser engraçado se você pensar em uma empresa gigante onde as vezes um trabalho de 6 meses ou até mesmo um ano acaba nunca vendo a luz do dia.

3. Você vai precisar assumir alguns riscos e trabalhar com restrições.

Você não vai ter o tempo, dinheiro nem as pessoas necessárias pra fazer a pesquisa mais completa do mundo e conseguir todas as respostas. Isso pode significar em alguns momentos abrir mão do perfeito, dependendo da situação, simplicidade e velocidade vão ser mais importantes do que colocar cada pixel no lugar certo.

Aqui entra uma arma secreta que muitos designer não percebem que tem: sua intuição. Você vai precisar confiar que seu trabalho está bom o bastante (por enquanto). Lançar algo que não tem valor algum e ir fazendo ajustes pontuais não é o que vai fazer a diferença. É por isso que startups andam em um ritmo super acelerado, tomando decisões rápidas sobre coisas importantes como pivotar o produto ou mudar o público-alvo

Mesmo que a decisão não seja perfeita, na maior parte dos casos é melhor simplesmente assumir riscos maiores do que ficar esperando demais e perder o tempo ideal do lançamento. Se der certo, você vai ter tempo pra voltar e trabalhar naquilo nas próximas iterações.

4. Você se enxerga em cada entrega.

Como a maioria das coisas é feita com pouquíssimas pessoas e os feedback são super rápidos e diretos, é mais fácil sentir o investimento emocional do que você fez. É como ver algo bom ou ruim acontecer com um amigo vs a mesma coisa acontecer com um completo estranho.

Se as coisas dão certo em uma startup de 10 pessoas você de certa forma se sente responsável por 1/10 desse sucesso. Ao mesmo tempo que se der errado você pode se sentir responsável na mesma proporção pelo fracasso. Se você e as outras 9 pessoas envolvidas não fizerem o que precisa ser feito, mais ninguém vai, está nas suas mãos e das pessoas que estão nesse barco com você.

E com isso é importante lembrar que você não é seu trabalho. Se algo deu errado ou não saiu como o planejado, faz parte do jogo. Seu valor como pessoa não está em análise.

5. Transparência e colaboração são fundamentais

Todo mundo ajuda a tomar todas as decisões, inclusive as de design. E por isso, talvez o objetivo mais importante de uma designer no founding team seja ajudar a estabelecer o design como uma função crítica para o negócio. Em empresas nesse estágio todas as vozes são ouvidas igualmente, nosso trabalho é fazer isso valer a pena.

O papel do design varia muito dependendo do produto, da indústria e do time fundador, mas em casos de sucesso, como do Airbnb, o design é uma extensão da cultura da organização. Tanto a empresa quanto o time de design bebem da fonte de empresas, produtos e pessoas que admiram. E é do casamento dessas visões que podem nascer coisas poderosas. Isso foi inclusive uma das coisas que me atraiu pra Livus, com o Guilherme Rovai, um designer, representando nossa área como um dos fundadores da empresa.

Para que o design reflita a cultura de toda a empresa é preciso envolver todos no processo de design. Aqui na Livus os arquivos do Figma são abertos para todo mundo, assim como os canais do time de design no Slack. Frequentemente fazemos sessões de design critique onde dedicamos um tempo para passar por todo o processo de design, contextualizando o problema e mostrando porque e como determinadas decisões foram tomadas, com a intenção de coletar feedbacks, sugestões e ideias de todas as áreas envolvidas.

Se você quiser entender um pouco mais de como fazemos isso por aqui, na nossa comunidade do Figma vamos aos poucos adicionando alguns templates que utilizamos nas nossas dinâmicas do dia-a-dia. Esse aqui é o que usamos nos nossos Design Critiques, feito pela Rebecca Kamehama e Mel Lothwen.

Resumindo, ser um dos primeiros funcionários de uma startup é muito parecido com o trabalho de um chef em um restaurante recém inaugurado.

Você vai tentar montar um cardápio onde você consiga colocar em prática suas especialidades, mas também vai estar sempre testando coisas novas e aprendendo novas técnicas. As vezes você vai errar no tempero de um prato diferente e vai receber as críticas. Mas com o tempo você vai ajustando uma coisa aqui, outra ali, e quando você menos esperar os clientes começam a voltar, indicar para os amigos, o prato que você tinha errado virou o carro-chefe da casa e novos desafios surgem.

E foi isso que eu fiz! Eu topei participar desse restaurante e hoje, depois de 3 meses eu posso dizer que foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado pra minha carreira.

Se lendo isso você de alguma forma se inspirou e ficou com vontade de participar de uma aventura parecida, saiba que a Livus tem vagas abertas! Você pode conferir todas elas nesse link aqui :)

Se quiser perguntar algo, mais conselhos ou só bater um papo, vamos conversar!

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