Compositores ou Discipuladores? A seriedade do papel de um compositor para a doutrina de uma comunidade

Victor Castro

Victor Castro
PORTAL 132
4 min readJan 31, 2024

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Somos, sem dúvida, a geração mais instruída da história, com amplo acesso à Bíblia e à teologia através de nossos celulares, algo que os autores bíblicos nem poderiam imaginar. Além disso, temos também uma lista enorme de músicas de adoração que despertam nossas afeições pela beleza e grandeza de Deus. Contudo, se nos dirigirmos ao culto em nossa comunidade buscando apenas uma “experiência de adoração” que não resulte em nossa transformação à imagem de Jesus, nossa adoração se torna perigosa.

Aos líderes de louvor, cantores e músicos, destaco a importância de levar a sério o dom que possuem. Vocês podem ser um presente valioso para a igreja ao nos conduzirem à contemplação de Deus. Contudo, se oferecerem apenas experiências emocionais, corremos o risco de nos acomodar em nossa imaturidade e sermos levados à idolatria, vivenciando um encontro com Deus que não nos transforma.

Uma coisa amplamente aceita, mas raramente falada, é que nós, os modernos, valorizamos o que “funciona”. Técnicas são o que desejamos. Técnicas são o ar que respiramos. Nem todas as técnicas são ruins, nós também valorizamos elas a nível bíblico. Davi foi chamado por Saul para tanger seu instrumento por ser um músico habilidoso em técnica (1 Sm. 16:17). Porém, algumas técnicas são mais enganosas do que outras.

Em algumas igrejas de nossos dias, se a congregação canta músicas simples e rasas teologicamente mais alto, então isso será dado a eles mais do que desejam. Se volumes mais altos e luzes mais baixas afetam a atmosfera, então as luzes e volumes serão ajustados. A música que está em alta no Spotify pode provocar um barulho alto da congregação, mas quando a empolgação desaparecer, o que restará?

A musicalidade de nossos dias é excelente, mas a teologia está em nível de meme. Quando foi que elevamos a técnica e a musicalidade acima da disciplina espiritual? Precisamos das duas coisas!

EDUCAÇÃO E DISCIPULADO POR MEIO DE COMPOSIÇÃO

Uma coisa que não podemos esquecer é que hinos e canções espirituais são poderosas ferramentas educacionais. Grande parte da teologia que absorvemos está intrinsicamente ligada ao que cantamos. Portanto, é crucial questionar: se os novos crentes estão absorvendo teologia por meio de canções de adoração contemporâneas, que tipo de teologia estão adquirindo?

Algumas de nossas canções podem ser excelentes, enquanto outras podem ser superficiais. Podem ser boas, mas incompletas e sem a centralidade bíblica que precisamos. Que o Senhor aprofunde a teologia presente em nossas canções! Nas palavras de Ray Hughes, orador, autor, cantor/compositor e musicólogo:

“Compositores de canções de adoração, ao escreverem, não estão apenas criando as letras populares do próximo ano, estão moldando a linguagem e a compreensão de Deus para a próxima geração.”

Em Efésios 5:19, Paulo escreve que a vida no Espírito envolve o canto. Mas ele não nos dá uma lista exaustiva de músicas que devem estar nos setlists de nossas igrejas. A responsabilidade de compor é nossa. No entanto, se nosso repertório não se assemelha com as Escrituras, precisamos questionar seriamente nosso canto. A maneira como abordamos o canto é importante porque somos formados por ele e o objetivo do canto corporativo é edificar o corpo de Cristo (Ef. 4:13–16).

Aprendemos palavras e frases mais rapidamente por meio de músicas do que por memorização mecânica. As canções nos catequizam não apenas doutrinariamente, mas eticamente. As músicas que cantamos na adoração corporativa são como uma “teologia levada para casa”. Se o canto se instala em nossas mentes e corações dessa maneira, devemos valorizar muito o treinamento daqueles que escolhem as músicas e lideram o louvor em nossas igrejas. Quão responsáveis eles são? Eles investem mais tempo e dinheiro em instrumentos ou em estudar sobre os atributos de Deus?

Com o surgimento da “música de adoração” como uma categoria musical, uma cultura se formou em torno daqueles que lideram músicas e daqueles que escolhem as músicas que cantamos. Eles são chamados de “líderes de adoração” e têm a autoridade e responsabilidade de catequizar a congregação semanalmente. Eles estão envolvidos em um ministério onde o poder da música traz palavras para a mente e o coração. Uma canção pode fazer as verdades do evangelho atravessar as barreiras do medo e da dúvida e colocá-las nas afeições.

Aqueles que lideram a música em nossas igrejas são responsáveis por um ministério de ensino e por esse motivo devemos garantir que eles estejam crescendo como discípulos e não apenas músicos ou artistas. Suas vozes importam na medida em que estão cheias do Espírito e das verdades do Evangelho. Devido à responsabilidade que os líderes de adoração têm em oferecer à congregação uma teologia que é levada para casa após o culto de domingo, devemos pensar duas vezes antes de nomear líderes para essa tarefa sem um plano contínuo de formação teológica. Além disso, especialmente se são músicos talentosos, seu caráter deve superar sua afinação.

Quando estamos falando sobre músicos gastando tempo em estudos teológico, não estamos falando que eles precisam necessariamente se matricularem em uma faculdade de teologia. A teologia na qual me refiro não é mais uma busca por informações técnicas sobre Deus. Estamos falando de um profundo e verdadeiro conhecimento de Deus. Líderes de Adoração devem ser amantes das Escrituras da mesma forma que seus pastores, presbíteros e líderes são.

Isso é algo que deve ser encarado com seriedade. Devemos levar a sério o desenvolvimento teológico das pessoas que chamamos de líderes de louvor.

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Victor Castro
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partindo o pão e tendo os olhos abertos para o reconhecimento de Cristo uns nos outros