Nunca coma sozinho: A importância de compartilhar refeições em uma comunidade

Victor Castro

Victor Castro
PORTAL 132
3 min readJan 11, 2024

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1900 — Тайная вечеря, Última Ceia por Vasili Polenov

Entre 200 a.C. e 200 d.C., as pessoas ao redor do Mediterrâneo tinham maneiras específicas de comer e se comportar à mesa. A tradição de compartilhar refeições, especialmente em grandes festas, era comum em toda a região e se ajustava para se adequar a diferentes eventos, incluindo celebrações judaicas e cristãs.

O banquete greco-romano nesse período enfatizava dois aspectos cruciais da simbologia alimentar. Primeiramente, a comensalidade — conviver à mesa — promovia a igualdade social e a união entre aqueles que compartilhavam uma refeição, estabelecendo vínculos entre os participantes. Em segundo lugar, a conexão entre os comensais gerava obrigações éticas e sociais expressas por meio de acordos sociais baseados em reciprocidade. Entre os gregos, desenvolveu-se a tradição das “leis do simpósio”, abrangendo a etiqueta alimentar e outros valores éticos como amizade, amor e prazer, representando os valores do grupo como um todo. Não era permitido discutir quando estavam à mesa, pois isso não contribuía para o prazer de todos que estavam presentes. Qualquer tipo de facções ou divisões eram proibidas. O assunto da conversa durante a refeição deveria incluir todos os participantes.

Essas refeições sempre possuíam uma dimensão religiosa, com a quebra do pão e a mistura de bebidas no início e no final dos pratos principais realizadas para honrar e invocar a presença de uma divindade. A tradição alimentar hebraica também destacava os laços familiares, onde compartilhar pão ou sal estabelecia vínculos especiais entre as pessoas. Os judeus acreditavam que comer podia unir as pessoas a Deus ou separá-las (com base na aliança de Is. 55:1–3). A comida era um presente comum nas Escrituras, sendo compartilhada entre parentes, conhecidos, reis e profetas. A comunhão à mesa representava uma comunhão em todos os aspectos da vida. Por outro lado, a recusa em compartilhar uma refeição podia romper relacionamentos, conforme indicado em várias passagens bíblicas.

Em 1 Samuel 20:25-34, observamos que Davi não participou das refeições de Saul, e Jonatas, para honrar sua aliança com Davi, escolheu não comer da comida de seu pai Saul, saindo da mesa e, assim, tornando-se um traidor e inimigo de Saul. Aqueles que não compartilham refeições juntos não têm obrigações um com o outro e podem até se tornar inimigos. Mas o pior tipo de traidor é aquele com quem se compartilhou uma refeição.

O versículo “Judas, assim que comeu o pedaço de pão, saiu apressadamente.” (João 13:30) ilustra que, após compartilhar uma refeição com Jesus e seus amigos na Última Ceia, Judas assume seu papel de traidor, levantando-se e saindo apressadamente da mesa. O Salmo 41:9 destaca: “Até um amigo íntimo, em quem eu confiava e que partilhava do meu pão, voltou‑se contra mim.”

Mais tarde, os cristãos do primeiro século mantiveram sua união através do ato de partir o pão e participar de refeições coletivas, seguindo a tradição da comunhão à mesa estabelecida por Jesus com seus discípulos. Isso se manifestava na repetição regular da Última Ceia ou na participação em refeições judaicas comuns. Essa prática é claramente evidenciada em Atos 2, por exemplo. Aqueles que compartilham refeições não estão apenas compartilhando comida, mas também compartilhando suas próprias vidas. Portanto, nossas práticas atuais de comunhão à mesa servem como expressão da era futura, quando todos nós compartilharemos refeições no Reino do Pai, na presença de Seu Filho, Jesus Cristo (Is. 25:6; Ap. 19).

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Victor Castro
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partindo o pão e tendo os olhos abertos para o reconhecimento de Cristo uns nos outros