Ator brasileiro grava longa no Irã

O guarulhense Thiago Matos também fala sobre arte e cultura no Brasil e sua atuação na produção teatral e musical

Jornal Expresso
Portal Expresso
7 min readSep 25, 2019

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Renata Lima

Com grande sucesso nas bilheterias do Irã, o filme “Texas 2” conta com a participação do ator e produtor Thiago Matos, de 34 anos, morador de Guarulhos/SP, que relata ao Expresso que, para viver o personagem “Coringão”, um mafioso um pouco atrapalhado, precisou estudar persa e assistir alguns filmes, além de estudar sobre a cultura iraniana.

Pôster de “Texas 2”, filme iraniano (Imagem: divulgação)

O longa-metragem tem, além do Irã, cenas gravadas em São Paulo, Ilha Bela, Vila Galvão, Lago dos Patos e Boituva e foi feito no idioma persa, contando ainda com dois tradutores na produção. Os cinco atores brasileiros gravaram as cenas em português e estas foram dubladas no Irã. “Até o momento, tive a maior experiência da minha carreira, estou empolgado e dando continuidade a desenvolver meu trabalho cinematográfico”, afirma Thiago, destacando que o produtor Osvaldo Coelho, também de Guarulhos, foi quem o indicou para a sua participação no filme.

Os outros atores brasileiros que fazem parte do elenco de “Texas” são Gabriela Petry, Adriano Toloza e Thogun Teixeira, além do ator iraniano Sam Derakhshani, celebridade no país. “O grande ápice do ator é fazer cinema e eu já dei esse salto e não já trabalhando com filme nacional, mas sim internacional, então existe um divisor de águas na minha carreira de Thiago Matos antes do filme e Thiago Matos depois do filme. Fiquei orgulhoso por poder representar de forma positiva o Brasil; eu vivi um grande sonho”.

O filme “Texas” causou uma explosão na venda dos ingressos, chegando em 1º lugar em vendas nas bilheterias do Irã. “O primeiro filme foi recorde de bilheteria no Irã, onde eu nem tinha assistido o filme e eu só acompanhava pelo Instagram, e em janeiro deste ano eu tive o privilégio de gravar o segundo filme [no Irã], então que incrível que foi chegar lá e realmente colher os frutos do que significa a palavra sucesso”, menciona Thiago, adiantando que já há contrato fechado para março de 2020 para as gravações de “Texas 3”, também no Irã.

Trailer de “Texas 2”

Sobre sucesso, o ator, diretor, agente cultural e produtor comenta que, em seu ponto de vista, “é reconhecimento do trabalho”. “É legal poder colher esse fruto das pessoas poderem me reconhecer na rua, de eu não conseguir almoçar sossegado, com as pessoas que vem pedindo para tirar foto. Foi muito gostoso ver isso, ver o reconhecimento do trabalho, até porque eu estou entre os três primeiros atores que foi para o Irã gravar, porque nenhum dos atores brasileiros tinha ido para o Irã para gravar filme. Me sinto muito agraciado por Deus em fazer parte desta história”, comemora.

Produção musical

MV Bill fala de resiliência, resistência, amor, combate ao preconceito e ódio em nova música (Imagem: divulgação/MV Bill)

Falando ainda em cultura, Thiago, entre outros trabalhos que realizou, também participou da produção do videoclipe “Eu e minha Mina”, do rapper MV Bill, lançado em junho deste ano. Com imagens feitas na Zona Leste de São Paulo, na Favela de Heliópolis, o clipe conta com a direção de elenco de Thiago Matos, que, além de ator, também é diretor e produtor da Academia de Teatro DR&T.

Cena do videoclipe de “Eu e minha Mina” (Imagem: reprodução/MV Bill/Insane Tracks)

A história do clipe narra a vida de um casal que vive numa favela e, ao sair na noite para se divertir, enfrenta grandes dificuldades no meio do caminho, até mesmo passam por constrangimentos como a abordagem brusca de um policial (interpretado por Thiago Matos) “que não pegou nada leve na abordagem”, seguido de dois ladrões armados, entre outros dessabores, assim como a realidade de alguns que vivem na favela e que passam por essas mesmas situações de preconceito e constrangimento.

Formação, atuação e a vida com a arte e a cultura

Thiago é formado pela Escola Viva de Artes Cênicas de Guarulhos, possui especialização em televisão, teatro e cinema, é agente cultural e produtor artístico e participou de espetáculos como “Ópera do Malandro”, “Vidas Secas”, “Arca de Noé”, “Paixão de Cristo”, “Tempo de Viver”, “Dom Quixote de Guarulhos” e “Um Estranho Professor de Gramática”.

No cinema, além do longa-metragem iraniano “Texas 2”, ele também integra o documentário “Doe Ação” e diversos outros clipes multimídia. “Faço produção de stand up comedy, trazendo os artistas nacionais para a cidade de Guarulhos, cuidando de toda a logística de divulgação, vendas de ingressos, parcerias, contato com a Prefeitura e locação de teatro. Com isso, eu trabalho aqui na cidade de Guarulhos, fora as minhas participações com teatro, comercial e campanhas educativas, como uma recente que fiz sobre Leis de Trânsito”.

Thiago e equipe da DR&T (Foto: arquivo pessoal)

O profissional narra que sua história como ator começou há 20 anos, fazendo teatro na igreja, onde montava as peças relacionadas aos personagens da bíblia. Na época, já estava próximo de um ator global, Norton Nascimento. “Comecei teatro com ele, foi uma grande referência para mim. Ele faleceu, mas consegui conviver com ele os últimos quatro anos. Foi ele quem me incentivou a continuar estudando, disse que eu tinha um potencial e falou ‘pô Thiago, vejo que você tem um talento para esse negócio aí’. Depois disso, eu comecei a estudar, fiz alguns cursos na área, acabei me formando, peguei o registro profissional, o DRT e assim que eu peguei o meu registro profissional eu fui para o Rio de Janeiro tentar a vida de ator”, discorre.

“Quando a gente é mais novo, menino, a gente deslumbra muito essa ideia de querer ser ator, ser famoso, estar na televisão e tal. Eu também quis seguir esse caminho, mas eu vi que não era tão fácil assim. Eu tinha que ter mais uma caminhada, mais trabalhos, contatos. As únicas coisas que eu consegui fazer na Globo foram figurações, mas poxa, eu já era ator formado e figuração qualquer um poderia fazer, aí voltei para São Paulo e me envolvi num grupo de teatro chamado Grupo Boca, do Ricardo Guarel, que hoje é meu sócio na minha escola.” — Thiago Matos

De acordo com Thiago, “viver de teatro é muito difícil aqui no Brasil, onde não tem um incentivo”, relatando ainda que, “nesse cenário político, não tem uma preocupação em fomentar os artistas, o que é uma pena”. Ele montou sua escola de teatro há seis anos como uma “maneira de sobreviver como artista”. “Eu sou muito feliz, porque eu sobrevivo da arte e não faço mais nada na vida a não ser atuar, dar aula, partilhar conhecimento, realizar filmagens e tudo mais”, afirma.

Experiência no Irã e personagem em “Texas”

Sobre o Irã, Thiago destaca que “o país é lindo e o povo iraniano é incrível”. “Eles são muito acolhedores e prestativos. O governo de lá é muito envolvido com a religião, então tem muitas coisas que para a nossa cultura é muito estranho, como a mulher ter que usar o véu, por exemplo; não é burca, porque a burca é árabe, e no Irã é só véu mesmo. Também éum país que não vende bebida alcoólica, em lugar nenhum, pois é proibida a comercialização”, explica.

Imagem: arquivo pessoal

Ele fez turismo pelo país e relata que foi uma experiência incrível poder contracenar com um dos melhores atores iranianos. “Em diversos momentos eu posso te dizer que eu me emocionava muito no quarto do hotel, em pensar que a minha arte está conseguindo me proporcionar essa realização, e quantas as vezes eu pensei em desistir, mas perseverei e estava lá, do outro lado do mundo fazendo o que eu amo”.

Seu personagem em “Texas” é um bandido e faz dupla com o personagem do ator Adriano Toloza. “Fazemos essa dupla, ao qual ele é um bandido malvado, que tem muita coragem, que enfrenta, vai pra cima, e eu na verdade sou esse tipo de bandido que tem a cara de mau, mas que na verdade é muito medroso, então houve esse jogo cênico muito legal entre eu e o Adriano no filme, lembrando que o meu personagem ‘Coringão’ não tem nada a ver comigo (risos)”, descreve. “Quem assistiu o filme e me conhece sabe que existe uma distância muito longa desse personagem; para mim, como ator, é muito bom vivenciar e ver as pessoas chegarem e falar ‘nossa, como você estava diferente, Thiago’. É incrível, até mesmo no teatro quando eu faço a representatividade de uma mulher, por exemplo”.

Imagem: arquivo pessoal

A programação cultural preferida de Thiago é estar no teatro, cinema e museu. “Poder somar na vida das pessoas como professor de teatro é muito prazeroso para mim”, pontua, frisando que a arte, para ele, é a melhor maneira de transformação do ser humano. “Toda a linguagem artística vai trazer algum benefício para a sua vida pessoal. O teatro em si, falando na minha linguagem, é uma linguagem que você depende do outro, precisa confiar no outro, tem que ter o jogo cênico, ter a cumplicidade, então eu sou muito suspeito para falar, porque eu vivencio a arte na minha vida a todo momento”.

“Não ache que você não nasceu para nada. Alguma coisa de artista você tem aí, vai dançar, cantar, tocar algum tipo de instrumento, fazer algo que goste, enfim, inúmeras coisas você pode ser ou querer. Arte é vida!”

Edição realizada por Gabriela Prado.

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