Nathalie Moellhausen conta o mundo da esgrima além da máscara

Jornal Expresso
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4 min readMar 13, 2020

Classificada para as Olimpíadas, a campeã conta o processo e as alegrias de ser esgrimista

Camila Bandeira

Uma escolha de infância. Nathalie Moellhausen, 33 anos, esgrimista, meio italiana, meio brasileira e determinada desde pequena. “A esgrima me escolheu”, conta a atleta que aceitou o convite do esporte desde seus 5 anos.

Nascida no norte da Itália, em Milão, Nathalie é filha de pai italiano e mãe brasileira, diretora de arte e eventos e campeã mundial de esgrima. Desde criança a paixão pela espada a chamou. “Acredito que cheguei onde estou, porque sempre tive dentro de mim uma obsessão por esse esporte. Desde pequena levei os treinos muito duro”.

A esgrima

Agilidade, flexibilidade, resistência, inteligência, controle emocional e disciplina são características que definem um dos esportes mais antigos nas olimpíadas, a esgrima.

A modalidade tem origem na Idade Média e está presente nos jogos olímpicos desde e primeira edição em Atenas 1896, na Era Moderna.

O objetivo é tocar o adversário com a espada e ao mesmo tempo evitar ser tocado e para ter esse controle, em cada esgrimista existe um fio preso na espada que conecta a um aparelho que marca quantas vezes a espada tocou no adversário.

Infográfico: Denise Conelhero

Muitos acreditam que a esgrima só é acessível para quem possui uma condição financeira boa. Nathalie teve a experiência de ir a comunidades e conversar com crianças sobre o esporte e muitas nunca ouviram falar da modalidade. “A reação delas foi super positiva de querer aprender o esporte e isso é um fato, existem pessoas que querem praticar. Então não é verdade que existe essa barreira que a esgrima é para elite e questão de mudar a mentalidade e deixar a esgrima ser conhecida”

Escolha pelo Brasil

Foto: Augusto Bizzi

A campeã mundial vive o sonho da dona Marcela Farotti, sua avó brasileira de 85 anos que sempre dizia para ela representar o Brasil. Confiante nas palavras de sua avó, Nathalie conta em entrevista sobre seu processo em trocar de bandeira. “Fiz algo atípico e ainda ter ganhado nos dois países é o que fortalece minha história. Passei por momentos muito duros e difíceis psicologicamente, mas que criaram minha nova identidade brasileira”.

Entretanto, a atleta acreditava que trazer a transformação através da esgrima era conquistando um título importante com o nome do Brasil. Com muita determinação e disciplina entregava o seu melhor nos treinos e competições, porém, passou por momentos mais críticos sobre sua carreira e com algumas de dúvidas.

“A luta não foi fácil de segurar a cabeça e decidir de tentar mais uma vez, mas dessa última deu certo e ganhei essa medalha. Foi incrível e agora saber que tenho a vaga para os jogos olímpicos de maneira mais fácil das outras vezes é uma boa sensação”, conta.

A esgrimista tem como objetivo através da sua decisão divulgar sua história no esporte e tornar acessível para todos. Ela acredita no poder de transformação que o esporte pode trazer para o individual e grupo. “O desenvolvimento desse esporte para o país fará grande diferença. A beleza dessa arte é informativa para as pessoas”, afirma.

Olimpíada

Nathalie vive agora uma nova fase da carreira. Seu objetivo foi alcançado com as medalhas na categoria individual do campeonato mundial, campeonato europeu e jogos pan americanos. Agora, é uma nova temporada na sua vida, que envolve mais pressão por tudo que já conseguiu.

Ainda mais que ela vem quebrando barreiras e fazendo história se tornando a primeira mulher na América Latina a ganhar em nível mundial na esgrima. “Esse fato abriu uma porta para as futuras gerações para que nos tornemos os melhores do mundo”, fala, acreditando nos seus sonhos.

A italiana naturalizada brasileira completa: “As pessoas me identificam como brasileira e por fim ganha o Brasil não a Itália. Muito engraçado essa ironia de sorte, mas que estou muito feliz”.

A naturalizada brasileira é a única classificada entre as atletas do país até o momento. No processo até a Olimpíadas de Tóquio Nathalie Moellhausen quer priorizar seu tempo com os treinos, família, amigos e fãs, sem perder o foco para fazer o que ama.

Para Nathalie, a esgrima vai além de um esporte, “Sei que a esgrima me escolheu porque não é só praticar um esporte, é criar projetos que divulgam a arte e conhecer o mundo lindo atrás da máscara”.

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