O declínio da saúde mental durante a pandemia

Jornal Expresso
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4 min readApr 20, 2021

A quarentena causou um impacto significativo na saúde mental brasileira, muitos estão sentindo diversas emoções. Exemplos recorrentes são o transtorno de ansiedade e a depressão, afirma psicóloga.

Cristina Simionato

Foto: Hedgehog Digital — Unsplash

O ano de 2020 começou de uma maneira impactante para o mundo inteiro. Em janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que um novo vírus havia surgido na China, e os riscos de contágio eram imensos. Não demorou muito para o mundo todo sentir o impacto, dois meses depois, em março, os países começaram a tomar medidas para conter a disseminação da Covid-19.

“Eu não imaginava a proporção que isso tomaria. Acreditava que seria algo que poderia ser controlado, mas hoje percebo o quão grave é’’, diz Bruno Guedes, 24 anos, estudante de psicologia.

Com o avanço da pandemia a população precisou começar a viver em quarentena; o vírus estava se espalhando muito rápido por todo o país. Em todos os noticiários era o assunto principal, causando um choque muito grande na população. Com o Decreto 64.881 do dia 22 de março de 2020, o Estado de São Paulo iniciou a quarentena para evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus.

Essas privações causaram mudanças drásticas na rotina e no modo de viver dos brasileiros, um povo que sempre foi considerado caloroso e receptivo, agora não poderia dar fortes abraços em seus amigos e parentes. O trabalho em alguns lugares ainda funciona na base do home office, o estudo de forma virtual, os teatros, cinemas, parques e outros lugares de lazer todos fechados.

O entrevistado Bruno Guedes conta as dificuldades que passou no ano passado.

“Todas as minhas aulas eram de forma remota, o que na minha opinião é bem difícil pelo cansaço de ficar horas na frente do computador, eu perdia o foco muito rápido. Já na parte do lazer, ficava limitado a atividades virtuais, jogos, séries, filmes e videochamadas com amigos. Como tenho histórico de ansiedade e depressão, elas acabaram retornando diante todo esse cenário atual, procurei ajuda psiquiátrica para controlar minha ansiedade.”

Foto:Jonathan Borba — Unsplash

O isolamento acabou agravando muitos casos de depressão. Houve um aumento significativo da ansiedade e ataques de pânico entre os jovens. De acordo com o site jornalístico CNN Brasil, o país lidera os casos de depressão e ansiedade durante a pandemia do novo coronavírus, segundo pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) em onze países.

“Nós concluímos que a pandemia de Covid-19 tem se mostrado um evento traumático para muitas pessoas, levando aumento exponencial de sentimento, medo e estresse”, disse Ricardo Uvinha, professor de lazer e turismo da USP, à CNN.

Segundo o estudo, o Brasil é o país que mais tem casos de ansiedade (63%) e depressão (59%). Em segundo lugar está a Irlanda com 61% das pessoas com ansiedade e 57% com depressão, e os Estados Unidos, com 60% e 55%.

Mas o que necessariamente está causando esse declínio na saúde mental brasileira? A psicóloga Renata Costa, que trabalha na área clínica há oito anos, explica.

“A quarentena causou um impacto significativo na saúde mental brasileira. Muitos brasileiros estão sentindo diversas emoções e sentimentos que afetam a sua saúde mental. Exemplos recorrentes são, o transtorno de ansiedade e a depressão. Muitos estão distantes de seus entes queridos, seja pelo trabalho ou pelo distanciamento social, que é necessário. Não interagir com pessoas e não participar de eventos sociais como antes faziam, traz o sentimento de solidão. Além do medo da doença, da perda, a insegurança, o luto não realizado, a falta de perspectiva e a interrupção abrupta de projetos e de seu meio de sustento.”

Foto: Sam Moqadam — Unsplash

De acordo com o site jornalístico G1 (Globo), a procura por atendimento na rede municipal de saúde mental de São Paulo aumentou 116% em um ano por causa da pandemia. O número de atendimentos nos 95 endereços dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da capital mais que dobrou: passou de 24 mil em setembro de 2019 para 52 mil em outubro de 2020.

Nos consultórios particulares o movimento também aumentou. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) entre os meses de agosto e novembro identificou que houve um aumento de 82% no número de novos casos de transtornos mentais. O estudo mostra ainda que 70% dos pacientes que já tinham recebido alta do tratamento tiveram recaídas durante a pandemia.

Em entrevista, a psicóloga Renata Costa confirmou o aumento da procura por tratamentos relacionados às doenças mentais, e ainda pontuou que essa área da saúde vem sendo esquecida há muito tempo, uma questão de extrema importância, principalmente nos dias atuais.

Não é novidade para ninguém que no Brasil, a procura por tratamento psicológico e psiquiátrico ainda é um ‘’tabu’’. Muitas vezes, pessoas que correm atrás de ajuda são chamadas de ‘’loucas’’ ou ‘’doentes’’, principalmente pela população mais velha. O que leva muitas vezes a casos de suicídios entre jovens de 15 à 29 anos.

Não ignore um pedido de ajuda. Todas as vidas importam.

Para prevenção de suicídio

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Edição: Monike Cruz

Revisão: Marina Norato

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