O lado obscuro das Redes: Uma análise de “The Social Dilemma”

Jornal Expresso
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6 min readNov 26, 2020

The Social Dilemma (lançado, no Brasil, em 9 de Setembro de 2020), é o documentário assinado por Jeff Orlowski que repercutiu dentro de diversos pontos de vista sociais, mentais, emocionais e psicológicos, indagando muitas pessoas a dúvida em relação ao uso de suas redes sociais e ao poder que elas têm sobre nós

Giovana Vacare

Imagem: Reprodução Netflix

O foco principal da série, é mostrar a forma, muitas vezes inconsciente e discreta, que nossa sociedade, é induzida, reprogramada e totalmente polarizada pelas redes e seus algoritmos e inteligências artificiais.

Uma das conclusões mais perturbadoras que o documentário passa é que: “Se não pagas pelo produto, então, és o produto”. Para as empresas e marcas que comandam esse mundo por trás das redes sociais, essa afirmação é clara, mas para a sociedade, que encara as redes muitas vezes apenas como um passatempo, sem enxergar seu lado sombrio, é um grande choque.

Dentre muitas opiniões, há algumas que partem de um ponto de vista superficial, em que ficou aquele sentimento de “faltou algo”. Abaixo será colocado o ponto de vista da pesquisadora e professora do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP) Maria Paula Piotto da Silveira Guimarães:

“Eis aí a minha primeira crítica ao documentário do qual, em linhas gerais gostei muito porque é uma oportunidade para pensarmos, no entanto, achei péssimo porque o arranjo simplista não insta a discussão. A figura do rapaz diante dos “controladores”, o episódio da troca de mensagens com a namorada e a tentativa frustrada de abster-se do uso do dispositivo pode ser uma metáfora razoável para se comunicar com as massas, mas um tanto inocente, você não acha?

Vejo uma relação explícita com a imagem da “sala de controle” de Divertida Mente, quase uma alegoria da animação da Disney e da Pixar. E, nesse viés, a série de depoimentos e recomendações dos profissionais de tecnologia, quase todos oriundos das grandes empresas da área, que encerra o documentário, mais do que o sentido de verossimilhança, reitera, na minha opinião, a superficialidade. De novo a meu juízo, a lógica é irreversível, posto que se trata de um comportamento engendrado pelo sistema econômico no qual estamos inseridos. De tal modo que, parece tão improvável que o detentor do algoritmo tenha interesse em mudar de rumo, quanto possível que uma rota alternativa seja adotada pelos seus sujeitos.

Registro sujeitos, à exemplo do que escreve Michel Foucault, como aqueles que se encontram em estado de sujeição a um sistema de poder, portanto, não é uma questão de consciência, mas de falta de escapatória. Ainda, não se trata neste caso de uma visão pessimista de minha parte sobre um futuro catastrófico porque nessas condições, tecnológico ou não, não há futuro. Posto isso, sim, penso que há uma forma de burlar o controle imposto pelo modelo que o documentário explicita: morrer. Longe de ser uma anedota, é assim que todas as resistências terminam diante das inovações! Quando os Irmãos Lumière exibiram “a chegada do trem na estação” a plateia, surpreendida pela tecnologia da imagem em movimento, entrou em pânico, mas o Cinema não sucumbiu, muito pelo contrário.

Antes de morrer, o que considero inevitável, contudo precipitado neste momento, a ideia é atenuar o máximo possível os efeitos. Da mesma forma que não se pode prescindir da luz do sol e tampouco negar sua radiação, adote-se um filtro. De certa maneira foi isso que os “meninos” de “O dilema das redes” sugeriram, não foi? É, mas isso soa canhestro — isso eu faço!”

É preciso não perder de vista que a Netflix é uma empresa engendrada na lógica capitalista e como tal deve prestar contas aos seus investidores, portanto, não há nenhuma hipocrisia desde que o produto gere receita à empresa — e o produto também somos nós! Por último, observe a nomeação do documentário: “O dilema das redes”. E o que é um dilema senão uma necessidade de escolha ao mesmo tempo contraditória e insatisfatória? A noção de que a tecnologia das redes é uma instituição que nos governa é insuficiente porque o que está em jogo não é um problema de conscientização, mas uma questão de sobrevivência.” , conclui Piotto.

Partindo desta opinião lógica e instigante, ficamos com a dúvida: O que fazer para burlar o sistema? No final do documentário, é dado dicas para tal feito, porém, de um ponto de vista particular, a única forma que enxergo é evitar o uso das redes, ao máximo que puder. Além de existir a possibilidade de se tornar um vício, trazendo inúmeros malefícios para seu dia a dia, pode acarretar em distúrbios, crises e surtos diversos. Ou seja, além dessa possibilidade das redes se virarem contra você, também tem o outro ponto maléfico, em que ao mesmo tempo que você acaba com sua saúde mental às consumindo, está alimentando o capital de diversas empresas que jorra dinheiro e estão totalmente desinteressadas em saber o que sua indústria está causando na sociedade.

Em uma entrevista com uma personagem que preferiu se manter anônima, ela cita o vício das redes sociais como uma forma de se manter “Inflamado”, ou seja, sempre com todas as informações possíveis, como por exemplo o pensamento diário de “preciso olhar o instagram para ver se tem alguma coisa, para não ficar sabendo por último” e outros do tipo.

Imagem: Reprodução Netflix

Na entrevista ela cita também ao eu questionar se ela já teve algum distúrbio como ansiedade acarretada pelo uso das redes. “Quando estou comendo na mesa, que é o único momento que não estou com meu celular, eu fico balançando o pé, mesmo eu não possuindo esse vício. Acontece só quando estou sem meu celular, trazendo uma ansiedade.” Com isso, ela acrescenta que se considera viciada, pois sem ele, seus ânimos ficam a todo vapor. Sua média de uso é mais de 12 horas por dia, um pouco mais da metade de um dia, 24 horas.

Ela comenta que desde seus 13/14 anos sempre foi muito ligada às redes e não sabe o por que desse vício e com a quarentena isso aumentou exponencialmente, pois está sempre ociosa e buscando estar ligada a alguma tecnologia como celular, tv e computador.

A questionei sobre já ter assistido “The Social Dilemma”, a mesma respondeu que não, porém, relatou que compreende a forma como as redes a influenciam aos interesses delas, a fazendo virar um produto influenciável, como o exemplo que ela dá ao você entrar no Instagram e ser levado a um anúncio. E mesmo que não seja uma empresa, isso acontece com as (os) influenciadores digitais que também dominam esse mercado atual, transformando seu seguidores em produtos para trazer capital em forma de curtidas, comentários e visualizações.

Conclui-se que, somos escravos da tecnologia e a cada dia que passa se torna mais difícil de fugirmos dela, pois muitas vezes somos co-dependentes e até mesmo que tenhamos a consciência de seu lado obscuro, é muito complicado burlar esse sistema, mas nada é impossível, ainda mais compreendendo o grau de perigo que isso pode acarretar. Então, que tenhamos o poder de ponderar o que consumimos e principalmente compramos nas redes, pois muitas vezes somos influenciados inconscientemente a consumir coisas que não precisamos e às vezes, nem queremos.

Edição: Kauê Vitor

Revisão: Aline Priscila

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