Os desafios do artista independente

Apesar de oportunidades para divulgar trabalhos, artistas ainda sentem dificuldade em se firmar em espaços poucos explorados pela arte

Jornal Expresso
Portal Expresso
4 min readApr 9, 2019

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Julia Rodrigues

O termo “artista independente” é usado para denominar profissionais que contam apenas com seus próprios recursos — no caso dos artistas da área musical, não existe vínculo com nenhuma gravadora ou selo. É comum existir, portanto, a falsa sensação de que o artista independente é livre pra fazer o que quiser e ganhar o que puder, porém a independência hoje vai além disso, podendo ser sinônimo de segurança e também de incerteza.

Atualmente, a internet é a maior rede de difusão da arte independente, mas apesar de agir como auxiliadora desses artistas, possibilitando a publicação de musicas, divulgação de shows e interação nas redes sociais, os lucros obtidos com as mídias digitais não atingem o esperado no setor, mas esse cenário vem mudando à medida que o público começa a enxergar a arte independente e o mercado também se molda e se adapta às necessidades desses consumidores.

Infográfico: Digitais PUC-Campinas/divulgação

Uma opção para arrecadação é o chamado crowdfunding (financiamento coletivo) que consiste no investimento de pequenas quantias de dinheiro por várias pessoas, geralmente via internet, a fim de dar vida a algum projeto.

No meio musical, o sistema surge como uma nova alternativa para sustentar um trabalho artístico de maneira independente e contribui para uma aproximação entre o artista e o público. Um grande exemplo de crowdfunding aconteceu com a banda capixaba de hardcore Dead Fish, que em 2014 atingiu recorde de arrecadação somando um total de R$ 258.501 mil reais.

“A gente já tinha um certo peso quando nos lançamos no financiamento coletivo. Eu pessoalmente não entendia isso muito bem e passei a entender, mas de 2014 pra cá as coisas já mudaram muito. Hoje não faríamos mais naquele formato, mesmo tendo sido um sucesso naquele tempo”, afirma o vocalista da banda, Rodrigo Lima, sobre a ação de arrecadação.

O dito “peso” citado por Rodrigo é fruto de mais de 25 anos de carreira junto à banda, anos esses repletos de “benefícios, prejuízos e consequências”. Composto atualmente por Rodrigo Lima (vocal), Marcos Melloni (bateria) e Ricardo Mastria (guitarra), o grupo conquistou projeção no âmbito nacional e rompeu as barreiras da música independente.

Integrantes da banda Deadfish (Foto: divulgação)

Questionado sobre como é ser exemplo de sucesso para demais artistas independentes, Rodrigo destaca que o grupo foi “perseverante, folgado e vagabundo ao mesmo tempo. A gente faz por que ama estar nessa bagunça e sabemos das consequências”.

A atuação no interior e suas possibilidades

Longe dos grandes centros, existem os artistas independentes do interior, repleto de músicos, rappers, atores, dançarinos, artistas plásticos, entre outros — até o pessoal da feirinha de artesanato da cidade se enquadra na cena independente, pois trabalha pra si mesmo vendendo sua arte.

Músico Tchello (Foto: Washington Domingues)

Em Tatuí, interior de São Paulo, o Expresso conversou com o músico Tchello Gasparini, que se mantém hoje do trabalho independente.

O artista tem formação teatral e trabalha com música há muitos anos; apesar de ter composições guardadas, só fazia covers até então, mas há cerca de dois anos começou a tornar públicos seus trabalhos autorais. Relacionando-se com os gêneros rock, folk, blues e MPB, lançou álbuns e clipes em ação colaborativa com o estúdio fonográfico da Fatec de Tatuí. Em “A voz da cidade”, uma das músicas do artista, Tchello critica a falta de voz e oportunidade para juventude artística da cidade se mostrar.

O artista também dissertou sobre como é ser artista independente no interior. Tatuí, em especial, é dita a Capital da Música, detentora do maior conservatório da América latina, e forma músicos em massa na instituição. “Eu tinha muito medo de me considerar músico por conta da quantidade de gente estudando e se aprofundando aqui [conservatório] por anos”, destaca Tchello.

Por muito tempo, ele se auto intitulava “cantor de barzinho” até se dar conta de que o que ele fazia era realmente arte — segundo ele, “quando eu comecei a me encarar como músico, de fato, na capital da música, aí eu comecei a crescer”. Ainda hoje a produção autoral para ele é um caminho mais longo e mais lento, mas lhe traz inúmeros benefícios.

A cena independente no interior acontece de forma mais dura e real do que nas grandes metrópoles, mas os desafios e benefícios em ambas se expressam de um mesmo propósito: tornar público o próprio trabalho e viver dele.

“O maior desafio é entender que você vai aonde quiser, […] que é uma trajetória e não um fim em si”, Rodrigo Lima, vocalista da banda Deadfish

Edição realizada por Gabriela Prado.

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