Os reflexos de uma mídia sensacionalista no esporte paralímpico

Objetivando somente fins lucrativos, veículos de comunicação menosprezam o paradesporto

Jornal Expresso
Portal Expresso
3 min readMay 9, 2019

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Murilo Pereira

Quantas transmissões de esportes paralímpicos você já assistiu? Provavelmente pouquíssimas! Se esse universo for reduzido à TV aberta, a resposta será nenhuma. Todavia, essa postura dos veículos de comunicação é oriunda de um contexto socioeconômico que esmiuçaremos neste artigo.

Foto: iStock

Com o passar dos anos, aquela ideia de que as pessoas com deficiência são doentes está sendo deixada em um passado cada vez mais distante. O paradesporto, sem dúvidas, é um dos pilares desse processo lento e gradual. Contudo, o esporte adaptado ainda não alcançou um patamar de auto sustentação, recorrendo a mídia para fazer a ponte entre ele e a sociedade. Questionarei aqui os frutos dessa “parceria”.

Foto: Internet

Primeiramente, devo destacar o comportamento das emissoras nesse tipo de transmissão. Existem duas abordagens quando o assunto é esporte paralímpico: a comum na TV e a mais problemática é aquela que coloca em evidência a deficiência do atleta, rebaixando-o perante os telespectadores. Esse tipo de conduta sensacionalista da mídia torna o esporte melancólico, deixando em segundo plano toda a competitividade e o alto rendimento, que são os elementos apaixonantes do esporte olímpico, por exemplo. O ideal, que seria o foco único e exclusivo na parte esportiva, é notório apenas nas transmissões das páginas especializadas e em redes sociais.

Analisando os reflexos desse comportamento midiático na sociedade, tenho a convicção de que essa foi a origem da baixa procura por ingressos nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Com os ingressos vendidos na casa dos 20%, o Comitê Paralímpico Brasileiro foi obrigado a abaixar o preço de parte das entradas e doar a outra parte. Logo, a falta de interesse gerada pelos veículos de comunicação faz com que as pessoas que não são deficientes não procurem ter contato com essa realidade, os indivíduos que querem ingressar no paradesporto não conheçam as modalidades e os próprios paratletas não tenham o merecido reconhecimento.

Montagem: Bruna Carvalho.

Em questão de números, o cenário é um pouco melhor, mas ainda insatisfatório. Desde 2004, em Atenas, as coberturas dos jogos paralímpicos vem crescendo. Infelizmente, a maior parte dessa cobertura é destinada à TV por assinatura, a qual abrange a minoria nacional. Além disso, tal estrutura é montada somente em grandes eventos, como os Parapan e as paralimpíadas; porém, apesar da importância incontestável dessas duas competições em termos de desempenho, elas não são anuais. As competições nacionais e mundiais e algumas outras datas marcantes não são, ao menos, citadas. A mídia, neste caso, deveria diminuir sua busca incessante por pontos de audiência, pautados no sensacionalismo das deficiências, para cumprir seu papel social de trazer o caráter inclusivo ao esporte adaptado. A grande questão é que essa missão vai de encontro com a abordagem que gera lucro para os veículos de comunicação.

Aí fica uma indagação: vale mais o retorno financeiro ou desmistificar as diferentes realidades que as mais distintas modalidades englobam?

Edição realizada por Gabriela Prado.

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