Viva a vulva!

Jornal Expresso
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5 min readMay 27, 2021

Declare o seu amor pela vulva que possui diferentes cores, formas e tamanhos.

Aline Priscila

Foto: Hilde Atalanta.jpg

A maioria das mulheres foram ensinadas desde pequenas que a ‘’região íntima’’ tinha que ser íntima até delas mesmo, causando vergonha e constrangimento ao tocar, limitando o nosso autoconhecimento.

Isso contribuiu para que a anatomia, prazer e funções da região ficassem desconhecidos, como no caso da ex-bbb Gabi Martins, que durante uma prova de resistência contou que introduziu um absorvente interno no canal vaginal para segurar a vontade de fazer xixi durante a prova, gerando surpresas e piadas entre as pessoas por não saber a diferença entre uretra e o canal.

Mas a situação é a realidade de diversas mulheres que são ensinadas desde cedo a reprimir partes do corpo, principalmente a vulva. Mas nunca é tarde para aprender, não tem nada de mal com as vulvas, pelo contrário, amá-la é um ato de empoderamento e liberdade.

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O que vejo no espelho

‘’A primeira vez que peguei um espelho e olhei minha vulva fiquei constrangida, mas constrangida de quem? Era somente eu no banheiro’’, conta Vulva Mágica, como prefere ser chamada.

A entrevistada conta também que o processo de olhar com naturalidade para uma região do seu corpo, principalmente a vulva, foi construída aos poucos, como uma terapia. “Eu precisei lutar para olhar para ela, eu olhava com vergonha, como se aquela região fosse pecaminosa, mas era meu corpo, era meu e eu precisava conhecê-la.’’

Aos poucos a Vulva Mágica foi se libertando: através de vídeos e textos de empoderamento, ela conseguiu criar um vínculo natural com o corpo. “Encontrei diversas páginas nas redes sociais que falam abertamente sobre vagina, vulva, clitóris, etc. Esses conteúdos me ajudaram muito, hoje essa região é meu sagrado e não deixo ninguém dizer ao contrário’’, finaliza.

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Brasil é o país que mais realiza cirurgia íntima

O país é líder no ranking mundial de realização de ninfoplastia, procedimento cirúrgico que tem como objetivo diminuir os grandes lábios. Segundo levantamento feito pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil realiza por ano aproximadamente 21 mil intervenções íntimas, colocando o país em primeiro lugar no ranking mundial. Mas de onde vem tanta procura?

‘’Há mulheres que recorrem a este tipo de procedimento por questão de saúde, como dor e incomodo no sexo e ao usar roupas, mas a grande maioria é por pressão estética vinda da sociedade’’, explica Aisha Borges, sexóloga.

Para a sexóloga, a mulher vive em constante pressão, seja no trabalho, nas relações amorosas e com a estética. ‘’As propagandas de calcinhas são com imagens de uma região sem volume, a pornografia mostra mulheres lisas, sem pelos e com pequenos lábios, distorcendo a realidade da anatomia feminina, isso gera toda uma pressão e muitas vezes uma busca inalcançável com frustração no final, pois sempre terá um obstáculo de beleza imposto a ser cumprido.’’

Cheiro de flores não, cheiro de vagina

Perfume, spray aromático, sabonete, lenço umedecido, esses são alguns dos produtos criados para blindar o cheiro natural da região. Toda vagina produz corrimento, que são resultados da liberação natural de secreções e odores do processo da renovação celular, podendo mudar de aspecto e odor ao longo do ciclo menstrual.

Então o cheiro que produzimos é totalmente natural. Tanto que especialistas recomendam apenas água na vulva na hora da limpeza ou sabonetes com PH mais ácidos, semelhantes ao ph da vagina, além do mais a vagina é autolimpante. Logo, para que esconder o cheiro natural com produtos descartáveis e que podem causar danos à saúde e principalmente ao psicológico? Nosso cheiro não é sujo e não precisamos ter vergonha.

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Declare o amor por sua vulva

A ilustradora Hilde Atalanta criou o The Vulva Gallery, um livro que traz mais de 650 ilustrações de vulvas reais, depoimentos, saúde sexual entre outras. A ideia é mostrar a diversidade falando abertamente sobre o assunto, mudando a forma como olhamos para nossos corpos. O livro infelizmente não foi traduzido para o português, mas as ilustrações traduzem por si só, dando um espetáculo de diversidade com vulvas de todas as formas e cores.

No Instagram há também centenas de páginas que abordam o sagrado feminino. Como na página Preta Boa Influencer (@pretaboainfluencer) da criadora Vanessa Paz, que traz conteúdos sobre o corpo feminino que não encontramos em qualquer lugar.

‘’Pegue um espelho, olhem cada dobra, cantos, sintam a textura. Procurem conteúdos de mulheres reais com corpos reais, elas têm muito a compartilhar, e quando descobrirem todo esse poder compartilhem com as outras, essa é a sororidade que precisamos’’, finaliza Aisha.

Desconstruir o que fomos ensinadas a não mexer e conhecer não é fácil, leva tempo, conhecimento e requer calma e amor. Mas é importante quebrar preconceitos. Uma mulher que conhece a si mesma, o mundo não segura. Seja revolucionária.

E por favor: destruam o patriarcado!

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Edição: Monike Cruz

Revisão: Marina Norato

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