Você sabe qual o tamanho da sua responsa ao abrir uma empresa?

Raíssa Ramos
portalnaosei
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5 min readDec 18, 2018

Resolvi escrever esse texto para propor diálogo sobre um pensamento que anda rondando minha cabeça e minhas conversas, e que faz com que acredite que não temos outro caminho na criação de empresas.

Quando compreendi o que são os negócios sociais e como eles se colocam como uma opção para a economia, percebi que soavam como uma opção mais justa e equilibrada no que se diz respeito a abrir uma empresa na nossa atual sociedade. Acredito muito que esse é um ponto de vista que merece muito mais atenção, principalmente dos colegas empreendedores.

Você já ouviu falar no setor 2.5 da economia?

Para explicar o setor 2,5 eu precisarei falar sobre todos os setores. As atividades econômicas foram divididas em 3 setores de propriedade:

  • Primeiro setor: o Estado, poder público (Prefeitura, Câmaras, Governo Estadual/Federal)
  • Segundo setor: Instituições privadas que visam o lucro (Comércio, Indústria, Pipoqueiro da esquina)
  • Terceiro setor: Instituições privadas de interesse público e que não visam lucro (ONG’s, Associações, Cooperativas, Fundações, Entidades Religiosas)

O setor 2,5 fica entre o segundo e o terceiro setor (mercado e ONG’s) ligando o impacto social e/ou ambiental à lucratividade. É o espaço onde se localizam os negócios de impacto social!

Peguei essa imagem emprestada (😊) do site dessa galerinha legal 👉 http://www.umporcento.cc/quem-somos

Mas antes, vamos entender o contexto histórico?

As grandes empresas se consolidaram durante a revolução industrial através do desenvolvimento do processo produtivo, instituindo as produções em larga escala e a lógica econômica de exploração e acumulação de recursos.

Mariana pós desastre

Consequentemente, essas mesmas empresas assinam uma grande participação nessa culpa que todos compartilhamos pelos problemas ambientais e sociais trazidos pelo capitalismo. Um exemplo trágico e ainda fresco em nossas memórias (pelo menos eu espero que não tenham esquecido!) é a própria Samarco, empresa de capital fechado do setor de mineração que causou um dos maiores desastres naturais do país, em Mariana,matando 19 pessoas, poluindo 35 milhões de m³ de lama dos rejeitos de minério, matando 11 toneladas de peixes e desabrigando 239 famílias.

Se não olharmos para esses números como empreendedores, seremos irresponsáveis. Mais ainda! Seríamos completamente incoerentes se criássemos empresas que são sustentáveis apenas financeiramente, desconsiderando seu triplo impacto: financeiro, social e ambiental.

“Seríamos completamente incoerentes se criássemos empresas que são sustentáveis apenas financeiramente, desconsiderando seu triplo impacto: financeiro, social e ambiental.”

Impacto socioambiental é coisa séria!

Existe uma certificação (parecida com a ISO) chamada Sistema B, que trabalha com o intuito de garantir que as empresas atendam a esse triplo impacto. Auxiliando não só na criação de indicadores para mensurar o impacto causado pela empresa, como também na melhoria contínua delas diante desse impacto.

O Sistema B acredita que todas as empresas devem olhar para os indicadores de impacto social e ambiental com a mesma seriedade que se olha para os indicadores financeiros. E se você acha que não faz sentido para sua empresa que ela seja certificada como uma empresa B ( é assim que eles denominam as empresas que se certificam, fazendo uma referência as benefit corporations. Em tradução livre, as “empresas de benefícios”, são empresas que trazem benefícios à sociedade, sendo um novo tipo de CNPJ existente em alguns países. *Obrigada Ivy Frizo, pela correção!*), saiba que uma das maiores empresas do Brasil certificada é a Natura, uma empresa grande, com processos industriais complexos e que trabalha com uma linha gigantesca de produtos que poderiam, dentro da sua lógica natural, não se importar em nada com seu impacto negativo para a sociedade. Não digo que ela é uma empresa 100% responsável, não posso afirmar, mas ao se certificar, ela nos mostra que está em um processo de melhoria contínua para tornar o mundo um lugar melhor.

Diante de todas as perdas que nosso modelo de economia atual trouxe para o mundo, ver empresas criando essa consciência mesmo depois de grandes traz uma esperança, não acha?

Nós poderíamos ficar um tempão aqui conversando sobre como todo esse processo econômico deturpou valores e causou na sociedade a ilusão de que assim alcançaremos um desenvolvimento como seres humanos. Mas a minha proposta para hoje é trazer os holofotes para a relação entre o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico sustentável.

Precisamos entender que no contexto histórico a industrialização e esse “modus operandi” já fez sentido e foi necessário principalmente para nossa evolução tecnológica. Porém, não podemos passar a vida ignorando que precisamos mudar a nossa forma de fazer as coisas e principalmente de empreender para manter a nossa casa (planeta terra), saudável e realmente pensar na evolução da sociedade como um todo. E isso é enxergar e absorver sobre como a sociedade se transformou e vem se transformando, saindo da lógica hierárquica e indo para a horizontal. É mudar a chave do ego para o eco.

Mudança de paradigma do ego para o eco

Alinhando propósito e lucro

Esse é um ótimo resumo da proposta dos negócios sociais!

A ideia é:

  • impactar as pessoas e o meio ambiente de forma positiva e
  • ser sustentável financeiramente.

Você pode até achar que unir propósito com lucro seja utópico.

Mas pensa comigo: utópico mesmo não seria continuar criando negócios que não ampliem sua visão para as questões sociais e ambientais? Abrir uma mineradora sabendo que os minérios são finitos e que essas empresas são as que mais degradam o meio ambiente (vide a tragédia de Mariana e tantas outras que passamos somente nesse século)?

A verdade é que qualquer caminho diferente de alinhar propósito e lucro, pode fazer de você um empreendedor irresponsável.

#ProntoFalei

Pensar em todos esses impactos torna o negócio mais complexo, claro. Mas essa dificuldade é também acompanhada de uma satisfação e realização muito maior ao empreender. Vivemos muito disso na Avoa, empresa de Educação Empreendedora para impacto socioambiental da qual sou co-fundadora e estamos sempre buscando alinhar impacto social ao lucro, mas vou contar esse dia a dia em um próximo texto!

Agora que estamos na mesma página, me diz você:
não é tão utópico assim ser responsável social e economicamente, é?
Talvez seja só questão de alguns ajustes de valores. ;)

Agradecimento em especial pros editores/co-autores que sempre olham meus textos e dão sugestões fundamentais para vocês entenderem minhas ideias confusas, contribuindo com todo o aprendizado por trás desse texto! Ana Raquel Calháu Pereira, André Lanari e Jéssica Fernanda

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Raíssa Ramos
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