“EU NUNCA”: vale a pena assistir?

Clara Duque
Pixel Up
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6 min readMay 18, 2020

Never Have I Ever (traduzida como “Eu nunca”), é mais uma série original da Netflix, escrita e produzida por Mindy Kaling, e estreou no dia 27 de abril! Acho que a trama pode ser considerada uma “dramédia”, porque conta os dramas de uma adolescente, mas com comicidade. É aquela série que dá pra rir e chorar (talvez os dois ao mesmo tempo!). Vamos descobrir se vale a pena mesmo assistir? Se liga, e cuidado com os spoilers!

Colagem feita pela equipe Pixel Up para divulgação do episódio.

Devi Vishwakumar (interpretada por Maitreyi Ramakrishnan) é uma adolescente indiana de 15 anos, nascida e criada em Sherman Oaks, Califórnia. Tudo começa quando seu pai tem um infarto numa apresentação da orquestra em que Devi tocava harpa. Mohan (Sendhil Ramamurthy), pai dela, acaba falecendo. Devido ao estresse traumático, Devi perde o movimento das pernas por meses, e precisa ir de cadeira de rodas pra escola. Se ela já era esquisita antes, agora ela era a “aberração” que não tinha explicações plausíveis para se tornar paraplégica de um dia pro outro. Nesta temporada de estreia, vamos acompanhá-la no seu primeiro dia do 2º ano do ensino médio. Como sabemos, adolescentes são problemáticos. Então, é esperado nos depararmos com muita confusão!

Devi, a protagonista da série.

Para transformar em “águas passadas” todo o trauma de ter perdido seu pai e ter andado de cadeira de rodas por 3 meses, ela decide se tornar descolada, já que voltou a andar (de uma forma quase milagrosa), e diz às suas melhores amigas, Fabiana Torres (Lee Rodriguez) e Eleanor Wong (Ramona Young), que as três precisam arranjar namorados URGENTEMENTE (porque é o primeiro passo para que elas sejam realmente populares, na cabeça adolescente de Devi. E, bem… a gente entende, né? We’ve all been there!). Uma coisa bastante interessante é que a tríade de amigas é composta por mulheres de cor: Devi é indiana, portanto, parda; Eleanor é asiática; e Fabiola, por sua vez, é latina e negra de pele clara (se tiver dúvida sobre isso, pesquise sobre colorismo! É bem interessante entender a variedade de cores de pele).

Da esquerda para a direita: Fabiola, Eleanor e Devi.

Algo bem bacana é que Devi, Fabiola e Eleanor são dos clubes “caretas” do colégio: Devi é da orquestra, Fabiola é capitã do time de robótica e Eleanor é a presidente do clube de teatro. Gostei bastante disso, porque deixa claro que a amizade delas não é baseada no quão idênticas elas são entre si (até porque não são em quase nada), mas sim nas diferenças entre as três. Cada uma tem um tipo de inteligência, e, portanto, personalidades distintas. Isso é muito legal de ser abordado, porque pode trazer a sensação de identificação e representatividade para quem assiste.

Porém, mesmo que se sintam bem em serem super inteligentes, elas são motivo de piada pro resto do colégio: o apelido das três é ONU, e este apelido veio da mente brilhante de Ben Gross (Jaren Lewison), arqui-inimigo de Devi. Quando ela o questiona sobre esse apelido racista e ofensivo, ele responde algo como “Ah, você acha que é ONU de Organização das Nações Unidas? Não. Vocês são a Organização das Nojentas Unidas” (SENDO QUE: na versão original, é UN (United Nations), mas o que ele quer dizer é unfuckable nerds: tipo, como se por serem nerds, elas nunca irão transar, e, por isso, morrerão virgens. Olhando por este prisma, fica mais fácil de entender o porquê de Devi querer tanto perder a sua virgindade, como uma maneira de “provar” que ela pode fazer o que quiser).

Reprodução: Netflix. Montagem: Pixel Up.

O grande “problema” é que Devi quer ter a sua primeira vez com ninguém mais ninguém menos do que Paxton Hall-Yoshida (Darren Barnet), o famigerado atleta popular que comumente nos deparamos em séries e filmes teen. Num impulso, Devi o chama pra ter relações sexuais, e, para sua surpresa, Paxton aceita. Porém, com o passar dos dias, ela percebe que não está pronta pra perder a sua virgindade, porque não sabe nem o que precisa fazer. Nesse ponto, dá pra gente lembrar da importância que é abordar sobre educação sexual nas escolas. Uma cena engraçada é quando Devi, Eleanor e Fabiola fazem o seguinte questionamento: “Se as pessoas idiotas sabem transar, por que a gente não pode aprender?”.

Outro ponto que considero um diferencial, é que a série é narrada, em sua grande parte, por John McEnroe, tenista famoso (de verdade, não só na série!), que é adorado por Mohan. Poucas são as séries que exploram um narrador-personagem, né? Comumente, vemos isso acontecer em livros. No episódio 6, intitulado “… fui o garoto mais solitário do mundo”, há a troca de narradores: neste único episódio, somos agraciados com a voz ilustre de Andy Samberg (SIM, o queridíssimo Jake Peralta, de Brooklyn Nine-nine!!!!). Por mim, o narrador fixo poderia ter sido o Andy (sorry, McEnroe… ya kinda boring! [nine-niners… vocês pegaram a referência, né?]), mas tudo bem. A série não deixa de ser boa só por isso! ;) Porém, claro: McEnroe faz muito mais sentido, porque é como se fosse uma memória constante de Mohan, já que percebemos durante toda a narrativa, principalmente nas sessões de terapia com a Dra. Jamie Ryan (Niecy Nash), que Devi não conseguiu superar a morte do pai. Como se ela tivesse pulado alguma fase do luto ou não quisesse vivê-lo, algo assim.

Reprodução: Netflix. Montagem: Pixel Up.

Também nota-se que Mohan era o elo entre a família. Depois de sua morte, Nalini (Poorna Jagannathan) e sua filha, Devi, estão cada vez mais distantes. A relação mãe-filha não é das mais saudáveis, principalmente porque elas descontam suas frustrações uma na outra. O resto da família de Devi é muito tradicionalista, incluindo sua própria mãe, Nalini: Kamala (Richa Moorjani), a prima indiana com o estereótipo de “musa irresistível”; e o seu tio Aravind (Iqbal Theba, o mesmo ator que interpretou o diretor Figgins em Glee! Adorei revê-lo ♥). É interessante ver como Devi se identifica pouquíssimo com a cultura indiana, principalmente quando a comparamos com seus familiares.

Reprodução: Netflix. Montagem: Pixel Up.

Por último, mas não menos importante, sabemos que a fase da adolescência é um grande limbo entre não ser mais criança e não ser velho demais pra tomar suas próprias decisões, mas, ao mesmo tempo, precisamos começar a pensar por si mesmos. Fica meio complicado quando estamos imersos numa sociedade cheia de padrões e tabus? Sim! Mas, é uma fase da vida, como todas as outras. Por isso, por mais imatura e impulsiva que Devi seja, eu tenho empatia pela personagem e entendo que ela ainda vai amadurecer. Quem nunca pensou e fez besteiras na adolescência, né?! ;p

Da esquerda para a direita: Devi, Kamala e Nalini, conversando com as “tias” no Ganesh Puja.

Se o seu problema é encontrar tempo… Sinto muito, mas dá pra ver a série em um dia (sério!), porque a primeira temporada tem 10 episódios e todos eles com menos de 30 minutinhos! Como não ama uma série curtinha, né? Pra você ter certeza que vale a pena dar uma chance à Eu nunca, assista ao trailer:

Obrigada por ter lido até aqui! Até a próxima :) ♥

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Clara Duque
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Fascinada por arte e a mente humana. Amo ler e escrever também. Se pudesse me definir com uma palavra, seria artista: porque arte flui daqui de dentro! ♥