God Of War Nord

Cayo Cesar
Pixel Up
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5 min readApr 22, 2019

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Desenvolvido e publicado por: Santa Monica Studio

Plataformas: PS4 (2018)

“A raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram.”
- William Shakespeare.

Sangue, vingança e hordas de inimigos. Caso alguém me perguntasse anos atrás qual seria a minha percepção sobre a série de jogos com o título “God Of War”, essa seria a resposta que lhes daria, sem titubear. No entanto, seria uma barbaridade afirmar que o último título é diminuto o bastante para ser resumido nestes três pilares que sustentaram a diversão de tantos jogadores nas edições anteriores. God Of War Nord é muito mais do que isso. Claro, ainda temos muito sangue e hordas de inimigos, mas a ausência da vingança cega e indiscriminada na jornada do herói o coloca em um lugar de desenvolvimento e complexidade. O Kratos que conhecemos ainda existe, mas ele amadurecera e aprendera com seus erros, tornando-se sábio e menos inconsequente. Além disso… Agora ele é pai. Como sempre, vale salientar que esta dissertação não valerá de spoilers, tendo como proposta a reflexão acerca da obra de forma a agradar aqueles que a consumiram e os que ainda não o fizeram.

Atreus, também conhecido como “garoto”, faz parte da jornada de Kratos quase que de maneira integral, auxiliando-o nos combates e na leitura de runas e de diferentes idiomas que os dois encontram pelo caminho. É admirável como a construção do personagem se dá, com a ideia explícita de que Atreus é um garoto curioso e energético; Fugindo de seus sentimentos em relação à morte da mãe, a pessoa que lhe criara e que lhe ensinara tudo o que ele considera justo e bom. Por outro lado, havia a figura de seu pai, que sempre lhe fora distante e pouco afetiva. Com a partida de sua mãe, Atreus agora se via no lugar de conhecer melhor o seu pai, a única pessoa que lhe sobrara na vida. A relação entre os dois personagens é minuciosamente bem trabalhada, através de expressões e gestos sutis que afirmam a construção de um vínculo que de forma crescente nos prende e nos deixa curiosos quanto à como aquele convívio irá se desenrolar. Nesta relação, vemos algo inimaginável para aqueles que conheciam o Kratos antes de sua extensa e misteriosa viagem até a terra dos nórdicos, Midgard: Um Kratos que ama. Que conseguiu ainda ser capaz de amar, depois de tudo o que lhe aconteceu na vida; Apesar de se reter a não demonstrar esses sentimentos, o Deus da guerra, de sua própria maneira, lamenta a morte de sua esposa e se importa imensamente com seu filho.

O que você faria caso não pudesse sentir nada? Sim. Nada. Você não poderia chorar quando perdesse alguém amado, alegra-se quando ganhasse um presente ou sentir medo quando dois caras em uma moto lhe encarassem em uma rua escura. Esse era o drama de Baldur, mesmo que não existissem motos naquela época. O personagem surge de maneira inesperada, surpreendendo o próprio Kratos quanto à sua presença inusitada, batendo à sua porta e parecendo saber mais do que seria possível. Baldur é o principal antagonista do jogo, sendo responsável, em minha opinião, pelas lutas mais bem feitas e mais incríveis de toda a franquia. Sua história é profunda e bem construída no jogo, mas indico que os amantes de mitologia nórdica procurem sobre os contos de Baldur, podem acabar se impressionando.

É impossível jogar God Of War Nord sem despertar percepções pessoais quanto aos cenários magníficos e bem trabalhados que circundam o jogo. Midgard, por sua vez, é uma terra solitária e abandonada, mas que de certa forma ainda me causou fascínio por sua deslumbrante diversidade de maravilhas naturais, como cervos com chifres grandes e brilhantes até localidades tão místicas que poderiam apenas existir no fabuloso mundo da ficção, onde o limite é a imaginação. Sempre lembrarei do jogo com nostalgia quando minha mente tropeçar nas paisagens daquele mundo que parecia ter tanta coisa para me contar. A complexidade das ambientações criadas pelos desenvolvedores não param por aí! Além de Midgard, existem mais cinco reinos no jogo em que os protagonistas se aventuram, cada um com suas tonalidades e particularidades distintas, no entanto, deixarei a experiência única de explorar cada um deles com vocês.

God Of War não seria God Of War sem tiro, porrada e bomba, não é mesmo? Tá… Talvez não tenham tantas bombas assim, mas o que não falta no jogo é violência! Muito mais complexo que seus antecessores, o jogo trás uma enorme árvore de habilidades, níveis de personagens e diferentes equipamentos que podem ser criados com os lendários anões da forja Brok e Sindri, que auxiliam Kratos na implementação de suas armas. A sua “Build” irá depender do seu estilo de jogo, abrindo espaço para diferentes posturas de combate e evitando a famosa uniformidade de status. O Atreus tem um forte papel no combate, podendo com suas diferentes flechas nocautear ou eletrocutar os inimigos; Ele também pode carregar pedras que revivem o seu pai quando necessário e utiliza diferentes roupagens que lhe dão habilidades diversas.

Quanto a Shakespeare… Achei por bem começar este texto com aquela citação, visto que apesar de ser trabalhada em uma linha metafórica, a ideia pode muito bem ser transferida para o concreto quando estamos falando de Kratos. Aonde o ódio o levou? A perder tudo o que ama. Kratos perdeu sua primeira família para o ódio, assim como sua humanidade e seus sentimentos, sua vontade de viver e suas convicções, sendo dominado apenas por vingança. Ainda utilizando de Shakespeare, pode-se dizer que Kratos aprendeu a não tomar o frasco do ódio todo de uma vez, afogando-se em seu veneno e traindo-se a si mesmo, mas sim, a abrir este frasco e sentir sua flagrância horrenda para utilizar o ódio como arma, sempre focado em seus objetivos e determinado a não voltar a ser o monstro que odiou ter sido acima de todas as coisas, até mesmo dos Deuses.

Para finalizar, gostaria de indicar o trabalho do músico e compositor Bear Mccleary, responsável pelas trilhas sonoras do jogo. Em especial, indico fortemente a trilha de mesmo título, “God Of War”, ótimo para ambientações em sessões de RPG!

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Cayo Cesar
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