Cayo Cesar
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4 min readJan 31, 2019

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O que dizer sobre Green Book?

O “Green Book” que dá nome ao filme nada mais é do que um guia de viagens utilizados por pessoas negras na época da segregação racial dos Estados Unidos, que tinha como objetivo auxiliar o cidadão negro a evitar inconveniências e constrangimentos através de listagens práticas de motéis e hospedarias que os aceitariam como hóspedes. Dito isto, pode-se começar a falar deste filme; Bem dirigido por Peter Farrely e roteirizado por Brian Hayes Currie, Nick Vallelonga e Peter Farrelly.

Antes de começarmos, vale salientar que aqui serão analisados aspectos pessoais do filme quanto à minha experiência com ele e que não haverão spoilers quanto ao enredo do longa. O filme se passa em 1962 e gira em torno da relação do personagem ítalo-americano Frank “Tony Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen — Senhor dos Anéis) e do pianista negro “Doc” Don Shirley (Mahershala Ali — Moonlight). Aqui, chamaremos o personagem de Mahershala, Don Shirley, de Doc; Apelido este atribuído a ele pelo personagem de Viggo, Frank Vallelonga, o qual chamaremos de Valle (Segura essa referência!). Uma pequena curiosidade notada por mim ao pesquisar um pouco sobre a parte técnica do filme foi o fato de que o personagem Frank tem o nome e o sobrenome do irmão de um dos roteiristas, Nick “Vallelonga”, que por sinal, assim como o personagem, também tem descendência italiana! Coincidência? Eu acho que não.

A aventura começa quando Valle precisa de um emprego e acaba por ser indicado por um amigo de conveniência (conveniência esta criada pelo próprio Valle) a um excêntrico pianista negro. A este ponto, pode-se notar um tênue destaque que diferencia os dois personagens. Enquanto Valle é branco, se encontra em uma situação financeira pouco favorável e abraça um estilo de vida condizente com os princípios filosóficos do que chama-se Carpe Diem (Aproveite o momento); Doc é negro, tem uma ótima situação financeira e estilo de vida de auto limitações. O desenvolver da relação dos dois se dá quando, como motorista de Doc, Valle o leva a diversas cidades dos Estados Unidos para sua turnê musical.

Doc Shirley e Nick Valle

É fascinante observar a forma a qual os dois personagens entrelaçam suas personalidades opostas e se relacionam, aprendendo um com o outro e aprimorando-se moralmente ao decorrer do filme. Diversas cenas evidenciam o racismo gritante da época da segregação, onde um homem negro era contratado para tocar em um restaurante de luxo ou em uma boate apenas por status, no entanto, quando descia do palco se tornava apenas mais um “negro”. O filme é uma jornada em busca de pertencimento por parte de Doc e, embora Valle não percebesse isso, aos poucos estava se afeiçoando de forma significativa a um homem negro, o que para ele, meses atrás seria simplesmente um absurdo. (Nesta época, podia-se dizer que o racismo era normal e corriqueiro, não sendo, inclusive, criminalizado ou visto de forma antiética).

O que dizer?

Tendo vencido as premiações de Melhor ator coadjuvante, Melhor filme cômico ou musical e Melhor roteiro de cinema no globo de ouro e sido indicado no Oscar nas categorias de Melhor filme, Melhor ator, Melhor ator coadjuvante, Melhor roteiro original e Melhor montagem, digo com segurança que o elenco escalado para o filme merece meus parabéns. Viggo Mortensen e Mahershala Ali abraçaram o papel e mostraram uma boa química em tela. O sotaque italiano de Viggo me convenceu dada sua naturalidade e Mahershala encenou dramaticamente de forma fenomenal durante o longa, além de ter feito performances exemplares ao tocar o piano. Ao contrário do que pode-se imaginar, o filme passa constantemente de drama a comédia, e esta frequente mudança de tons não me preocupou nem um pouco, visto que os momentos tensos pareciam estar em uma luta constante contra os momentos cômicos e de descontração, como em um equilíbrio prazeroso de se acompanhar. É um ótimo filme para se ver sozinho ou com amigos, com uma trilha sonora muito envolvente (recomendo Old Black Magic do Harold Arien).

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Cayo Cesar
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