Red Dead Redemption 2

Cayo Cesar
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Published in
7 min readMar 20, 2019

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Desenvolvido e publicado por: Rockstar Games

Plataformas: PS4 (2018), XOne (2018)

“ Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo.”-Confúcio 551A.C — 479A.C.

Chama-me a atenção o quão delicado pode ser Red Dead Redemption 2 quando a temática de preceitos morais é levantada; tratando-se do caráter dos personagens. Seus alinhamentos e sensos de moralidade não podem ser simplesmente julgados através da análise de seus respectivos estilos de vida, atrelados às suas ações, como será visto nesta análise. Vale salientar que esta dissertação não irá estragar em nenhum aspecto a experiência magnífica que este jogo proporciona, não havendo assim, a presença de Spoilers no desenvolvimento destes pensamentos.

RDR2 ( Para todos os efeitos, usaremos esta sigla daqui para frente para se referir ao jogo) é um jogo de faroeste (ou western) desenvolvido pela Rockstar Games e lançado mundialmente em 26 de outubro de 2018. Trata-se de uma prequela do primeiro jogo, ou seja, trata de eventos que ocorreram antes mesmo da narrativa de seu antecessor ter início.

Ao começar o jogo, você está na pele do fora da lei Arthur Morgan, um homem de 43 anos que vaga com uma caravana de homens e mulheres comandada por Dutch Van der Linde, seu líder. Ao decorrer da narrativa, as relações entre os personagens são evidenciadas e alteradas conforme o desenvolvimento da história, o que me chamou bastante a atenção, por ser algo que fez com que eu me importasse com os personagens, devido ao cuidado trazido pelo roteiro ao demonstrar com tanta clareza as suas qualidades, defeitos e traços de personalidade.

Em um mundo aberto grandioso e rico em detalhes e segredos, é natural sentir-se ansioso e tentado a conseguir um bom cavalo (seja roubando-o ou comprando-o) e equipando-o para galopar. O jogo conta com cavalos de diferentes tamanhos e raças, cujas competências mudam conforme o escolhido, e ainda, você pode equipa-los! Não há nada melhor do que fazer compras para o seu cavalo, deixá-lo sempre com os pelos brilhando, mudar seu visual e coloca-lo uma boa cela. Depois de certo ponto eu havia me envolvido tanto com meu amigo equino que me senti mal por faze-lo cair em uma travessia desastrada, sentindo-me sempre na obrigação de ir até ele para alimentá-lo com biscoitos de aveia (melhor comida para cavalos!) e, claro, fazer-lhe algum carinho como pedido de desculpas. Recomendo fortemente a raça Black Arabian, um cavalo pequeno, rápido e resistente. Deixando agora estes animais fantásticos de lado, vamos falar de cenário.

O jogo é repleto de cenários incríveis e bem trabalhados, o que me forçou por diversas vezes a parar e observar um pôr do sol ou até mesmo um lago qualquer. É como se o mundo em que eu estivesse explorando falasse comigo, dissesse “Eu estou aqui e tenho muito para oferecer”. Por diversas vezes, eventos independentes acontecem ao redor do jogador… Brigas entre npcs, animais carnívoros caçando, entre outras experiências legais que você só consegue testemunhar explorando. A exploração é ampla e você pode passar o tempo caçando animais selvagens, coletando colecionáveis, seguindo mapas do tesouro, fazendo missões secundárias e, por último mas não menos importante: Realizando os chamados “eventos aleatórios”, que se tratam de situações envolvendo pessoas encontradas de maneira randômica no mapa, como por exemplo, um evento que se tornou viral na época de lançamento do jogo, em que é possível encontrar com o Arthur em meio a florestas um culto da KKK (Klu Klux Klan), havendo sempre, é claro, a decisão de ignorá-los ou dizima-los por completo. (A segunda alternativa é de fato mais satisfatória e divertida, ainda mais quando incluímos dinamites na equação…).

Se o seu objetivo ao jogar algo é passar horas a fio tentando de novo e de novo superar os desafios propostos, RDR2 pode não ser um jogo para você. O jogo não é difícil… Seu foco não é a dificuldade em si, é a riqueza de detalhes que o jogo lhe trás, tornando a sua experiência esplêndida. O sistema de combate é simples e para se dar bem no jogo basta conseguir covers satisfatórios (Desde esconder-se atrás de uma porta até agachar-se atrás de balcões, caixas, barris ou outros diversos elementos do cenário que possibilitem uma boa cobertura) e utilizar de seu grande arsenal de armas (Existe a limitação de carregar até quatro armas consigo, sendo duas destas revolveres ou pistolas. Sempre é possível trocar as suas armas em seu cavalo). Depois disso, é só “meter bala” no bom e velho estilo faroeste que todos conhecemos e amamos até que todos os inimigos tenham ou fugido (nesse caso, pode-se sempre persegui-los) ou morrido. Mas calma, não abandone o texto se o seu objetivo era apenas o combate! Eu apenas disse que ele não é tão desafiador, nunca me passou pela cabeça dar-lhes a impressão de que não é algo divertido. O combate conta com uma dinâmica já presente no primeiro jogo, o “Eagle Eye” que nada mais é do que uma função que o jogador pode utilizar para diminuir o curso do tempo ao mirar, marcando alvos e acertando-os nos locais designados de uma só vez posteriormente. É uma das melhores e mais satisfatórias experiências de combate que já tive a oportunidade de utilizar, é muito gratificante ver cabeças explodindo em câmera lenta! (Por mais estranha que essa última frase possa parecer).

Eu não poderia me perdoar caso terminasse essa escrita sem citar uma das experiências mais divertidas que tive com o jogo, e logo depois de registrá-la aqui, concluiremos nosso pensamento com um pretexto mais filosófico. Essa experiência se trata de um ocorrido em Valentine, em que eu estava entrando em um Saloon e acabei por esbarrar em um sujeito, que me xingou pelas costas. Eu, como o bom fora da lei que sou, deixei o incidente passar. Entrei no Saloon e pedi um Whisky, e então, quase que imediatamente, escuto provocações a meu lado: Viro a câmera para a esquerda e me deparo com o mesmo sujeito que havia esbarrado no pobre e despretensioso Arthur, que estava ali apenas para uma reles saideira. Pensei comigo mesmo, “Você teve a sua chance, amigo…” E o hostilizei. E então, essa foi a minha maior surpresa: O sujeito me chamou para um duelo! Como já estava farto dele, decidi aceitar. O acompanhei até a parte da frente do Saloon e nos distanciamos para dar início ao duelo, e quando eu estava pronto para sentar o dedo no gatilho… O miserável caiu no chão, morto de bêbado! E foi nesse dia que Arthur Morgan quase participou de um duelo.

Ying Yang

Agora tomando ares mais sérios… O texto começou com uma citação de Confúcio, um pensador e filósofo chinês do período das primaveras e outonos. Achei por bem trazer esta citação logo no início da análise, visto que RDR2 trata exatamente do limiar entre bondade e maldade. O que torna um homem mal? O fato de matar? O fato de roubar? Não entrarei no mérito de decidir o que define a natureza do homem, visto que durante séculos a humanidade ainda não conseguiu entrar em um consenso sobre o assunto, no entanto, RDR2 prova artisticamente, de maneira concisa, que sempre pode existir bondade por trás de todo e qualquer vestígio de maldade que corrompe o coração do homem. E você? É um homem mal, ou um homem bom com um resquício de maldade presa dentro de seu peito?

Uma última constatação que teria a fazer, seria quanto à trilha sonora do jogo. Ela é simplesmente fenomenal! Indico plenamente para qualquer um. Toda a parte vocal da trilha foi protagonizada por Daniel Lanois, em colaboração com o inovador músico Brian Eno.
A minha trilha favorita chama-se Cruel, Cruel World. E a de vocês?

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Cayo Cesar
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Estamos vivos até que se prove o contrário.