Conflito de interesses: as intenções dos EUA ao questionarem impunidade da Venezuela

Governo americano reclama de excesso de atenção dada a Israel e ameaça deixar Conselho de Direitos Humanos da ONU

Emanuela Souza
Portal Vertentes
4 min readJun 26, 2017

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A s polêmicas envolvendo o atual governo dos Estados Unidos não param. Na última terça-feira, 06, a embaixadora Nikki Haley, em reunião como os membros do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, anunciou que o governo americano avalia a retirada do país do comitê. O motivo seria o foco dos debates nas questões de Israel, enquanto os líderes não propõe medidas quanto aos acontecimentos na Venezuela.

O Conselho de Direitos Humanos é um órgão criado em 2006 que sucedeu a Comissão de Direitos Humanos da ONU. Ele visa defender os direitos básicos da população mundial, unindo líderes de diversos países. Apesar disso, os EUA resistiram por muito tempo em participar da bancada. Na época, o presidente George W. Bush não viu a iniciativa com bons olhos, preferindo usar métodos próprios na luta pelos direitos iguais. Apenas em 2009, com as mudanças nas políticas de combate ao terrorismo da gestão de Barack Obama, o país assumiu sua cadeira.

É necessário ressaltar que Israel é parceiro político e econômico dos Estados Unidos desde sua criação em 1948. Essa união ganhou mais força durante a Guerra Fria, devido a interesses em comum no Oriente Médio. Vale lembrar também que o conflito em Israel já é antigo e vem se alastrando desde a tomada de terras palestinas. O embate atingiu seu ponto crítico após o assassinato de três jovens israelenses, culminando com o atual conflito na Faixa de Gaza. Desde então, os Estados Unidos oferecem apoio militar e econômico, mantendo o poderio israelense.

Embaixadora dos EUA, Nikki Haley, na ONU. Foto: REUTERS / Denis Balibouse

Conflitos na Venezuela

Mas se há um conflito a ser resolvido em Israel, por que a Venezuela seria motivo de saída dos EUA da Comissão da ONU? A Venezuela vem passando por tensões políticas desde 2013 com a eleição do presidente Nicolás Maduro. A população está insatisfeita com a crise que vem se alastrando pelo país, e causa a falta de alimentos, violação dos direitos humanos, criminalidade, dentre outros danos. Porém, muito antes disso, há um conflito interno entre venezuelanos e norte-americanos, no qual o país latino acusa o Governo Bush de apoiar o golpe de 2002. A Venezuela enxerga os EUA como adversário de interesses latino-americanos, por esse motivo suspendeu as relações econômicas com o país e retirou embaixadores norte-americanos de seus territórios.

As tensões políticas e econômicas entre Venezuela e Estados Unidos estão chegando a níveis críticos. Com isso, os EUA estão usando sua influência sobre o Conselho para penalizar o adversário e ao mesmo tempo beneficiar seu parceiro, Israel. Entretanto, é necessário analisar que as intenções do governo norte-americano vão muito além da garantia dos direitos humanos. É importante destacar o enorme estoque de petróleo venezuelano que desperta interesse de diversos países, inclusive dos Estados Unidos. Muito além que uma união filantrópica, a parceria com Israel também envolve exploração de recursos naturais do país. A estratégia norte-americana envolveria o enfraquecimento do governo venezuelano, para posteriormente retomar as alianças com o país.

E se os Estados Unidos saírem?

Caso os Estados Unidos deixem o Conselho, o governo americano pode tentar influenciar outras nações, diminuindo a credibilidade da bancada. Para o estudante de história Erik de Lima Correia, essa saída também pode estar relacionada ao debate sobre as mudanças climáticas, o que poderia explicar a saída do governo norte-americano do Tratado de Paris. “A situação é nebulosa. No entanto, a possível saída dos EUA do Conselho pode estar relacionada à questão da mudança climática. Podemos dizer que o atual presidente, Trump, ressaltou em inúmeros dos seus discursos que não acredita na questão das Mudanças Climáticas, tendo feito os EUA saírem até do Acordo de Paris. Nesse sentido, com Trump no governo, temos os reflexos do passado atingindo novamente a posição dos EUA perante o Conselho”, afirma.

Conselho de Direitos Humanos em Genebra. Foto: Elma Okic/ONU

É válido destacar ainda que atualmente as influências políticas e econômicas são os fatores que movem as relações entre países. A saída dos Estados Unidos do Conselho pode resultar no receio de outros Estados sobre a eficácia do comitê. Enquanto os EUA forem o carro-chefe das decisões mundiais, viveremos em um monopólio norte-americano, onde o destino de vários países é decidido a partir do que for mais benéfico para as relações internacionais de uma única nação.

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Emanuela Souza
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Escritora por natureza, Jornalista por instinto. Apaixonada por palavras e pelos universos proporcionados por elas.