Feira no ramo do vestuário é alternativa para aquecer o mercado confeccionista de Divinópolis

Luana Natacha de Oliveira
Portal Vertentes
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5 min readSep 6, 2017

O ramo da confecção em Divinópolis iniciou-se na década de 70, quando o setor siderúrgico vivia uma grande crise com demissões em massa. Com maridos desempregados, muitas mulheres tiveram que buscar diversos meios para ajudar na renda de casa e, assim, surgiram muitos trabalhos informais e, com eles, o início das primeiras fábricas de roupas. À medida que o próprio negócio crescia, elas passaram a contar com a colaboração dos maridos. No final dos anos 70, apoiada por empresas têxteis, a produção no setor passou a ser quase exclusivamente voltado ao jeans. Com o forte desenvolvimento, outros estilos passaram a ser fabricados e diversificou a confecção na cidade. No final dos anos 90, houve caos no setor e a a oferta tornou-se maior que a procura. Muitas fábricas produziram grandes quantidades de peças de modismo sem se preocupar muito com a qualidade, pois o objetivo era atingir uma grande quantidade na linha de produção.

7ª Edição da Feira Minas Veste Brasil — Centro de Eventos DaVinci, Divinópolis-MG (Créditos:Luana Natacha)

De acordo com o artigo escrito pelo jornalista e professor universitário Rodrigo Bessa — “Os processos produtivos do setor confeccionista de vestuário de Divinópolis: cenário de crise, produtos falsificados e modismo” — a cidade, no ano de 1970, possuía 216 estabelecimentos industriais com 3 mil funcionários e, na época, o setor ocupava o 7º lugar no estado de Minas Gerais. A partir da profissionalização, houve a sinalização de bons tempos para o mercado e, em 20 de março de 1989, o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (Sinvesd) foi criado. Filiado à Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o sindicato objetiva representar as indústrias da confecção e, também, promover o fortalecimento da classe, estimular a competitividade e fomentar o desenvolvimento. A cada dia, o setor se desenvolvia mais economicamente e trazia bons resultados para Divinópolis. Não só lojistas locais eram atraídos, mas, também, empresários e compradores de diversos lugares do Brasil. Era visível o número de ônibus de diversos estados e cidades que vinham, semanalmente, a Divinópolis para realizar suas compras. Mas foi apenas em 1996 que a cidade, considerada como a maior do Centro-Oeste de Minas, foi reconhecida por compradores atacadistas como polo confeccionista. Houve a inauguração do Divishop e, em seguida, vieram outros shoppings: Oeste Center, JK, Center Plus, Planeta Shop, Divimodas e Pátio Divinópolis, além das lojas da Rua Pernambuco que se tornou a “avenida” da moda e a referência para clientes locais e compradores externos.

Mas como a economia passa por oscilações, o mercado confeccionista viveu um caos nos anos 2000: houve queda nas vendas e, mais uma vez, a quantidade da linha de produção prevalecia mais do que a qualidade. Em 2008, a crise financeira internacional provocou uma grande desestabilização na economia, o que fez que com que as pessoas mudassem seus hábitos de consumo e, desde 2014, o Brasil vem enfrentando novamente uma grande crise na economia e na política, com um mercado instável. Mas, em meio a tanto caos e reajustes, os grandes prejudicados são os trabalhadores e os empresários. Para se manterem no mercado, tem sido necessárias algumas mudanças, entre elas, a redução no quadro de funcionários e o reajuste nos preços.

Prática à pesquisa: alunos de moda do Cefet produzem relatório sobre o ramo

O Núcleo de Pesquisas do Vestuário (Nupev) do Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais (Cefet) — Campus V realiza, desde agosto de 2010, a obtenção dos dados referentes à área do vestuário por meio do Monitoramento Socioeconômico do Setor Vestuário no Município de Divinópolis. O monitoramento é orientado pelo coordenador do curso de Produção de Moda, professor Antônio Guimarães Campos, e em 2017, obteve os seguintes resultados: em maio, o relatório detectou, no polo confeccionista de Muriaé, a criação de seis empregos no referido mês, enquanto Divinópolis contabilizou 112 desligamentos. No entanto, em março e abril, o saldo de admissão foi positivo: foram abertas 35 e 22 vagas, respectivamente. Já no relatório de junho, Belo Horizonte obteve o melhor resultado, com a criação de 21 empregos na área confeccionista, enquanto que o pior resultado ficou para Divinópolis: foram 213 desligamentos no mesmo período, o pior saldo nos últimos sete anos.

Para que o setor reaja à crise econômica, criatividade e competitividade devem estar presentes, assim como o investimento em tecnologias, o acompanhamento de tendências e a observação do comportamento dos consumidores. Além disso, é preciso priorizar sempre pela qualidade, originalidade e compromisso.

Minas Veste Brasil: oportunidade, diferenciação e qualidade

Algumas alternativas são vistas como saída para movimentar o mercado e trazer a cidade polo da confecção de novo ao destaque, buscando novos clientes que geram lucro não somente ao ramo da moda. A Feira Minas Veste Brasil (MVB) em sua 7ª edição, realizou-se nos dias 25 e 26 de agosto e trouxe para Divinópolis, pela segunda vez consecutiva, a oportunidade de aproximar empresas locais com compradores de todo o país. De acordo com os organizadores, a expectativa era de movimentar R$ 6 milhões para Divinópolis, com presença de quase 500 compradores de todo o Brasil e 60 expositores que apresentaram a nova coleção do verão 2018.

O evento, realizado em parceria com a Fiemg, Sinvesd e Sebrae, teve como um dos patrocinadores a empresa têxtil Ponto Duplo. Paulo Braga, designer e gerente responsável por toda a pesquisa e desenvolvimento de tecidos, destaca que “participar da feira é dar força para a cidade, centro de confecção de Minas Gerais, voltando a ser como era e tendo seu reconhecimento a nível nacional”. Para ele, a feira traz um diferencial, além da atualidade, o trabalho em tempo real conjuntamente a outros países formadores de opinião como Europa e Estados Umidos, entre outros, tudo buscando a fortificação do mercado.

da esquerda para direita: Vice-Prefeito de Divinópolis, Rinaldo Valério, na ocasião, representando o Prefeito, Galileu Machado; o Presidente do SINVESD, Marcelo Marcos Ribeiro; o Presidente da FIEMG Regional Centro-Oeste, Afonso Gonzaga e o Diretor de Operações do SEBRAE, Marder Magalhães. (Créditos: Graciele Castro — assessora da FIEMG Divinópolis)

Para a proprietária da loja divinopolitana Via Dress, Kelly Fidelis, que atua no mercado há dois anos e participa da feira pela segunda vez, a MVB é bem produtiva e traz a possibilidade de captação de novos clientes das regiões Nordeste, Sul e de todo o país. Ela destaca que toda a coleção é peça única: um grande diferencial é que todas as peças são produzidas com quatro meses de antecedência. Kelly destaca que a confecção na cidade é forte e gera muito emprego. “O pessoal vem buscar nos produtos de Divinópolis a diversidade de estampas exclusivas, uma moda diferenciada que não encontra em São Paulo”, ressalta.

Para Annie Guimarães, proprietária da loja de mesmo nome em Belo Horizonte, é a terceira edição que elas participam. “A feira é uma oportunidade para abranger nosso portfólio de clientes, chegando àqueles que talvez não conheceriam nossa roupa se não fosse através da iniciativa que o evento traz. Trazer lojistas de todo o Brasil é uma proposta muito interessante, pois gera um grande salão de negócios, onde várias marcas se encontram para atender de uma forma confortável, com qualidade e diferenciação a esses clientes”. Ela destaca que mesmo a loja sendo da capital mineira, elas são associadas ao Sinvesd e participam junto das iniciativas que eles promovem e destaca que o mercado divinopolitano é de marcas de qualidade, de inovação e com fábricas belíssimas. Após o evento, é organizado e agendado uma coletiva de imprensa, para um balanço e prestação de contas dos valores contabilizados.

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