O Brasil pós olímpico
O legado de um dos grandiosos eventos que o país já sediou
KAROLLINE GOULART
O que significa para um país sediar um evento de proporções tão grandes como as Olimpíadas? O Brasil foi sede dos jogos olímpicos em 2016 e a cidade do Rio de Janeiro se tornou por duas semanas o palco desse espetáculo. Foram realizadas 306 disputas de medalhas em 28 esportes, divididos em 42 modalidades, com atletas de diversos cantos do mundo. No entanto, apesar de toda beleza estrutural e experiência proporcionada aos brasileiros, há que se considerar o saldo total do evento, e com isso estão inclusos efeitos econômicos e sociais, que serão base de medida para descobrir como agora, quase um ano depois, está o legado pós olímpico.
A declaração da AGLO (Autoridade de Governança do Legado Olímpico) em relação ao que sucedeu após as Olimpíadas é a seguinte: “Com o fim dos Jogos Rio 2016, esperava o poder público que a iniciativa privada assumisse a totalidade ou parcela considerável das estruturas olímpicas em contratos na modalidade de Parceria Público-Privada, o que acabou não ocorrendo. O momento econômico nacional desfavorável e outros fatores de natureza estratégica ensejaram o fracasso das parcerias e o futuro do legado olímpico viu-se ameaçado.” Dessa forma, criou-se um Plano Legado, que consiste em tornar as instalações olímpicas do Rio de Janeiro referência mundial para realizações de eventos e atividades esportivas, culturais, turísticas e de negócios. Ainda de acordo com a AGLO, os espaços já estão sendo utilizados.
No último mês de maio aconteceu a disputa da etapa carioca do Circuito Mundial de Vôlei de Praia, o primeiro Rio Bike Fest, o Campeonato Carioca de Judô e os estádios receberam o projeto Brincando com o Esporte, no qual mais de 700 crianças puderam conhecer as instalações de perto. Fora esses, outros eventos já aconteceram e ainda este ano estão previstas competições de tênis de mesa, jiu jitsu, badminton, tênis e futebol em cadeira de rodas, além de eventos culturais como o Rock In Rio, a Comic Com e o Garmin XP. Também estão em andamento acordos com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que viabilizarão o desenvolvimento de ensino, pesquisa e extensão relacionados ao desporto nas dependências do Parque Olímpico.
Segundo Silvio Resende — graduando em ciências econômicas — para realizar as olimpíadas, o governo gastou cerca de RS$ 40 bilhões em investimentos na infraestrutura da região metropolitana do RJ, entretanto, para que estes investimentos fossem realizados foram necessários aportes financeiros da União, financiamentos feitos pelo BNDES e FGTS e investimento privado.
“Tais dívidas podem levar décadas para serem pagas. Contudo, os investimentos em infraestrutura, ao longo prazo podem ser benéficos ao Rio de Janeiro. Os países desenvolvidos cujas cidades sediaram eventos olímpicos, como Atlanta, Sidney e Salt Lake City, a qual sediou os jogos de inverno, gastaram cerca de 10 vezes menos que os estados de países emergentes. Este fato é devido à diferença da infraestrutura pré-existente, em muitos países emergentes é necessário começar praticamente do zero.” — Ressaltou Silvio.
Mesmo em meio aos fatores negativos, são inegáveis os benefícios gerados no país. Ainda que o preço a ser pago seja alto, há expectativa de que no decorrer dos anos, além do que já foi feito, as “dívidas” sejam transformadas em melhorias, como pontua o professor de Educação Física, William Menezes: “A Olimpíada deixou um legado positivo para o país e a população, como a melhoria do transporte público, contando com BRT’s (Transporte Rápido por Ônibus) e quase vinte estações, revitalização nas zonas portuárias, melhores centros de treinamento para os atletas, arenas que serão futuramente transformadas em escolas municipais… Ou seja, um país que recebe um evento dessa dimensão sofre em curto período mudanças que levariam talvez décadas para acontecer.”
