O jogo de Trump por trás da visita ao Papa

O encontro do presidente norte-americano com o pontífice envolve esquemas políticos usados há séculos

Emanuela Souza
Portal Vertentes
3 min readJun 4, 2017

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A conexão entre política e religião já é antiga. A colonização por países europeus disseminou a religião católica, tornando-a uma das mais cultuadas no mundo. Por esse motivo, não é uma surpresa que líderes mundiais mantenham relações frequentes com o Vaticano. Porém, por detrás das cortinas há um jogo político maior, com objetivos muito além de religiosos.

Para analisar essa relação, é preciso contextualizar a união entre Estado e Igreja. Ambos sempre caminharam juntos como os dois poderes que regiam a sociedade, e os interesses do clero sempre detiveram grande influência em importantes decisões. Com a disseminação de novos modelos políticos na Idade Moderna, a Igreja perdeu uma parcela de seu poder de influência na política, até que se separasse por completo do Estado, tornando-se uma organização independente. Porém, a imagem de um líder religioso ainda é simbólica para a população, e governantes mundiais se beneficiam dessa simbologia para fortalecerem sua imagem, principalmente em nações com predominância católica.

O Papa Francisco e Donald Trump se reuniram por cerca de meia hora (Créditos: Foto: L’Osservatore Romano)

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, visitou o Vaticano acompanhado da esposa, Melania. Em seu encontro com o Papa Francisco, ele defendeu a busca pela paz mundial, apesar de ambos possuírem visões bem diferentes e defenderem causas opostas. Coincidentemente, a visita do presidente ao pontífice, ocorreu pouco antes da reunião da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) onde foi discutida a luta contra o terrorismo. Trump se tornou conhecido por defender ideias extremistas e ser contra a política de imigração. Na ocasião, o líder americano incentivou maior gasto das nações com o poderio militar.

Os Estados Unidos é um país predominantemente cristão, e uma parcela numerosa da população espera materializar uma imagem de um líder que siga com doutrinas e mantenha uma imagem de bons trajes. A relação com o Vaticano é uma estratégia para manter o imaginário popular de um governo que temente a Deus, e construir uma nação imponente. Vários elementos se unem para manter essa visão, tais como a esposa que o acompanha à caráter, com direito a vestimentas pretas e véu, a presença da filha Ivanka Trump e, por último, presentear o pontífice com uma série de livros de Martin Luther King, pastor que defendeu os direitos civis para afro-americanos.

Melania Trump acompanhou o marido durante a visita. (Foto: L’Osservatore Romano)

Manter essa relação com o Papa funciona como um pilar para manutenção da imagem do político, ao mesmo tempo em que ajudam a conter tensões sociais. “Grandes Potências como os EUA veem na figura do pontífice, um alicerce que une e divide tensões sociais que possam acontecer. Estar ao lado do Papa se consagra como um complemento para a imagem de um governante, aumentando sua moral perante o seu povo. E isso se incrementa muito mais quando o país é uma grande potência temida e respeitada, nesse caso irá além”, afirma Erik de Lima Correia, estudante de História da UNIFESP.

Apesar de ter vencido as eleições presidenciais, Donald Trump ainda é rejeitado por grande parte da população norte-americana, pelas medidas extremistas que vem adotando em seu governo. Motivo de milhares de protestos pelo país, a intenção do encontro com o Papa parece clara: melhorar sua imagem perante à população mundial. Apesar da declaração favorável a paz mundial, essa aparenta ser mais uma proposta estratégica do republicano para manter sua posição como presidente, buscando fazer a manutenção de seu papel como líder, pai e bom esposo, enquanto por debaixo dos panos constrói um jogo interminável de influências.

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Emanuela Souza
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Escritora por natureza, Jornalista por instinto. Apaixonada por palavras e pelos universos proporcionados por elas.