O jornalismo pelo olhar de Maria Cândida

A acidez de sua opinião sobre temas como política, cultura e a vida

Laryssa Costa
Portal Vertentes
16 min readOct 15, 2017

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Cristiellen Sousa, Laryssa Costa e Maria Luiza Lopes

Entre uma imensidão de plantas, estátuas e um jornal no jardim, o Vertentes foi recebido com muita cordialidade e atenção na residência de uma das maiores personalidades de Divinópolis, a jornalista Maria Cândida Guimarães Aguiar. Nascida há 86 anos em Nova Serrana, mudou-se para a cidade por causa dos estudos. Formou-se em Pedagogia e Filosofia na Fafid (atualmente, mais conhecida como UEMG). Filha de pai maestro e mãe professora, carrega consigo a memória e a saudade do lugar onde nasceu, segundo ela: “Eu saio da minha terra, mas minha terra não sai de mim”.

No entanto, depois que se casou, Maria Cândida criou raízes em outros lugares: Ituiutaba, Formiga, e também Divinópolis, quando retornou muito tempo depois. Como fruto disso, teve seus 4 filhos nas respectivas cidades. Apesar da formação em magistério, se descobriu no jornalismo. Trabalhou nos jornais “1ª Semana”, “Diário do Oeste” e “Aqui pra nós”. Atualmente, escreve na coluna “Rotativa” para o “Jornal Agora” e produz um jornal semanal exposto em sua própria casa, intitulado “Jornal do Jardim”. Mesmo sem possuir o diploma de jornalismo, fala da comunicação como algo fantástico, explicando que isso nunca a impediu de produzir conteúdo de qualidade na região. Mulher de opinião forte e com extrema sabedoria, Maria Cândida conta um pouco sobre sua trajetória de vida, sem perder a sua essência: “Vivi ali, aqui, pra tudo quanto há, e não perdi o meu ser mulher, sou uma mulher”.

Bônus da entrevista — A irreverência de Maria Cândida

Vertentes: Como foi seu primeiro contato com a escrita?

Maria Cândida: Escola normal. Tem uma pessoa que merecia muito mais do que o nome de uma escola, a Dona Diva de Oliveira, professora de português. Quando ela via um jeito em uma pessoa, encaminhava e valorizava, acho que ela nem sabia o quanto era importante. Não digo que foi ela quem descobriu Adélia Prado, mas viu o potencial daquela menininha de uniforme de lá. E eu, por causa de uma redação minha, que se chamou “A ciência virtude”, onde eu fiz um paralelo falando que a ciência não acompanha a virtude, que ela para quando morremos, um exemplo assim. Ela então mandou colocar no jornal dos Franciscanos “A Semana”, desde então eu me empoderei e nunca mais sarei. Meu pai ficou na maior “metideza”, porque a filha dele escreveu no jornal. E foi muito bom. Eu me formei na escola com 15 anos, hoje leio e penso: “o que uma boboca de 15 anos tem para falar sobre a ciência e a virtude? O que é isso?” A Elza, uma professora que tinha aqui, guardou esse recorte e quando eu leio fico até boba, está bom mesmo.

Em quantos jornais a senhora já trabalhou?

Acho que não ficou um jornal sem a minha marca, porque se eu parar de escrever eu nem sei, eu subo nas paredes. Mas eu nunca recebi um centavo por nada do que eu escrevo. Eu tenho meu ordenado de professora, então eu me sinto poderosa, o marido também recebia. No “A Semana” eu escrevi por dez anos tudo de graça, no “Aqui pra nós” era pago porque era de Belo Horizonte e lá eu administrava o jornal, mas eu estou falando que nunca recebi para escrever. Meus filhos até falam: “Mãe, não faz isso não, está estragando o mercado”. É verdade, mas jornal é um “trem” muito custoso, os donos de jornal vêm lutando muito com isso. Não recebo, inclusive hoje também, no Agora.

Como era o mercado divinopolitano na época em que começou a escrever?

O jornalismo era do tamanho da cidade, bem pequenininho. Um tentava aqui, o outro ali. O Pedro X Gontijo soltava boletins, queria comunicar, não tinha outro jeito. Era um mercado muito pobrezinho. Pelo menos lá na minha casa, eu lembro do povo que ia até a alfaiataria do meu pai para ver o jornal, porque ele assinava jornal de fora, do Rio, de Belo Horizonte. Eu também ficava esperando chegar o jornal. Agora aqui, os Franciscanos escreveram muito tempo, não faziam doutrinação, era jornalismo mesmo.

Sobre o que mais gosta de escrever? Tem algum assunto específico? Ou escreve sobre tudo se deixar?

Sobre tudo, se deixar. Eu sei que a minha página é muito crítica. Se não for assim não é escrita, não é jornalismo, não é nada. Então ela é muito crítica, no bom sentido de crítica, porque isso quer dizer que você está dando criterion, a sua impressão, o seu critério. Hoje se fala “é uma crítica positiva ou uma crítica negativa”, “a favor ou contra”, não é nada disso. É a visão da gente sobre aquele assunto, a favor ou não isso agora é com o leitor, já não é com a gente.

Nos jornais que trabalhou, a senhora escrevia em alguma editoria específica?

Sobre tudo. E sempre crônicas. Minha coisa é crônica. Cronos: do tempo, coisas do tempo. Há uma versão no qual se diz: “Se você quer conhecer uma cidade, não vai na carta geográfica, não vai em tal coisa, vá aos jornais, porque os jornais fazem crônicas, seguem o cronos, o tempo”. De vez em quando eu olho minhas coisas e falo “Eu estava doida quando escrevi isso aqui”, porque aqui a política era muito brava. Vocês não têm nem ideia do que era.

Pode nos contar como era?

Por exemplo, era o bem e o mal. Na filosofia tem um nome que explica essa separação. Então tinha um partido que era o bem e o outro era o mal, era uma briga de um não passar no passeio do outro. Dava briga, dava morte até, dava tudo, mas dava muita ideia pra gente e muita dificuldade, porque quando você ia fazer uma crônica você não podia ter partido e partido naquele tempo era religião.

A senhora consegue perceber um contraste entre o jornalismo de antigamente e o jornalismo atual? Quais as mudanças que você destaca ao longo dos anos?

Para dizer a verdade, em termos de qualidade, não melhorou tanto não. Muita clareza, muita preocupação em ir na fonte, tudo isso tinha. O que melhorou foi a liberdade de expressão. Não foi algo próprio de Divinópolis, mas a cidade pegou uma boa carona e aproveitou nesse sentido. Nós tínhamos que escrever com muito cuidado para não comprometer os donos, porque senão vinha processo. Eu tive um processo só e perdi, mas a história é cumprida.

Se a senhora quiser contar…

Mas é muito longa, é de uma pessoa que hoje está aí entregue as traças. Estava na prefeitura, foi mandado embora, mas ele me processou por algo que eu havia dito. Nesse ponto tenho muito cuidado, para escrever eu vou na fonte. E eu trouxe provas, mas ele era polêmico, foi na prefeitura e trouxe uma prova contrária, e o judiciário é mais ou menos ruim igual é hoje, assim como a promotoria pública (mas está melhorando). Hoje em Divinópolis são péssimos os três poderes, nunca foram muito bons, mas hoje acabou.

Por que a senhora acha isso?

Vocês sabem quantos vereadores nós temos? São 17 vereadores, cada um levanta, fala e senta. Talvez um surpreenda, porque tem carreira política. De todas as câmaras que tivemos até hoje, muita gente fala que essa é a pior. É importante que a câmara tenha gente de vários níveis, tem que ser assim, mas não vejo eles procurarem se adaptar,estudarem, às vezes fazem aqueles cursinhos para pegar uma verba, é muito ruim o legislativo. O executivo (meu Deus do céu), acho que o nosso prefeito já está na quarta vez. Vamos deixar para os outros. As eleições nós já sabemos como são. É preciso que tudo seja em benefício do povo, senão não vale. Nosso executivo não tem jeito de ser mais fraco. O judiciário é uma coisa horrorosa, tem um então que ele tem o nome tão bonito, você olha e fala “deve ser uma pessoa e tanto”, mas não se tem notícia dele ter votado contra isso ou aquilo, tudo está bom, palmas! Nosso judiciário é fraco, mas tem uns dois ou três que trabalham bem.

Nós temos uma força aqui que é longe dos três poderes, mas que começou a ficar muito bom, que é o Ministério Público. Tem um problema sério aqui do nosso prefeito anterior que mudou o plano diretor, e para mudar o que ele dispôs tem que ser um tal de Conselho da Cidade. Eles chamam as pessoas mais importantes, razoávei, nem são as mais ricas para analisar o plano diretor. Quando o prefeito fez algo aqui, que na minha opinião foi muito errado, nós fomos atrás dele: “Uai prefeito, sobe para o Conselho da Cidade, cadê eles?” Ele não tinha formado ainda. O Conselho da Cidade tem que ser formado pelo prefeito, que coisa mais absurda! Fez depois da data marcada e a maioria das pessoas eram empregados da prefeitura. Alguém ia fazer uma lei contra o prefeito? Essa lei que eu estou falando também proíbe de fazer casa muito perto da margem do Rio. O shopping foi feito dentro d’água, contra a lei, porém um deputado cuja as iniciais são Domingos Sávio deixou. O prefeito passado mudou a lei pra virar aquilo aedificandi, tirou aquela cláusula de non aedificandi, mas por que? Soube-se mais tarde que o pai dele, um senhor muito bom, honrado, grande pessoa aqui da cidade, tinha adquirido os terrenos e queria construir. Entrei no Ministério Público, fiz um projeto todo cheio de provas, o promotor Sérgio Gildin leu e falou: “mas não pode, porque o terreno dos franciscanos é deles, está lá ainda”, e eu falei: “mas onde é que ele tirou isso de terreno dos franciscanos?”, ele quis entender que eu tava pedindo que fosse liberado o terreno dos franciscanos aqui e não era isso, eu pedi foi o non aedificandi da beira do rio, está muito claro, mas ele disse que eu estava me referindo ao terreno dos franciscanos, então não faz sentido. Tinha um vereador, que nem foi eleito, o Saleme, foi o único que aceitou tocar no assunto. Essa é a minha versão, estou pronta para mudá-la se acontecer algo diferente, o que eu duvido muito. O terreno dos franciscanos é outra coisa, porque é o último terreno vazio aqui na cidade para construir um teatro, um centro cultural. Mas na hora que está quase chegando, muda uma lei e não passa, e nósficamos com aquela usina bonitinha, o teatro Gravatá, muito lindo, mas só 300 pessoas não dá.

Sobre o Jornal do jardim, a senhora faz ele sozinha?

Sim, ele fica no jardim da minha casa para que todos possam ler. O jornal sempre tem uma trova, quando eu quero falar sobre alguma coisa que vai dar “amolação” eu uso a trova e a poesia também, porque afinal, com poesia não se pode brigar, né? Tem duas coisas que são intocáveis: a poesia e o humor. O jornal fala muito sobre política, cerca de 90%. Contém muitas gravuras, recortes de jornais e anúncios também, quando me pedem para colocar eu deixo. Faço esse jornal sozinha e com Deus. Acho que comecei desde que me mudei pra Divinópolis, mais de 20 ou 30 anos. Uma pessoa me disse: “Maria Cândida, tira foto do Jornal do Jardim e compila para fazer um livro”. Eu comecei a fazer isso, mas depois deixei para lá. Mas é algo importante a ser feito, porque a cidade está toda lá.

Como surgiu a ideia? A senhora sentia falta de alguma coisa nos jornais da cidade?

Não, não quis fazer nada de diferente. É porque me dá uma ansiedade quando eu vejo que o povo lê pouco, o povo não dá muita notícia aqui. Além de ler pouco, pode pegar fogo ali e morrer alguém que o povo não liga. Falam que o desemprego está alto e o povo diz que isso é passageiro, falam que o prefeito está roubando, o povo diz que isso é invenção. O jornal é meu, então eu coloco o que eu quero, foi nesse sentido o motivo de ter criado o Jornal do Jardim.

A senhora nota certo interesse das pessoas em lerem o seu jornal?

Sim, já teve pessoas que deixaram bilhetes. É muito bom, dá um retorno muito agradável. De modo geral a população lê e são muito educados.

Conta um pouquinho sobre o Cine Café.

Cine café é uma gostosura, já tem quase 20 anos. O pessoal que vem é gente boa, todo mundo gosta muito de cinema, é uma invenção boa. Era toda quinta, mas agora a gente pula uma. Quando acaba, discutimos o filme e tomamos um cafezinho. É uma maneira até interessante.

A senhora acha que os jornais ainda são comandados por coronéis?

Não, passou esse tempo. Tem gente muito mais afinada com a nova realidade. Não tem coronelismo, mas ainda ficou o “ranço”. Ainda se escutam pessoas dizendo: “Quanto que o jornal ganhou para falar isso?”. Eles acham que a gente e que o jornalismo é a poder de dinheiro, de favor. Se fosse assim eu já tinha morrido de fome há muito tempo. Então assim é o que fica: “O Jornal Agora é só pagar que ele publica!”, “Gazeta? É só você dar o dinheiro que ele muda de opinião”. Não é verdade. Hoje isso está muito sadio. É claro que nós temos que ter uma responsabilidade, mas eu trago uma vaidade comigo. Eu estou nessa fase de escrever para o Jornal Agora e eles nunca tiraram um pingo no ‘i’dos meus textos. Nunca. E eles sabem que se mudarem eu estou fora. Há um respeito muito grande sobre o que eu escrevo.Se não me engano foi o Nelson Rodrigues que disse uma vez: “Você quer liberdade total? Você quer escrever sobre tudo o que você quer? Funda um jornal para você!”

Se o jornalismo for contra tudo, se tudo for pago, também não é certo. O jornalismo tem que ter um equilíbrio, é muito importante. O fato de um jornal ter opinião, não quer dizer que ele não tenha sua ideia própria, seus valores. Jornal não pode virar boletim informativo. Jornal é jornal. Tem opinião. Gostaria de fazer um adentro aos que gostam de dizer: “Só de torcer os jornais saem sangue”, Deus me livre o dia que o jornal não der notícia ruim. Tem que dar notícia ruim também. É a vida que está sendo representada. Deus me livre também do dia que jornal só der notícia boa. Vira tudo um doce de leite. Jornal vive de notícia e notícia é exceção. Imagina você ler uma manchete: “Hoje nenhum homem matou a mulher por vê-la com outro”. A minha sugestão é manter sempre o equilíbrio.

Em uma entrevista para o Gazeta, em 2013, a senhora disse a seguinte frase “acho a censura abominável, mas às vezes necessária, dependendo das circunstâncias. É bom evitar processos na justiça, afinal são desgastantes e inúteis. Nunca aceitei a censura, mas penso na sobrevivência do jornal. Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Quais seriam essas circunstâncias?

Nós somos nós e as circunstâncias. Dependendo das circunstâncias você não deixa de ser você, não deixa de tomar um tipo de atitude. Dependendo da circunstância, não quer dizer que eu vou perder a essência, de jeito nenhum. É claro que é necessário evitar processos na justiça. É bom evitar, dar conta de não colocar o pé na ratoeira. Dá para você falar sobre tudo que quiser, usando aquele “consta por ouvir dizer”, “segundo informações”. Tem que ter cuidado ao falar. Sempre, né?

A carreira como jornalista te trouxe inimigos?

Não chega a ser inimigo. Inimigo é uma palavra muito forte, mas aborrecimentos. A gente sabe que tem indiferença e situações desagradáveis, ou alguém que não gosta da gente, mas inimigos não. Nem na política.

A senhora acha que o jornalismo impresso vai acabar?

Uma vez a Fernanda Montenegro disse: “Não é de hoje que me falam que o teatro vai acabar. O cinema chegou e o teatro irá acabar.” E ela disse “Viu que continuou? Os dois convivem muito bem”. Assim é o jornal com as redes sociais. O jornal ainda é a fonte fidedigna, mas também sujeito a erros. Eu estou vendo os dois jornais aqui, o Gazeta e o Agora, eles pelejam muito para se atualizarem. Ultimamente eles têm até algumas partes que ficam parecendo mais revista do que jornal. Tudo bem, é luta. Mais figuras, mais cores, letras grandes. A gente vê que eles procuram se aperfeiçoar. Mas eu acho que para acabar ainda vai demorar um pouquinho.

A senhora acompanha as notícias pela internet?

Mais ou menos. Eu sou ruim nisso. Meus quatro filhos tentaram me ensinar, mas está muito custoso (risos). Estou me adaptando, com esforço, mas também não deixo de pelejar. Eu tenho whatsapp, Facebook, sou mais amiga do computador, manejo até razoavelmente.

A senhora ainda escreve para o Jornal Agora, certo? Lá eles disponibilizam espaço para a “carta do leitor”, que pode comentar sobre algum texto. A senhora acha importante essa troca de opinião entre escritor e leitor?

Acho. Eu acho esse espaço da maior importância. Quando eu acho que vale a pena eu publico. É muito importante essa troca.

O historiador Welber Skaull elaborou um álbum de figurinhas para homenagear algumas personalidades da cidade e a senhora foi uma das escolhidas. Qual foi a sensação de saber que participa de um álbum que conta a história da cidade?

Primeiro, preconceito. Que isso, minha foto lá? Quero nem ver. E fiquei sem ver. Tadinho, ele caiu aqui na cidade assim meio perdido. Me cercou nas ruas várias vezes: “ Maria Cândida, cadê a foto que eu pedi pra senhora?”, “Tá, vou dar”, mas eu não dei, então ele arranjou uma. É um trabalho muito interessante. Hoje eu me sinto orgulhosa, por que não? Agora nessa segunda edição do álbum, foi orgulho por minha mãe estar lá. Ele me pediu uma foto da minha mãe velhinha e sorrindo, aquela coisinha mais bonitinha. Acho que ele é uma pessoa de valor, porque esse trabalho tem que ser incentivado.

Gostaria de saber sua opinião sobre a questão cultural de Divinópolis. A senhora acha que deveria ter mais leis que incentivassem a cultura?

Nós temos alguns valores que podem exigir mais cultura, mas as indicações são políticas. Eu penso no terreno dos Franciscanos para criar um complexo cultural, cujo o mais forte seria o teatro. Teatro para mim é quase tudo. Também teria uma área para a biblioteca e a sala de reuniões, tem muita coisa para colocar lá. Mas de vez em quando alguém vai lá e quer comprar. Eu tenho um projeto lindo aqui, que o arquiteto João Batista Rodrigues fez, mas de repente as forças ocultas entram e colocam dificuldade.

Eu queria saber o posicionamento da senhora sobre a questão do Museu, que acabou sendo interditado pela Defesa Civil. A senhora acha importante para a cidade ter esse espaço de preservação da memória?

De vez em quando tem disso, eles vão lá, interditam, depois dão umas “pinceladas”, arrumam, fica bonitinho, até que ele caia na cabeça do povo. Eu acho que é interessante. Em princípio parece que não: “ah, Divinópolis é uma cidade de cento e poucos anos, tem nada de museu para guardar”, mas naquela casa eu lecionei quando me formei e meu marido tirou diploma. Lá já acolheu muitas freiras e padres. Um dia, um tal de Galileu Machadoresolveu jogar ele no chão. Eu estava entre os queficaram sentados na Praça da Catedral, tomando conta para ele não terminar de jogar o casarão no chão. Aí ele parou. Eu acho que Divinópolis tem acervo para isso. Tem coisas valiosas lá no meio, mas eles misturam aquilo com exposição, com umas panelas velhas de barro e de ferro. E esse Welber Skaull, que era presidente, esse povo é doido de ter colocado ele lá. Não tem a menor noção de museu. Foi o domingo Sávio que pediu e puseram ele lá. Então hoje eu acho que continuar lá vai cair e estragar tudo.

Parece que foi para o centro administrativo…

Ah, é a nova prefeitura, muito longe para um centro administrativo com empregados da cidade toda. Outro dia o atual Secretário da Cultura ficou muito “brabo” porque eu escrevi um texto e ele revidou. Eu elogiei as peças que estavam lá, elogiei a festa do Vladimir, embora eu não aprove a administração dele. Gastou mais do que podia, dizem que roubou mais do que devia. Aí esse bobo do secretário escreveu um “ferralheiro” comigo. E depois disso sabe o que aconteceu? Veio aqui trazer presentinho. Faltou ficar de joelhos e pedir perdão.Dei cafezinho pra ele e está tudo bem.

E depois dessa carta que ele escreveu a senhora teve direito de resposta também?

Ah não, isso não merecia direito de resposta. De jeito nenhum! Tem que valer a pena. Não vou brigar com o coitado. Eu estimo ele, mas não gosto muito não.

A senhora achou necessária essa mudança do local da Prefeitura?

Tem um interesse, um terreno ali para valorizar, sempre tem. Vocês nem tinham nascido, nem a sua avó, mas a prefeitura era ali na rua Rio de Janeiro, em uma salinha. Dizem que estavam pagando um aluguel muito alto na rua Pernambuco, então construíram lá. Mas quer dizer, o tanto de dinheiro que ficou devendo, o tanto de juros, deve ser mais ou menos o aluguel que pagavam lá. Mas seja como for, quando estiver pronto, vai ser uma coisa mais organizada, até para trabalhar. Talvez seja melhor, né? E se arrumar acesso direitinho, e arrematar direitinho, beleza. Não tem mais lugares aqui para isso né? Só tem o terreno dos Franciscanos que está guardado para o teatro (risos).

A senhora comentou que não concordava com as questões do mandato do Vladimir. Qual é sua visão sobre ele?

Verdade, não. Tínhamos uma expectativa grande sobre ele, porque ele era jovem, família quase boa, tinha essa coisa “dos Azevedos”. Outra coisa, ele tinha cultura, curso superior, então a gente achava que ele ia fazer uma boa administração, mas foi uma vergonha. Agora, eu acredito que a justiça vai chamá-lo.

E a senhora ainda faz parte do Conselho Municipal do patrimônio histórico?

Acabou! Acabou na mão do Vladimir. Esse de agora nem sabe o que é isso. Acabou o nosso prazo, e tem até outras pessoas que podem e querem ficar lá. Fizemos um bom trabalho. Vamos ser justos, quem fez um bom trabalho lá foi a Cecília Guimarães. Eu fiz alguma presença. Mas então venceu o prazo. Agora o ano já está acabando e não nomeou outro. É isso. É uma vergonha para Divinópolis, eu acho.

Qual a visão da senhora sobre a administração pública da cidade?

Hoje a gente pode cobrar, porque a captação de verba é muito maior, mas eu digo que é péssima a administração. Mal assessorada, muito ruim. E ele (o prefeito) é uma pessoa quase da minha idade, já é hora de mudar de assunto. Ele é muito cansado e não se cercou de gente que devia. Ali falta um bom judiciário, uma boa câmara, que podia cobrar mais, e não cobra, então ele fica esperando o mês de arrancar a folhinha. Pronto! Ele só fazia ponte. Na minha visão, o melhor prefeito que já tivemos foi o Antônio Martins Guimarães. Ele é um homem que entrou rico e acabou pobre. Ele foi muito bom na educação, na saúde, que é muito importante e, sobretudo, muito honesto. Isso não é favor, é obrigação. Mas ele cumpria com essa obrigação. Fora isso, é um negócio sério, os outros são medianos, ou pior. Nós não somos muito felizes em termos de eleição.

Apesar de não possuir o diploma de jornalista,acha ele importante para a formação de quem pretende trabalhar na área?

‘Tá’ doido, acho que é importante, mas tem que botar na prática, na vida!

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Laryssa Costa
Portal Vertentes

Jornalista por teimosia. Redatora e Planner na Agência BluePause. Graduada em Letras e fotógrafa desiludida. Sonho conhecer o mundo. Sem sucesso por enquanto.