Projeto Quero Viver é referência para casas de recuperação em Divinópolis

Espalhado por todo país o projeto trabalha para resgatar dependentes químicos

Guilherme Silva
Portal Vertentes
4 min readSep 20, 2017

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(Célula de apoio do Projeto Quero Viver, na Praça Candidés. Foto: Flávio Paulino)

O Projeto Quero Viver há 27 anos resgata das ruas usuários de drogas e pessoas de vulnerabilidades social. Fundado pelo pastor Wilson Fernandes Botelho, em 1990, o projeto está presente em vários estados do país. Em Divinópolis possui duas casas de recuperação e um centro de apoio que abriga aproximadamente 90 recuperandos.

Uma das células de apoio do projeto atua há dois anos na praça Candidés, entrada para o bairro Niterói. Ali voluntários se revesam todos os dias numa espécie de cabine oferecendo café da manhã, alimentos, roupas, produtos de higiene e orientando usuários que fazem da praça seu lar. O Quero Viver é uma Instituição sem fins lucrativos e se mantêm através de doações.

As palestras e os louvores despertam a curiosidade e atrai os dependentes químicos para perto do grupo. Toda sexta-feira a partir das 20h, orações e mensagens bíblicas são ministradas na vida dessas pessoas que vão até a célula. Segundo o presidente Wilson Botelho, após o primeiro contato, os usuários interessados são encaminhados para uma das unidades e é feita a identificação pessoal.

O trabalho de recuperação é desenvolvido em três modos terapêuticos: espiritual, ocupacional e entretenimento. A terapia ocupacional mantém os recuperandos em atividades de trabalho tais como fabricação de camisas e copos, criação de gado e serralheria. A prática espiritual encoraja e dá forças aos dependentes a lutar contra o vício. Os momentos de lazer dão liberdade e reafirmam a inserção deles na sociedade.

Para se manter na clínica é feita uma contribuição pela família de R$ 300,00 que custeiam quatro refeições ao dia. O pastor afirma que o projeto se tornou espelho para todas as outras clínicas da cidade. Já somam 22 casas de recuperação espalhadas pelo país, e em Divinópolis as duas unidades já recuperaram cerca de 500 viciados.

Aproximadamente 80% dos recuperados ajudam no projeto como voluntários, assim como Leonardo Pontes, 42 anos, ex-viciado em Crack. Natural de Bom Despacho, ele entrou no mundo das drogas aos 16 anos usando maconha e aos 35 aprofundou no crack. Era traficante e dessa forma sustentava o vício. Nunca assaltou pessoas nas ruas, mas chegou a ficar 18 dias pedindo dinheiro para comprar crack.

(Leonardo Pontes,42, ex-viciado em crack. Foto: Flávio Paulino)

Casado e com dois filhos, sua esposa o abandonou porque não suportava as condições que viviam. Faltava comida e sempre estavam com muitas dívidas. Deprimido, Leonardo sentia vergonha porque não tinha dinheiro.“O crack acabou com a minha dignidade, saúde e credibilidade”. Nessa mesma época, foi preso em Nova Serrana quando transportava droga por um amigo. “A droga não era minha, era para um amigo, eu apenas estava transportando quando me pegaram”. Ele conta que ficou preso de novembro de 2002 a março de 2003.

É um homem trabalhador, honesto, mas tinha dificuldades de conseguir emprego. “Ninguém quer dar emprego para um noiado”, esbraveja. Sendo assim, pegava dinheiro dos pais e vendia objetos da casa para alimentar os vícios.“Uma vez vendi meu compressor, minha televisão nova que havia comprado por quase R$2mil, minha marquita, por um preço bem baixo. Pulei a janela da minha mãe, peguei seu botijão de gás e vendi por R$40,00 reais na primeira esquina que vi”.

Leonardo conheceu o projeto em 2015 quando passava pela praça Candidés, interessado procurou ajuda para superar o vício. Ele conta que chegou na unidade apenas “com um chinelo, uma bermuda e uma camisa”. Sua mulher o visitava todos os dias e aos poucos ele foi se recuperando. “Ela voltou pra mim. Hoje trabalho como pintor, temos um apartamento e um carrinho velho”.

Quando direcionados às unidades de apoio, os usuários não são forçados a um regime fechado, a ideia está na liberdade e na força de vontade em superar o próprio vício. A fé de acordo com Leonardo os motivam a continuar com o tratamento que varia de pessoa para pessoa podendo ser de 6 a 9 meses. No caso do pintor ele ficou apenas 5 meses e 12 dias, quando saiu para trabalhar. Há dois anos está recuperado e participa do projeto, resgatando mais pessoas.

(Pontilhão Niterói. Foto: Flávio Paulino)

Essa região em Divinópolis é conhecida como carrapateiro ou cracolândia e era considerada um dos lugares mais perigosos da cidade. Após a intervenção do Projeto moradores perceberam grande queda no número de violência no local e de usuários pela praça.“Com a vinda do projeto para esse local, a praça ficou mais segura. Todos respeitam e valorizam o projeto. Inclusive os usuários que agora podem contar com a solidariedade”, relata Lucas, 20 anos, morador da região.

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Guilherme Silva
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Jornalista, assessor de imprensa e redator. Escrevo sobre educação, comportamento, saúde e questões sociais.