Quando comprar vira sinônimo de existir

Vivemos em uma era na qual os objetos parecem, ainda que ilusoriamente, estar à mão, disponíveis, afirma professor

Ariana Coimbra
Portal Vertentes
3 min readJun 4, 2017

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Você já parou para pensar em como o capitalismo te influencia? Como você se relaciona com ele e como esse relacionamento move toda a sua vida? Como o termo “sociedade do consumo” está cada vez mais forte e verídico?

O capitalismo se tornou o protagonista no cotidiano das pessoas por ser o sistema socioeconômico da maioria dos países. Em alguns casos, de uma narrativa feliz e, em outros, como sinônimo de dívidas e doenças.

(Imagem: Reprodução / Sociologia Liquida)

Promoções tentadoras nos perseguem a cada passo ou a cada clique. Os supermercados e as farmácias, por exemplo, usam estratégias de marketing para atrair compradores, deixando produtos típicos nos corredores que vão em direção aos caixas. As lojas competem entre si, investem em comerciais, promoções, descontos à vista e brindes. As tecnologias ficam ultrapassadas a cada lançamento. O consumo tornou-se algo tão natural quanto respirar. Porém, o que muita gente não percebe, é que tudo isso pode ser prejudicial se o consumidor não tiver autocontrole. Hoje em dia, com a facilidade das compras online e o auxílio dos cartões de crédito, endividar se tornou algo fácil e até mesmo imperceptível.

O ser humano é considerado consumista a partir do momento que perde o controle de seus gastos e passa a comprar para preencher seus vazios, principalmente pelo prazer que isso proporciona a eles. Entretanto, se reconhecer como ‘consumista’ não é uma tarefa fácil. A Analista de Sistemas Brunna Silva, 22, contou que, apesar de tentar equilibrar seus impulsos, muitas vezes a vontade de comprar se manifesta de forma natural.

“Compro roupas e livros para satisfazer o meu ego, doces para satisfazer as minhas dores, eletrônicos para preencher os vazios existenciais. Não consigo controlar, minha mente me faz acreditar que preciso de determinado produto e eu fico mal. Mas mesmo percebendo isso nunca levei o assunto para a terapia”. — Brunna Silva

De acordo com a psicóloga Daniela Filipini, 26, o Transtorno da Compra Compulsiva (antes chamado de Oniomania), atinge mulheres entre 18 e 60 anos, e homens nas mais variadas idades. Nos exemplos citados por ela, a obsessão por manutenção e troca de equipamentos de veículos caracteriza o consumo feito pelos homens. Enquanto que, para as mulheres, normalmente as roupas, joias e maquiagens despertam mais interesse.

Esse número só diminui se levarmos em consideração a compulsão da maioria das crianças e adolescentes por tecnologia e aparelhos eletrônicos. Ainda segundo a psicóloga, todo tipo de compulsão é uma tentativa de preencher espaços vazios dentro de si. Dessa forma, é importante reconhecer a doença e buscar o tratamento adequado. A psicoterapia, por exemplo, ajuda o paciente a compreender o motivo da sua compulsão, reavaliando como isso interfere na sua vida. Esse apoio psicológico é fundamental para que os hábitos de consumo se modifiquem. E, apesar de ser considerado um processo doloroso, é algo necessário quando o assunto é a saúde mental.

Não conseguindo controlar seus impulsos, os compradores transformam um ato banal em algo totalmente perturbador. O professor e psicanalista Alexandre Simões, explicou o perigo de generalizarmos a situação, pois nem sempre a compulsão é uma patologia, devendo ser pensada então, como características das subjetividades e dos laços sociais da nossa contemporaneidade.

“Vivemos em uma era na qual os objetos parecem, ainda que ilusoriamente, estar à mão, disponíveis. E, inclusive, as relações tendem a ser, nesse contexto, objetivadas. Mas não nos autoriza a dizer aí sobre uma ‘patologia’ a ser tratada, de modo específico. O que se trata, sim, é quando um sujeito, por meio do consumo, está sofrendo com esse excesso”. — Prof. Alexandre Simões

É perceptível o quanto o consumo nos controla, guia nossas vidas e divide opiniões. Para a estudante de Psicologia Vanessa Tibiriçá, é fundamental saber distinguir o momento que ele se transforma em um problema e ir em busca de soluções. “É um transtorno normal que pode ser tratado. Só temos que diferenciar o consumo exagerado do consumo compulsivo. Caso o sujeito se sinta prejudicado e angustiado por isso, deve procurar ajuda psicológica”. Sendo assim, o importante é termos controle sobre o consumo e não o contrário.

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Ariana Coimbra
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