Todos os homens do presidente

4º período de Jornalismo
Portal Vertentes
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4 min readNov 27, 2017

Giovanna Cabral e Matheus Augusto

Todos os anos, a Lei Orçamentária Anual (LOA) estabelece previsões dos gastos do governo para o ano seguinte: tudo o que for gasto pelo governo durante o ano deve constar nesse orçamento, incluindo as verbas destinadas à regiões que os parlamentares representam, onde atuam e têm interesse eleitoral. A atuação em benefício das regiões eleitorais tem o nome de emendas parlamentares. A polêmica envolvendo tais distribuições de verbas se dá no momento em que o governo parece garantir altos valores para determinadas regiões, não apenas como atendimento às necessidades daqueles locais, mas como um jogo político para garantir o apoio dos deputados que os representam.

(Foto: site DCM)

Um exemplo recente dessas supostas barganhas governamentais, são os movimentos feitos pelo Presidente da rRpública com os parlamentares. Com as reformas propostas pelo governo de Michel Temer e sua denúncia na Câmara dos Deputados, políticos se valeram dessas votações para aumentar as verbas para suas zonas eleitorais. O governo liberou R$2,1 bilhões nas vésperas da aceitação ou não da denúncia contra Temer na Câmara. No ano todo, já foram pouco mais de R$4 bilhões de reais, segundo o levantamento da ONG Contas Abertas.

Divinópolis e cidades vizinhas têm como representantes os deputados federais Domingos Sávio (PSDB) e Jaime Martins Filho (PSD). Em agosto, durante a votação para abrir ou arquivar a denúncia contra o presidente, ambos os deputados votaram pelo arquivamento. Para Jaime Martins, o afastamento de Temer da presidência impediria a retomada do crescimento econômico do país. Domingos Sávio argumentou em seu voto que “eles querem fazer o Brasil virar uma Venezuela” e que era a favor do país e da saída da crise.

A votação da denúncia ocorreu em Agosto. Em Junho, o governo já articulava a liberação da verba para emendas parlamentares. Domingos Sávio recebeu a quantia de aproximadamente R$3 milhões. Jaime Martins conseguiu através das emendas mais de R$1 milhão. Essa ferramenta está assegurada através da legislação. A questão debatida são as finalidades e interesses que ela atende. Com tal prerrogativa em mãos, o governo possui poder de negociação com os deputados em votações na Câmara.

Tratando-se dessas emendas, é fundamental que os eleitores consigam acompanhar se essa verba será realmente destinada aos municípios. Saber o emprego da arrecadação é um direito do eleitor, mas falta transparência e clareza na apresentação dos dados.

Domingos Sávio, em áudio, destacou ter sido autor de uma Emenda Constitucional que estabeleceu o ”limite máximo de 1,2% do total do orçamento público que pode ser objeto de emenda, neste caso, do conjunto dos 513 deputados federais e 81 senadores”. Além disso, no mínimo a metade das indicações feitas por cada parlamentar deve ser destinada à saúde ou entidades filantrópicas que atendam o SUS. Além disso, ele alegou que não é mais possível utilizar as emendas como moeda de troca, já que elas devem ser pagas independentemente se o deputado é da base de apoio ou de oposição. “Emenda parlamentar não é favor do deputado, não é dinheiro do deputado, é dinheiro público, é direito da população e o deputado faz o papel de, como representante, atender as demandas que a população o encaminhou.”

“Ele [Michel Temer] não pode escolher pagar as emendas de um grupo de deputados e não pagar o de outro grupo de deputados. Aliás, agora nas vésperas da primeira votação, fez-se um levantamento na Câmara e no Senado, e verificou-se que muitos dos deputados que estavam com os maiores recursos liberados neste ano de 2017 e mesmo no ano de 2016, eram deputados e senadores do PT. Todos, obviamente, são contra o presidente Temer. Por que isto? Porque privilegiou os deputados do PT? Não, é porque alguns deles conseguiram fazer com que os convênios celebrados com as prefeituras cumprissem a tramitação técnica mais rapidamente”, argumentou Domingos.

O deputado Jaime Martins divulgou recentemente, em um jornal sobre seu mandato, em que mostra os projetos que “levam seu nome” em seu mandato como deputado federal. A duplicação da rodovia BR 262 e a construção do campus da UFSJ em Divinópolis são os principais projetos que o Deputado conseguiu com o dinheiro de liberação de verbas.

Thadeu Raposo, 58, é morador da cidade de Nova Serrana e diz sempre ter votado no em Jaime Martins, “Escolher um deputado que conhece a região e as necessidades que ela precisa é fundamental, houveram alguns projetos que eles conseguiram trazer para desenvolver a cidade, porém eles usam esse trabalho como campanha, coisa que é obrigação deles, mas eles falam que estão ajudando o povo”.

Em resposta ao voto a favor do arquivamento da denúncia contra Michel Temer, o deputado compartilhou um vídeo dizendo que se o Temer sair, o próximo da linha sucessória é o presidente da câmara Rodrigo Maia, que junto ao pai César Maia e o sogro Moreira Franco foram denunciados na Operação Lava Jato.

Jaime justificou ainda que o afastamento de Temer causaria uma ruptura no crescimento da economia e na geração de renda do país. “Mantive diálogos e debates com lideranças, prefeitos e vereadores, e existe o sentimento pela continuidade deste governo de transição. A queda de arrecadação dos estados e municípios, que já se encontram penalizados e com dificuldades de administração, precisa ser observada com responsabilidade”. Os eleitores dos deputados, porém, se sentiram traídos após a votação. “A gente tá vendo o que está acontecendo, eu converso com um monte de gente que também votou no Jaiminho, ele se vendeu pro Temer, isso é compra de voto! Eu não voto mais nele”.

Na segunda denúncia contra o Presidente Temer, Jaime Martins, um dos últimos a votar e já com a definição pela continuidade do governo, votou pela autorização da continuidade das investigações e consequente afastamento do Presidente.

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