A tecnologia consegue nos ouvir?

Sistema de reconhecimento de voz, localização geográfica e acesso à câmera podem permanecer ativos 24 horas por dia se usuário não bloquear.

Carolina Tribst
Portfólio Carolina Tribst
2 min readSep 17, 2019

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Se tornou frequente vermos relatos de pessoas que afirmam com convicção que seus celulares têm a capacidade de escutar, processar sons e captar informações 24 horas por dia. Porém, isso depende das permissões que o proprietário do aparelho ativa, e muitos não sabem disso. “A gente entra na questão da sociedade de controle, do sistema de controle. Mas, se existe essa sociedade é porque as pessoas, de alguma forma, aceitam” opina a professora de jornalismo de dados da PUC São Paulo, Deborah Magnani de Oliveira, especializada em multimídia, startups e inovação.

Muitos especialistas concordam que o problema é o mau uso que se faz a tecnologia: o desconhecimento abre a porta para que empresas tecnológicas e redes sociais abusem de seus usuários. Segundo a professora Deborah Magnani: “O Facebook diz que a plataforma sempre será gratuita, eles realmente afirmam isso. Não é gratuito, você paga com aquilo de mais rico, que são as suas informações”. O principal problema é, na sua opinião, que a maioria dos usuários nunca lê os termos e condições de privacidade que é fornecido pelos aplicativos instalados nos aparelhos eletrônicos. Ao baixar qualquer aplicativo, o usuário deve autorizar as solicitações que chegam, como por exemplo, acesso ao microfone, câmera e localização geográfica.

Deborah afirma que, já que existe a opção de aceitar ou não aceitar as solicitações e os termos de uso, é uma questão de escolhas, o usuário deve estar ciente do que está autorizando em seu celular ou computador. Uma vez que você autoriza, não tem como saber se estão lhe escutando 24 horas por dia.

Você pode se perguntar: de quem é a culpa? Quem é o vilão? Qual o intuito dessas empresas tecnológicas em oferecerem um serviço com um custo de desenvolvimento tão elevado se não irão tirar proveito disso? Não acredito que há um vilão e uma vítima nessa história, é apenas uma questão de interesses dos dois lados. As empresas de mídia digital e redes sociais focam no lucro, nós as aceitamos por escolha nossa, já que podemos desabilitar qualquer função em nossos aparelho ou escolher não usar-los, mas já nos tornamos dependentes.

A falta de transparência e a complexidade dos termos e condições dos aplicativos são outro dos obstáculos para os donos de celulares e computadores, é difícil encontrar alguém que realmente tira um tempo do seu dia para ler com atenção estes textos. Com a entrada em vigor do novo Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia, no último dia 25, concebido para unificar as leis de privacidade de todo o continente, as empresas ficam intimadas a apresentar de forma clara e objetiva seus métodos para solicitar os dados pessoais dos usuários.

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Carolina Tribst
Portfólio Carolina Tribst

Jornalista, formada na PUC São Paulo, apaixonada pela profissão que escolhi