O urso

Carolina Tribst
Portfólio Carolina Tribst
2 min readFeb 19, 2020

A depressão é uma doença que atinge 5% da população mundial, e no Brasil quase 6%. Eu faço parte dessa estatística há muitos anos. Dizem os psiquiatras que ela é fruto de algum trauma muito grande, por isso toda quarta-feira faço um trabalho de regressão com a minha psicóloga, mas ainda não descobri o motivo.

Cientificamente falando, a bioquímica cerebral se altera e desestabiliza os neurotransmissores cerebrais como a seratonina e outros, mas essa parte eu deixo para os médicos. Nesta crônica falarei da depressão de uma forma coloquial.

Um dia é pequena como uma formiga na palma de um urso. No próximo dia, é o urso. E nesses dias ela chega de mansinho ou de repente e vai me dominando e eu me finjo de morta até que o urso me deixe em paz. Fragiliza-me tanto que fico enclausurada num quarto, sem vontade alguma de ver alguém, de tomar banho, de comer ou atender o telefone. A vida vai ficando sem cor e uma tristeza imensa se instala. E eu sei que não sou só eu que sofro com isso, minha família, namorado e amigos também.

Minha mãe me pergunta se eu tenho medo de morrer e eu respondo:

-Não mamãe, tenho medo de viver.

Uns acham que é frescura pura, sugerem ler livros de auto-ajuda, a ter pensamentos positivos, ou ser mais forte que ela. Dizem para você reagir, ter força de vontade e para estas pessoas eu digo: se fosse tão fácil assim eu já teria resolvido. Eu não consigo, a ansiedade me mantém refém dentro de minha casa, dentro da minha própria cabeça.

Meus remédios começaram a fazer efeito após 21 dias do início do tratamento. Após este período passei a melhorar e hoje vejo uma luz no fim do túnel. E, conforme os dias vão passando, vou aprendendo que vale a pena sim estar aqui, viver e ser feliz. Mas não sei se essa esperança realmente vem de mim ou se são os remédios falando.

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Carolina Tribst
Portfólio Carolina Tribst

Jornalista, formada na PUC São Paulo, apaixonada pela profissão que escolhi