Varejo é afetado pela alta do dólar, e o consumidor também.
Os produtos importados estão cada vez mais caros. Já não vale mais a pena esperar meses por aquela encomenda vinda de fora. Nas últimas semanas o dólar ultrapassou a marca dos R$ 4,00, a maior cotação desde fevereiro de 2016. A alta da moeda americana já começa a afetar o comércio e, por consequência, o consumidor, já que as empresas tendem a transferir parte desse aumento para o preço das mercadorias. Além disso, na última quarta-feira (29), os Correios anunciaram uma cobrança de R$ 15 por encomenda importada, o que também deve contribuir no aumento dos produtos para quem os consome.
Mas o que faz o dólar subir? Vamos entender. Um dos fatores é a alta dos juros nos Estados Unidos, já que a economia americana é mais estável e as taxas cobradas são menores. A instabilidade política e o período eleitoral também afetam o câmbio. Enquanto não há definição de quem vai governar o país e qual será seu posicionamento, empresários brasileiros e estrangeiros devem adiar decisões de investimento e o mercado deve pressionar o preço da moeda para cima.
O dólar para o turismo, por exemplo, também subiu. Além da compra da moeda, as hospedagens e as passagens aéreas passam a custar mais para quem pretende viajar. Mas mesmo quem não pretende viajar para fora do país ou tem o hábito de consumir produtos importados ou itens do dia a dia, como o pãozinho do café da manhã ou até mesmo o filé de frango da janta são afetados. Os alimentos à base de trigo mostram o evidente aumento no preço, já que a farinha usada no Brasil é trazida de fora. Assim como as carnes, que devem ficar mais caras por causa do aumento no preço dos grãos usados na alimentação dos animais.
Outra alta significativa, que levou os caminhoneiros a fecharem estradas na Greve dos Caminhoneiros, é a da gasolina e o diesel. Os derivados de petróleo são cotados em dólar e são diretamente afetados pela alta da moeda norte-americana. Com a alta desses derivados do petróleo, o frete fica mais caro e impacta em diversos setores da economia.
Carlos Cabral, professor de Macroeconomia da PUC São Paulo, acredita que se trata do “Pass Through” e explica que os fatos de várias mercadorias terem componentes importados e o atual ambiente da economia, com uma demanda precária e suprimida, criam uma pressão de custo e dificultam o repasse.
“Nós temos um cabo de guerra, chegando a um denominador comum. Porém, nesse denominador é difícil de estimar qual a magnitude do repasse. Algum repasse sempre tem, mas sempre dentro desse contexto de demanda reprimida, as pessoas estão desempregadas, sem renda para poder consumir. Por outro lado tem o fato sim de que o dólar encarece os produtos, não só o produto importado em si, mas seus componentes importados também”, afirma Carlos.
Outro fator negativo está relacionado à sensação de insegurança, tanto do consumidor quanto do lojista, que se não estiver otimista, não investe e ainda reduz seus lucros para tentar manter as vendas e continuar competitivo no mercado. Para Wilson Torres, vendedor de eletrônicos na Rua 25 de Março, a recuperação concreta se dará após a decisão nas urnas.
“Dependendo do resultado das eleições, os consumidores voltarão a confiar. Tenho um estoque enorme aqui e não consigo vender, ninguém quer”, conta o lojista.