Empatia de peso

Jhonatas Elyel
Os Arquivos Jota
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3 min readMar 19, 2022

Nan Hauser se deixava ser embalada pelo deslizar constante e sereno das ondas do mar naquele final de tarde. Como uma folha ao vento, a bióloga marinha se movimentava apenas para certificar-se de que não estaria afastada demais de seu barco, mas no fundo poderia permanecer ali pelo resto de sua vida, pensava, deixando-se ser ninada pela melodia harmoniosa e perfeita da natureza ao misturar o bailar das ondas e correntes subaquáticas que as formavam na superfície com o farfalhar do próprio vento, criando uma música celestial e, ainda assim, tão humana. Distraída ela nadava e as águas do Pacifico nunca tinham lhe parecido tanto merecer aquele nome quanto agora, há poucos quilômetros das Ilhas Cook, com nada além de milhas e mais milhas de mar aberto, na vastidão do oceano.

No entanto, tudo pareceu mudar em um piscar de olhos. Um piscar de olhos irreal e incompreensível à primeira vista para a bióloga australiana, que ao perceber se encontrava há poucos metros de um gigante. Não mais que a distância de uma barbatana Nan pode ver uma baleia jubarte se aproximando calma, porém certeira em sua direção e, apesar da experiência de anos lidando com cetáceos no Centro de Pesquisas Marinhas das Ilhas Cook a bióloga não interagira tão intimamente com um animal daquele porte. Poucos instantes se passaram entre o primeiro contato visual entre as duas criaturas e o encontro físico; assustador e ainda assim magistral.

A barbatana do animal logo estava acima da pesquisadora, que abismada observada o monumental corpo daquele mamífero marinho deslizar tente a seu lado esquerdo, antes que ela pudesse dar a volta e mergulhar brevemente para o fundo, emergindo novamente em direção a Hauser. Em poucos segundos a bióloga se encontrava em cima da cabeça da baleia, sendo erguida pelo gigante de vinte toneladas para a superfície do oceano. Só então Nan descobriu o que estava acontecendo ao vislumbrar um outro vulto na água e a barbatana dorsal inconfundível de um tubarão, há pouco mais de duzentos metros de onde ela e sua heroína estavam.

Gentilmente o grande cetáceo submergiu e a mulher tornou ao mar, agora permitindo-se tocar o longo e manchado dorso da baleia com a mão, em emocionado gesto de agradecimento. Estava de volta há poucos metros do barco de sua equipe e poderia nadar até o deque sem temer o terrível predador, enquanto era resguardada por sua amiga marinha. Por sorte naquele dia Nan levara consigo uma câmera para filmar embaixo d’água e observar o comportamento de outras baleias, caso as encontrasse, podendo gravar tudo de sua própria perspectiva enquanto a equipe do Centro de Pesquisas fazia o mesmo de onde estava, registrando o momento em que uma incrédula e maravilhada pesquisadora vinha a bordo e a baleia, logo atrás, esguichava e se inclinava para erguer a nadadeira em despedida à amiga humana que no barco lhe agradecia com repetidos. — Eu também te amo!

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Jhonatas Elyel
Os Arquivos Jota

PT: Escritor e historiador 🕰👨🏻‍💻 ENG: Writer and historian 👨🏻‍🏫⏳