Raíssa Vila
Portfólio de Raíssa Vila
5 min readJun 20, 2016

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Transportes clandestinos realizam viagens para o litoral paulista diariamente

Só no primeiro trimestre deste ano, foram apreendidos 124 veículos irregulares com destino ao litoral sul

Por Raíssa Vila

Quem desembarca na estação Jabaquara do metrô conhece bem a frase “Praia! Litoral! Praia! Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe”, ao sair da estação muitas pessoas são abordadas com ofertas de transporte para o litoral. Mas esse serviço é irregular e oferece riscos aos passageiros.

O transporte clandestino é uma atividade ilegal. Na maioria das vezes, os veículos não são vistoriados, não há garantia de que o motorista seja habilitado para atuar no transporte coletivo e, em caso de acidente, não há seguro para os passageiros.

Nas redondezas do Jabaquara, a prática acontece com bastante frequência. Todos os dias, em qualquer horário, pelo menos três pessoas diferentes anunciam o transporte na principal saída do metrô, e perto do terminal rodoviário também é possível ouvir. Os preços variam de acordo com o destino desejado, geralmente entre R$25 e R$35, com a opção de desembarque na porta de casa.

O principal ponto se concentra na Rua dos Grumixamas

Em 2015, foram apreendidos pela ARTESP (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) 1.027 veículos — ônibus, micro-ônibus e vans — que realizavam transporte intermunicipal clandestinos em todo o Estado. Uma média de 85 apreensões por mês.

Em períodos de feriados prolongados o lucro geralmente é melhor. No feriado de Corpus Christi (26/5), a movimentação só não foi maior devido ao tempo frio. A estimativa da Ecovias era que entre 160 e 265 mil veículos seguissem em direção ao litoral neste feriado, portanto a ARTESP em parceria com a Polícia Militar Rodoviária intensificou o monitoramento.

Larissa Lopez, 29, analista de comunicação, mora em São Paulo, mas a sua família inteira mora em Santos, por isso, quase toda sexta-feira ela desce para a baixada, e nunca viajou com as vans irregulares por medo. “A gente não sabe a qualidade do carro, não sabe se tem manutenção, não sabe que experiência o motorista tem com direção, não tem nenhum seguro se acontecer algum acidente, se você morrer, não tem nenhuma segurança ou proteção”, explica. Ela sempre opta por empresas de ônibus que atuam no Terminal Jabaquara.

Os ônibus regulamentados disponíveis nos terminais rodoviários oferecem seguro em caso de acidente e sempre passam por vistoria. Os preços variam de R$ 23,50 a 25,00. Enquanto as vans gastam 40 minutos para chegar ao destino, os ônibus gastam 1h10.

Um dos puxadores (nome dado às pessoas que abordam os passageiros) diz que não usam vans para viagens até a rodoviária de Santos, geralmente usam carros de 4 a 6 lugares e cobram R$30, R$7 a mais que o transporte regular. Os carros comuns servem para disfarçar a fiscalização nas rodovias e para transportar uma quantidade menor de passageiros. Os veículos maiores são utilizados para outros destinos, costumam deixar o passageiro no lugar desejado e saem a cada meia hora.

Além dos puxadores também existem fiscais, que controlam e organizam as chegadas e saídas em pranchetas de acordo com o número de carros e motoristas. Todos usam radiocomunicadores para comunicação mais rápida e eficiente, principalmente para avisar sobre monitoramentos.

Uma perua rumo a São Vicente, com capacidade máxima de 18 pessoas, transportou apenas sete pessoas na manhã da sexta-feira (27) pós feriado. Com velocidade alta e caminho livre foram gastos apenas 40 minutos até a cidade. Nela estava Rogério, morador de Suzano que foi visitar a tia no litoral. Ele não conseguiu pegar o ônibus na rodoviária porque estava sem documento, portanto pela primeira vez viajou com a perua. “Não tenho medo não, é só ter fé em Deus e fazer o que é certo”, afirma.

Interior da perua em trânsito para São Vicente

A perua é da empresa Turimar Locação e Transporte Ltda. Há 15 anos no mercado realizam viagens diariamente. Em março o mesmo veículo ficou apreendido por 51 dias. O motorista Arion diz ser um dos fundadores da empresa. Trabalhando desde 1998 é o único sócio que ainda dirige. “Os outros morreram, foram embora, desistiram porque a fiscalização pega muito e o pessoal vai se aborrecendo, vai vendendo, vai saindo”, comenta. Na linha existem 17 veículos, cada sócio tem de dois a três carros. De acordo com Arion, o transporte é seguro, possui liminar e eles sabem quando e onde tem fiscalização. Alega ainda que um comandante da Polícia Rodoviária das rodovias Anchieta e Imigrantes mandou um comunicado para a empresa dizendo que ele afastou a ARTESP e, desde 18/03, não estão fiscalizando.

“É muito boa essa empresa, sempre pego. Não gosto daqueles ônibus. Esse aqui deixa mais perto de casa”, aponta uma das passageiras, que se apresenta apenas como Cacá, uma senhora que mora em São Vicente, mas sempre que visita São Paulo utiliza o transporte clandestino.

A ARTESP se pronunciou sobre o afastamento: “A Polícia Militar Rodoviária deixou de acompanhar fiscalizações da Artesp nas rodovias por alguns dias, por determinação do seu comandante. Mas as nossas ações continuaram. Em 25/05 voltamos a solicitar o apoio da Policia Militar Rodoviária, assim, brevemente, voltará a prestar apoio aos fiscais da Agência no trabalho de fiscalização ao transporte clandestino de passageiros”. A Agência afirma que a liminar da empresa Turimar é válida apenas em Ribeirão Preto, portanto, se os veículos forem flagrados pela fiscalização, haverá autuação.

Até o fechamento da matéria, a Polícia Militar Rodoviária não se pronunciou sobre as causas da determinação do comandante.

A viagem pode ser interrompida a qualquer momento. Quando um veículo é flagrado pela fiscalização realizando o transporte clandestino, os passageiros têm de aguardar um novo transporte, regulamentado, para embarcar. O automóvel que faz o transporte ilegal é apreendido e é feita autuação do responsável pelo veículo.

Antes de utilizar o transporte intermunicipal, o usuário pode checar a procedência da empresa e certificar-se de que ela está cadastrada na Agência de Transporte do Estado de São Paulo, assim evita eventuais riscos e viaja de forma segura. Denúncias devem ser feitas para o 190 ou através do telefone 0800.727.83.77.

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Jornalista, 22 anos, analista de comunicação e pós-graduanda em marketing digital.