O Amor Não Existe

Matheus Freitas
Portfólio do Matheus
3 min readJul 28, 2019

A primeira vez que meu avô viu a minha avó não foi pela tela de um celular em que ele tinha a opção de deslizar pra direta ou pra esquerda (ou mandar um tap). Eles se conheceram quando ele foi fazer uma entrega de pão no bar do pai dela, e foi amor a primeira vista. A partir desse dia eles começaram a trocar bilhetes escondidos nas entregas de pão.

Por causa de histórias como essa, somadas a filmes da Disney e livros do Nicholas Sparks, eu desenvolvi milhares de versões de como a minha história de amor seria. Conversar com um carinha no Tinder num bar hipster de Botafogo comendo um hambúrguer caro demais nunca foi uma das minhas versões preferidas.

Mas pelo visto, esse é o suprassumo de romantismo que existe hoje em dia. Eu tenho CERTEZA que se “Simplesmente Amor” fosse feito em 2019, Andrew Lincoln não ia bater na porta da Keira Knightley declarando seu amor por ela com vários cartazes numa das cenas mais lindas já feitas no cinema. Ele ia se assustar porque estava começando a gostar de verdade e depois ia dar um ghosting.

A vida adulta faz de tudo para que você pare de esperar por atos grandiosos. Esqueça declarações, músicas compostas pra você ou um quadro de como as estrelas estavam no céu durante o primeiro beijo de vocês, o maior gesto de amor de hoje em dia é deslizar pra direita, invés de pra esquerda. Então a pergunta que não quer calar é: PORQUE A NOSSA SOCIEDADE PRECISA VER EESE TIPO DE “AMOR” PARA VALIDAR UM RELACIONAMENTO?

Você já parou para pensar que talvez os relacionamentos não devessem ser sobre amor, mas sim por sobrevivência? Entrar em um relacionamento em busca de prazer, dinheiro, companhia ou solidão não é nada novo. É só você assistir qualquer novela de época para perceber que romances por interesse eram a regra. Tudo bem, no passado talvez fosse pelo interesse de outra pessoa e a mocinha sempre se rebelava e lutava por um amor romântico, mas hoje a maioria de nós pode fazer as próprias escolhas e não precisamos ficar com um fazendeiro velho e escravocrata.

Se você olhar para a natureza, temos mais um argumento: se atrair pelos recursos do parceiro é algo real em muitas espécies, de macacos à cães à humanos. No período do acasalamento dos Peixes Choco, os machos parrudões se enfrentam para encontrar as melhores tocas, depois as fêmeas dão um rolê para escolher um macho de acordo com a toca e a força deles, mas se um macho menorzinho for capaz de se disfarçar para ultrapassar o macho alfa e chegar até ela, ela vai bem linda com o mais inteligente porque acha que ele tem mais capacidade para protege-la.

Não foi fácil chegar a essa conclusão e eu queria poder continuar dizendo para vocês que correr atrás de alguém no aeroporto ou um pedido de casamento na Torre Eiffel são reais, mas, como a pessoa mais romântica que vocês conheciam, eu sinto em informar: O AMOR MORREU.

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