To the Moon

Pedro Cabianca
Post Luden
Published in
5 min readMay 1, 2018

07/03 — 08/03

Algo que me intriga e aproxima muito de jogos independentes é a delicadeza em abordar temas íntimos que tantos deles conseguem atingir. Um trauma de infância, uma expressão de nostalgia, amor por algo ou alguém, sentimento de não pertencer a grupo algum, saudade de um amigo antigo, todos estes fatores me remetem a pelo menos um game que eu tenha jogado.

http://freebirdgames.com

To the Moon é um grande exemplo de jogos com este poder: com visuais simples, remetendo a um game da década de 90, um roteiro profundo, trilha sonora incrível e jogabilidade simples, ele pode te levar a grandes reflexões ao abordar temas complicados.

Você acompanha um dia de trabalho de Eva Rosalene e Neil Watts pela Corporação Sigmund, empresa com o objetivo de mudar as memórias de seus clientes em seus últimos momentos de vida para que eles possam deixar esta vida sentindo que todos os seus sonhos foram realizados e partam em paz.

A Free Bird Games o lançou em 2011, está disponível para Windows, Linux, Android, Mac OS e iOS e foi feito por basicamente uma pessoa (algo que só aumenta a magia de um jogo para mim), Kan Gao. To the Moon é um jogo que flerta com RPG e Puzzle, sem se aprofundar em nenhum dos dois gêneros e foca, principalmente, na história que conta.

Análise Fresca (Spoilers leves)

O jogo começou com um ritmo meio travado, com personagens parecendo caricatos demais e humor bobo, mas só até os pilares do game se estabelecerem. Eu já sabia que ele iria pra uma vertente mais emocional, mas não achei que eu embarcaria dessa forma. Os puzzles pra “voltar no tempo” me fizeram ter satisfação a cada vez que eu os vencia com o mínimo de movimentos possível, mas me afastavam do sentimento de atuação na história como se eu só estivesse seguindo trilhos de um enredo completamente pré-estabelecido.
O humor de referência, como piadas com Hadouken, Hulk smash, Kamehameha, piadas com a TARDIS de Dr. Who e Matrix conseguiram tirar bons risinhos de canto de boca sem soarem insistentes ou forçados.
A mecânica de 5 gatilhos de memória em cada momento de vida de John para prosseguir com a história foi um pouco repetitiva, mas como cada um deles também sempre tinha alguma coisa a acrescentar ao enredo, não quebrou a minha experiência.
O Instituto Sigmund parece uma organização que Cave Johnson (de Portal 2) criaria se ele fosse mais são.
O desfecho foi um pouco previsível (como a própria Dra. Eva já entrega pouco tempo antes), mas ainda assim é gratificante.
O cliffhanger do final sobre o Neil estar ou não dentro da mente da Eva (ou vice-versa) me deixou um pouco surpreso e confuso, mas nada como o fim de “Ilha do medo”. Espero que seja algo pra vender DLCs ou uma sequência.
No final do game, eu tive a sensação de que já conhecia toda a trilha sonora, simples mas bonita.
Discuti com um amigo sobre como não podia existir nenhuma mídia melhor que um jogo pra contar essa história. Um livro não me engajaria o suficiente para sentir que eu estaria alterando as lembranças da vida de alguém. Um filme, tampouco. O fato de eu poder explorar tão livremente os cenários me fez embarcar no mundinho.
O enredo me surpreendeu do começo até o (quase) fim com a narrativa da vida do John (e da River).
Quero guardar essa história bonita comigo por muito tempo comigo ainda.
Eu não sei por que quando eu abri o jogo no meu computador, ele configurou o idioma para inglês, mas ao tentar em outra máquina, ele tinha opções, sendo que português brasileiro era uma delas.
Se um dia eu me esquecer, nos vemos na lua.

Análise Digerida

Quando eu lembro de To the Moon, o sentimento que prevalece é o carinho. Uma história bonita e tocante sobre um amor antigo, amigos, tragédia familiar, humor, solução de um mistério, uma narrativa atenciosa e uma trilha sonora sensível que casa com cada cena.
To the Moon parece ter sido feito para mexer com um cara chorão como eu. Lembro de passar a campanha toda pensando “Ah, era isso que tanto me recomendaram a jogar e que me faria chorar até virar do avesso?”… Sim, era isso. Era essa a história que me daria um baque no último minuto, me faria ver como eu acredito profundamente no amor eterno, como mesmo pessoas que não são exatamente boas podem ter sentimentos belíssimos, como um sonho vale mais do que o medo do arrependimento e como algo que alguns podem ver como egoísmo, pode ser uma ação silenciosa de generosidade.
To the Moon mexeu comigo, e faz parte de jogos indies que eu recomendo com frequência pra muita gente. Eu ADORARIA que a Netflix comprasse o roteiro do criado Kan Gao e fizesse um especial de duas horas Black Mirror X To the Moon.
Embarcar com os dois personagens removidos do roteiro de A Origem numa jornada pelas memórias de John nos leva a pensar nos arrependimentos que temos, no que gostaríamos de mudar e em quem machucamos. Nos lembra que toda vida tem suas memórias gostosas, nossas perdas e aprendizados.
Um walking simulator 2d isométrico, com cara de RPG me trouxe sentimentos mais profundos do que muito jogo de grande orçamento feito por uma grande empresa internacional conseguiria, mesmo que tentasse. A forma como as cenas sérias são quebradas com humor de referência bem dosado, ou um pastelão rolando solto faz com que o ambiente fique balanceado e que dê pra matar essa história toda em menos de uma sessão (diferente do que eu fiz).

Veredito

Relendo a análise fresca, percebi que pequenos fatores me desagradaram no jogo, mas, na balança, o jogo terminou com um saldo extremamente positivo. Até hoje sorrio lembrando de cenas, seja porque fossem bonitas ou engraçadas.

Entendo que To the Moon pode não ser um jogo que agrade a todos, porém acho que a qualidade da história que conta é algo indiscutível. Os visuais podem afastar alguns, mas é o tipo de história que, se eu desse aos meus pais no formato de um livro, os emocionaria profundamente.

Você pode encontrar o game por R$16,99 em lojas como o Steam e o GOG para jogar em computadores, embora eu tenha comprado por R$3,39 em uma promoção no Steam e no GOG, pois comprei o mesmo jogo duas vezes. To the Moon já possui uma continuação, que já comprei e pretendo jogar num futuro próximo, mas já joguei epílogo da sequência que é vendido separadamente, e trarei ao Post Luden em breve.

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