Völgarr the Viking

Pedro Cabianca
Post Luden
Published in
5 min readJun 8, 2018

18/4 — 14/06

Como único jogo da desenvolvedora Crazy Viking Studios, Völgarr protagoniza um semi-impossível jogo de plataforma, bastante semelhante a alguns títulos dos anos 80 e 90, que teve seu primeiro lançamento em 2013 para computadores, mas veio recebendo adaptações para Xbox One, PlayStation 4, PlayStation Vita, WiiU, Switch e até uma conversão “caseira” para o Dreamcast, da Sega (console descontinuado em 2007).

O jogo existe por conta de uma campanha de financiamento coletivo, que arrecadou o dobro do que foi pedido para a realização do projeto.

Análise fresca

Um jogo que eu já tinha tido um primeiro contato na casa um amigo me foi presenteado pelo mesmo no dia 17/04. A princípio, eu achei ele impossível. Não impossível de platinar, como eu pensava do The Binding of Isaac, mas impossível de se prosseguir até o fim do jogo, pela sua dificuldade estupidamente elevada. Após algumas (INCONTÁVEIS) mortes, eu comecei a entender que eu estava jogando um dos games mais desafiadores e justos que eu já tinha visto. Eu não morria sem o sentimento de que a culpa era minha. Eu não avançava com dúvidas se eu tinha tido sorte. Não. Meus fracassos pesavam sobre as minhas costas e minhas conquistas eram minhas e apenas minhas. O acaso não era um personagem desta história. No dia 11/05, minha primeira grande conquista: eu concluí o modo história pelo final C, ou seja, independente da quantidade de mortes, eu cheguei ao fim da rota mais fácil. “Acabou. O jogo é impossível, e fazer o final A é apenas para quem dedicar toda a vida ao game”. Este era eu quando derrotei Fanfir pela primeira vez e vi a tela de créditos passar diante dos meus olhos. Felizmente, o jogo fez uma leve provocação de que eu tentasse apenas seguir pelo caminho da valquíria da penúltima à última fase.

No dia 25 de maio, eu decidi tentar realizar este feito e consegui já no primeiro dia, concluindo a rota B de Völgarr. Novamente a tela de créditos rolou, e eu decidi que era hora de iniciar o desafio final do jogo: “O caminho da Valquíria” completo. Eu já tinha tentado “brincar” com este caminho algumas vezes por conta das minhas tentativas de time attack da primeira fase, porém sempre que dava com a cara na segunda fase, versão difícil pra cacete que ninguém pode passar, eu me frustrava e acabava fechando o jogo. Como este era o único meio para a vitória, decidi insistir até aprender o level design da “fase da água”. Após tentar muito, mesmo, eu consegui passar do primeiro desafio da valquíria, mas já morri na terceira fase. Mais uma ou duas tentativas foi tudo que eu precisei e, com muita tensão, pausas para respirar e espairecer, xícaras de café para aguçar os sentidos, eu segui até o último mundo. Recorri a um tutorial em apenas um pequeno trecho da segunda fase que não fazia o menor sentido para mim. De resto, fiz questão de aprender sozinho como superar cada obstáculo.

O sentimento de vitória de platinar Volgarr the Viking foi incrível e hoje eu já sinto que jogo algum pode olhar nos meus olhos, me subjulgando. Achei divertido como entrei na lógica do jogo, encontrando de forma completamente instintiva cada esconderijo do Mjölnir (uma proteção ao personagem que fica escondida em cada fase). A trilha do game é empolgante, mas para as tentativas de treino se tornam massantes e foram substituídas por outras músicas ou podcasts. O game design é justo. O enredo é secundário ou até mesmo terciário na experiência, mas não sinto como se os criadores do jogo almejassem que a história fosse dos elementos mais importantes aqui. Eu soquei muito a mesa, bati na minha própria cabeça, ri de nervoso, quase chorei de raiva, mas o sentimento de superar cada barreira neste jogo fez tudo valer a pena. Uma experiência incrível que eu espero não esquecer tão cedo.

Análise digerida

Passado um ano após limpar Völgarr the Viking, eu decidi que era melhor revisitá-lo do que só me basear nas lembranças para falar a respeito. A maior parte dele está no desafio de jogar e vencer, então eu gostaria de saber quanto de mim ainda merecia o Salão de Valhalla, como um verdadeiro e honrado guerreiro. Com a difusão do conceito de que a série Souls era o novo padrão de dificuldade em videogames, acredito que a única obra da Crazy Viking Studios tenha sido uma das provas que eu precisava para mim mesmo para refutar essa ideia. Com Völgarr the Viking, eu aprendi que a dificuldade pode vir de uma aplicação muito simples: não te é oferecido um vasto arsenal, novas técnicas de espada ou poderes mágicos ao longo do jogo. Tudo com que o personagem conta está com ele do início ao fim da jornada. Você tem a opção de adiantar as fases que já passou, porém ao vencer um estágio, te dá o sentimento de que aquela tentativa foi melhor do que qualquer anterior, que cada falha lhe trouxe um aprendizado, e que você está cada vez mais próximo de uma jogada perfeita. Visitando o título de novo, eu vi que eu ainda tenho memória muscular de alguns estágios e que um ano não foi o suficiente para que eu regredisse ao ponto que eu estava na primeira vez que tentei incorporar Völgarr, menos ainda que o meu aprendizado havia sumido. Eu ainda lembro a localização de alguns segredos, táticas para momentos específicos… ainda está tudo aqui. Revendo os diversos inimigos, estruturas de fases e momentos do jogo, vejo que ele também é repleto de referências a jogos como Altered Beast, Rastan, Demon’s Crest e tantos outros que eu talvez nem conheça, mas percebo que aquele detalhe específico poderia facilmente estar presente em outros jogos. Hoje eu confio que não haja desafio que seja grande demais para um jogador empenhado, e este jogo é um dos responsáveis disso. Foi um breve contato com um pouco de mitologia nórdica que, junto com filmes, livros e outras mídias, me ensinaram e fomentaram a curiosidade de entender mais dessa rede de lendas.

Veredito

Se você adota o discurso de que “não se fazem mais jogos como antigamente”, você deve tentar sobreviver a Völgarr. Ele é vendido por R$20,00 no Steam, mas não é difícil vê-lo com descontos de até 90% em promoções sazonais, e roda perfeitamente em computadores com setup bem simples.

Se você está procurando uma narrativa mais envolvente, uma experiência que vá te levar a uma reflexão mais profunda sobre questões morais e éticas, acredito que este pode não ser o seu momento para desbravar VtV.

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