Fênix das passarelas e revistas

A cada estação, uma nova tendência

Camila Agner
Post Mortem
4 min readJun 1, 2016

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Morte. Moda.

Apesar das duas palavras começarem com a mesma letra, a conexão entre as duas não parece fazer sentido. Mas faz — e muito. A moda morre todos os dias e, depois de morrer, ressuscita diversas vezes. A jornalista e blogueira de moda Ana Paula Mocelin desde o início da sua aproximação com a moda já entendeu essa conexão maluca.

“Parece estranho unir estas duas palavras — morte e moda — numa mesma frase, mas é possível sim fazer uma ligação entre elas. Sob a minha perspectiva, eu entendo ‘morte’ como o fim de uma existência. Esta existência pode ser uma vida, um sentimento e no caso da moda, uma tendência, uma forma de se vestir. Porém, você para e pensa: mas a moda não é perene? Afinal, as tendências aparecem, desaparecem, aparecem de novo e assim sucessivamente”, instiga.

Audrey Hepburn, em Bonequinha de Luxo — ícone da moda que também voltou a ser tendência

A resposta é simples: a moda é tão perene que morre sucessivamente. “ Na moda não existe mais o que se criar, apenas o que ‘re-criar’. A calça, a blusa, a meia, o gorro, o sapato, tudo isso já foi inventado. Por isso as tendências se repetem”, explica.

Repetição essa que gera um novo interpretar sobre uma peça. Ana, entendedora de moda que é, esclarece essa relação. “O que acontece é que são inventadas novas formas de usar e de combinar esta peça já existente. E durante o tempo em que esta peça reinventada está sendo usada pelas pessoas de forma mais intensa, esta tendência está viva. A partir do momento em que este elemento da moda é substituído por outra peça reinventada, ela morre”, enfatiza.

A verdade é que a palavra morte e todas as suas variantes pesa, assusta, amedronta. E, no mundo da moda, nem sempre isso é tão bem-vindo. Por essa razão, as tendências que desaparecem recebem um toque de eufemismo doce e até poético — Ana é adepta a esse eufemismo. “Talvez pudéssemos usar a palavra adormece, ao invés da morte. Uma vez que ela pode voltar a ser tendência. Mas o fato de ela voltar com uma nova leitura, já a torna diferente do que ela era antes, ainda que a peça seja igualzinha. As pessoas, o tempo, o espaço, tudo muda constantemente. A época e como as pessoas eram (física e psicologicamente falando) naquele período de tempo em que a tal peça era tendência não se repetem neste novo tempo. Por isso, ocorre o fim de uma existência”, conclui.

ADORMECERAM

Bolero, bolero, como eu te quero!

Ah, para. A moda dos bolerinhos morreu e morreu feio. Prova viva — ou morta — de que a moda é, sim, bem periódica.

Foto via Garotas Estúpidas

Depois dos bolerinhos, mais uma tendência adormecida: dos sneakers. Um verdadeiro estouro da moda em meados de 2014, o sneaker fez o pé de muitas mulheres que apostavam no tênis com um salto alto oculto.

Foto via Nova

RESSUSCITARAM

Depois do auge vivido nos anos 60–70, a famosa e queridinha calça pantalona morreu. Espalhafatosa, cheia de charme e digna de uma boa plataforma, a calça se despediu aos poucos e, de repente, os adeptos ao modelito eram tachados de antiquados.

Com tanto remorso guardado, em 2015, a calça voltou com tudo. Ali, quem usava não era antiquado: era hippie chic. Ressuscitou com estilo!

Foto via Na Passarela

Outra tendência que ressuscitou para comprovar a teoria da blogueira Ana Mocelin é a gargantilha chocker. Muito conhecida entre as adolescentes dos anos 2000, a tendência voltou com tudo. A diferença é que, agora, o acessório ganhou mais sofisticação e não prende os cabelos como prendia outrora.

Foto via Capricho

Moda e tendências: provando que, nem sempre, uma morte é tão pesada quanto parece.

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Camila Agner
Post Mortem

Jornalista resgatando o hábito de escrever “só por escrever”.