O encanto do suicídio

Por Rejane Martins Pires

Post Mortem
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2 min readJun 1, 2016

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“A vida de um homem é só o tempo de se contar um.” (Hamlet)

A morte voluntária sempre me chamou atenção. Paradoxalmente, sempre me amedrontou. Matar-se era um verbo proibido para crianças. Quando um vizinho se enforcou e o burburinho tomou conta da vila, havia um veto sobre o assunto em casa. Quando uma mulher enlouquecida jogou o carro com marido e filha embaixo de um caminhão, tratou-se como acidente.

O lado obscuro do suicídio é, de fato, intrigante. Quem nunca imaginou-se caindo num abismo sem chance de voltar? Quem nunca julgou o suicida? Quem nunca desdenhou sua fraqueza? Ou sua coragem? Egoísta? Altruísta? Ou apenas um ser humano qualquer.

Ana Cristina Cesar se matou. Virginia Woolf se matou. Sylvia Plath se matou. Florbela Espanca se matou. Hemingway se matou. Milhares de pessoas se matam todos os dias. E outras milhares ameaçam. E outras tantas barganham com a morte. A diferença é que se matar tornou-se um espetáculo praticamente on line. Saiu da esfera privada e do imaginário para algo tão banal quanto escovar os dentes.

Aí me questiono sobre a artificialidade do mundo moderno, a falta de identificação com o outro e, principalmente, sobre a ausência de amor e generosidade. Afinal, roubar a intimidade de alguém (num momento de fragilidade) é roubar-lhe o que há de mais sagrado: sua vida e sua história!

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