Velório com brodo é melhor

Por Rejane Martins Pires

Post Mortem
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2 min readJun 1, 2016

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Enquanto as carolas rezavam o terço, os homens iam para o pátio jogar conversa fora, contar piada e se atualizar das novidades

Quando criança, ainda no sítio, os velórios eram raros. Por isso mesmo, eram verdadeiros acontecimentos. A vizinhança inteira parava para homenagear o morto. Tinha brodo e pão de padaria. Enquanto as carolas rezavam o terço, os homens iam para o pátio jogar conversa fora, contar piadas e se atualizar das novidades. Era a oportunidade de parentes distantes matarem a saudade.

O morto ficava ali. Assistindo tudo de camarote. Velava-se em casa — às vezes até chegar o caixão — em cima da mesa. Isso mesmo. Certa vez, fui num velório de cumpadre do meu pai e fiquei impressionada com aquilo. Muito pequena ainda, só enxergava os sapatos. À noite, sonhei que os sapatos estavam vindo em direção à minha cama. Corri dormir com meus pais. Confesso, eu tinha medo de morto. Não da morte.

Era algo distante. Até porque morriam poucos jovens e crianças. O normal era “morrer de velho” e quando se “morria de velho”, eu pensava, tudo bem. Foi assim com meus avós e com uma tia (nem tão velha). Quando meu pai faleceu aos 67 anos, a coisa mudou. Achei aquilo um castigo. Se eu tivesse oito anos, acharia normal (para quem é criança, passou dos 30 é velho), mas já estava perto dos 30. A morte, então, passou a significar perda. Perda doída.

Cinco anos depois, foi a vez do meu irmão nos deixar, aos 33 anos, vítima de um acidente. A morte escureceu nossos dias. Parecia não haver razão para continuar. Infelizmente, não sabemos lidar com a morte. Nossa cultura não incorpora a morte como parte da vida. É algo que aterroriza. Deprime.

E, quando encontramos alguém que sabe, nos assustamos. Foi isso que aconteceu comigo dia desses ao conversar com o médico Jesus Lopes Viegas. Quando fui entrevistá-lo, estava certa de que ele iria chorar, aos prantos até, afinal perdera o filho recentemente. Engano. Encontrei uma pessoa serena e tão elevada espiritualmente que me senti pequena, egoísta e ignorante. Está aí uma coisa para refletirmos. Afinal, morrer é mais fácil do que se imagina!

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