Eva e Juarez
Um simpático casal de moradores de rua faz um cerco improvisado para habitar transitoriamente um pequeno espaço no bairro mais rico de Brasília
Era finalzinho de domingo, o sol estava fraco, quando vi este casal carregando alguns pedaços de madeira para cercar um território improvisado com galhos, no centro do Lago Sul, um dos bairros mais ricos de Brasília e do Brasil.
Ele se chama Juarez, veio do Piauí, sofre com dores de coluna há um punhado de tempo. Ela se chama Eva, do Goiás, já sofreu um derrame. São sobreviventes abrigados neste pequeno espaço sem paredes nem teto, convivendo com frio e chuvas e fome diariamente. Há mais de dez anos fazem companhia um ao outro.
Quando passei pelo local e vi os dois carregando pedaços de madeira, tive que parar para fotografá-los. Ficaram desconfiados. Juarez aceitou a foto, mas Eva não quis, então eu perguntei se poderia fazer a foto caso trouxesse algumas coisas para que eles pudessem matar a fome, estavam sem comer desde cedo.
Fui ao supermercado, comprei dois litros de água, suco, dois salgados, pacotes de biscoito, algumas bananas, algumas maçãs, um par de escovas e alguns sabonetes e voltei para fazer a foto. Quando eles me viram, Eva mudou a atitude desconfiada e ficou com esse olhar amigável no rosto pedindo desculpas. Ela disse: “porquê não queria sair na foto parecendo uma louca, carregando madeira por ai”. Enquanto isso o Juarez também se justificava: “Eu sempre falo. Ela é muito desconfiada, muito brava. Tem que ter humildade. Não pode ser assim com as pessoas”.
Por algum motivo este casal me cativou e fica registrada ai a minha homenagem aos dois. Tomara que estejam de barriga cheia e sintam-se aquecidos neste momento.