A elitização do basquete cearense: uma reflexão dos Jogos Escolares do Ceará 2021

Ian Araújo Magalhães
Próxima Partida
Published in
4 min readJan 19, 2022

Os Jogos Escolares do Ceará de 2021 evidenciaram a elitização do basquete cearense

Pódio da modalidade de basquete dos Jogos Escolares do Ceará / Foto: Ian Magalhães

Nos dias 4 e 5 de dezembro, foram realizados os Jogos Escolares do Ceará de 2021 da modalidade de basquete, no Centro de Formação Olímpica (CFO). O Christus, colégio particular de Fortaleza, venceu a competição após derrotar o Beni Carvalho, escola pública de Aracati, por 72 a 26 na final. O placar discrepante também foi visto nas outras partidas do colégio fortalezense, que era a única equipe com boa estrutura para treinos, contra times do interior do estado que enfrentam dificuldades para praticar o basquete no dia a dia.

A trajetória do Christus se iniciou no sábado (4), diante do Massapê, com uma vitória massacrante por 82 a 6. Além do placar, o fator que mais chamou atenção foi a falta de treinador no time da cidade do norte do estado, localizada a cerca de 250 km de distância da capital alencarina. Em seguida, o colégio de Fortaleza enfrentou o time da cidade de Orós, e novamente venceu por um placar extraordinário: 62 a 12.

O adversário do Christus na grande final foi o colégio Beni de Carvalho, com sede em Aracati. O time do Vale do Jaguaribe também venceu seus dois primeiros jogos por grande diferença. Na primeira partida, derrotou o time de São Gonçalo do Amarante por 44 a 10. Na segunda, ganhou da equipe de Tamboril, por 48 a 14.

Na decisão, o primeiro quarto foi bastante disputado, e o Christus venceu por 14 a 13. Porém, o que parecia uma final de igual a igual tornou-se mais um massacre da escola particular da capital. Os garotos do Christus ganharam o segundo quarto por 20 a 0. O Aracati sentiu o cansaço e a falta de ritmo contra um time que possui uma rotina de treinos bem definida e com uma boa infraestrutura. No final, 72 a 26 para o time de Fortaleza.

Final da modalidade de basquete entre Christus e Aracati / Foto: Ian Magalhães

Após o jogo, o treinador Luis Viana, de Aracati, comentou sobre o orgulho da campanha de seu time e todas as dificuldades enfrentadas contra o time da capital:

“O orgulho é imenso; os alunos da escola Beni Carvalho de Aracati vieram e representaram com toda a garra, com toda a firmeza. É óbvio que a estrutura que o Christus tem aqui na capital, não só a estrutura física, no próprio colégio, mas a estrutura de competitividade aqui na capital é totalmente diferente da gente lá no interior que depende de uma, duas competições anuais. Aqui os caras passam o ano inteiro jogando, né? Então isso facilita quando chega na fase final da competição dos jogos escolares. E muitos dos atletas (do Christus) estão participando de jogos pelo BNB Clube ou por outros clubes aqui na capital, enquanto os nossos atletas dependem basicamente de jogos escolares. Agora, na final, fizeram um jogo regular até determinado momento, e aí a parte física bateu e o Christus mostrou para que veio. Isso é normal, acontece já há alguns anos, a capital prevalece um pouco mais a frente ao interior, principalmente no basquete, que, como você falou não é um esporte divulgado dentro do estado”, exaltou o técnico.

Sobre o trabalho desenvolvido em Aracati e as adversidades que enfrenta diariamente, ele complementou:

“Lá na escola Beni Carvalho, a gente desenvolve um trabalho mais de clínicas, ? Porque têm uns meninos que nunca jogaram basquete na vida. Como é uma escola de ensino médio, eu pego muitos meninos sem base nenhuma de basquete. Aqui eu trouxe três meninos que viram basquete pela primeira vez esse ano e após essa volta de aulas remotas, quando a gente voltou pras aulas presenciais foi que os meninos viram o que é basquete, entenderam o que é basquete. Então a gente desenvolve um trabalho de clínicas, treinando duas vezes por semana em um horário limitado, só uma hora, às vezes eu consigo fazer uma hora e meia por dia, e mesmo assim deu pra gente desenvolver um bom basquete aqui na competição”.

O treinador Cleber Paiva, de Tamboril, time que terminou em 4° lugar da competição, também relatou as dificuldades enfrentadas pela equipe na trajetória até os Jogos Escolares:

“Foi uma jornada bem difícil, ? Principalmente em relação à estrutura mesmo. O nosso time é muito novo e inexperiente. E a distância de vir de uma cidade do interior, de Tamboril, pra cá [Fortaleza], torna a viagem cansativa e tudo mais. Mas a maior dificuldade é porque aqui é uma realidade totalmente diferente da nossa. Nosso clube representa aqui, de fato, uma expressão que a galera usa muito, que é o grande interior, interior de verdade mesmo. É uma outra cultura. Mas a gente está muito orgulhoso de estar aqui. É a nossa filosofia: a gente sempre tem que se superar em quadra porque a gente sempre tem que se superar em tudo.,”

Cleber também mencionou as dificuldades enfrentadas por ele para conseguir se manter como treinador da equipe:

“Eu trabalho mais com força de vontade mesmo. Eu sou professor de Filosofia, não sou professor de Educação Física. Eu tenho que me virar com o tempo. Eu estudo, faço mestrado, sou professor [de Filosofia] e sou professor de basquete. Tenho que me virar com isso tudo. Tenho que me virar sem equipamento, tenho que me virar sem estrutura.”.

Em contrapartida, nos mesmos Jogos Escolares, mas na modalidade de futsal masculino, equipes do interior do estado conseguiram disputar, de igual a igual, contra o time da capital. A final foi disputada entre Banabuiú e Jati, cidades distantes da região metropolitana de Fortaleza.

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Ian Araújo Magalhães
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Estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará.