Competição de basquete na etapa estadual dos Jogos Escolares reúne histórias de superação no Ceará

Martonio Carvalho
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4 min readFeb 7, 2022

Com seis equipes participantes, partidas da modalidade foram disputada no Centro de Formação Olímpica (CFO), em Fortaleza, nos dias 4 e 5 de dezembro

Partida entre Orós e São Gonçalo do Amarante, pela primeira fase da etapa estadual dos Jogos Escolares no Ceará (Foto: Martonio Carvalho)

A Secretaria do Esporte e Juventude do Ceará (Sejuv) realizou neste final de semana, nos dias 4 a 5 de dezembro, a competição de basquete na etapa estadual dos Jogos Escolares na categoria de 15 a 17 anos. Vencedoras das etapas macrorregionais, as escolas representantes das cidades de Aracati, Fortaleza, Massapê, São Gonçalo do Amarante, Orós e Tamboril disputaram os jogos da modalidade no ginásio do Centro de Formação Olímpica (CFO), em Fortaleza (CE).

Dentro de quadra, a equipe de Fortaleza, representada pelo Colégio Christus, instituição da rede particular de ensino da capital cearense, não teve dificuldades para vencer os dois jogos classificatórios — triunfos sobre Massapê, por 82 a 6, e Orós, por 68 a 12 — no sábado, e a final, disputada no domingo, com vitória por 72 a 26 sobre o Aracati na decisão. No confronto pelo terceiro lugar, Orós bateu Tamboril por 38 a 11 e completou o pódio.

Promovido com o objetivo de gerar intercâmbio sociocultural e educacional entre os alunos das diversas escolas do Ceará, a competição de basquete dos Jogos Escolares expôs a desigualdade de condições entre escolas da rede pública/privada e da capital/interior.

Se dentro das quadras ficou evidente a diferença técnica entre a campeã e as demais instituições de ensino, fora das quatro linhas não restaram dúvidas sobre os sonhos dos alunos-atletas em seguir carreira no esporte e no empenho de profissionais que fazem a diferença para tornar esses desejos realidade.

Estrutura precária evidencia falta de investimentos no esporte

Eliminada ainda na primeira fase, a equipe de Massapê não tinha técnico para orientar a equipe do banco de reservas. Com apenas um mês para se preparar para a competição, o time da cidade localizada na região metropolitana de Sobral não teve quadra para treinar e precisou improvisar uma tabela na praça do município.

Integrante da equipe massapeense, o estudante Pedro Costa, de 16 anos, elogiou a organização dos Jogos e atribuiu os resultados negativos da equipe à falta de estrutura na cidade.

“A experiência de participar dos Jogos foi surreal. Estrutura maravilhosa, um amparo muito bom dos profissionais daqui. Acredito que a falta de treinos lá no município influenciou nosso desempenho. Houve os decretos e não estávamos treinando. A gente treinava apenas na praça, se virava do jeito que podia. Antes tinha um projeto da prefeitura. A maioria começou por causa do projeto. Com o passar do tempo, mudou a gestão e o projeto foi descontinuado”, relatou o estudante.

Estudante Pedro Costa, de 16 anos, aluno-atleta da equipe de Massapê (Foto: Martonio Carvalho)

Apesar das dificuldades para praticar a modalidade onde mora, Pedro não desiste do sonho de se profissionalizar no meio esportivo.

“Pratico basquete há dois anos. Acompanhava desde pequeno, via os lances e pensava: ‘há, esse não é meu esporte’, mas quando eu vi que era capaz, não tive dúvidas que queria treinar e começar a jogar. Espero conseguir me mudar para Fortaleza e, quem sabe, receber mais oportunidades”, concluiu.

De forma semelhante, a equipe da cidade de Tamboril, no sertão central, teve de superar obstáculos para chegar à competição. Sem um professor de educação física, a equipe foi orientada por Clébio Paiva, professor de sociologia e praticante de basquete. Vibrante nas arquibancadas, Clébio não escondeu a alegria após a vitória sobre a equipe de São Gonçalo do Amarante, em jogo válido pela primeira fase da competição.

“A nossa região é a mais pobre do estado, é sertão central, a gente não tem muito a cultura do basquete, só futsal. Então, estou muito orgulhoso dos meus meninos. Eles são como uma equipe de hóquei que joga no deserto, guardadas as devidas proporções. Eu fiquei muito feliz em quadra com o desempenho deles”, afirmou o professor.

Equipe da cidade de Tamboril, quarta colocada na competição (Foto: Martonio Carvalho)

Além das dificuldades enquanto equipe, Clébio teve de abrir mão de objetivos pessoais para acompanhar seus alunos na competição. Portanto, o professor acredita que a vitória dos meninos passa uma mensagem de superação, mas que também evoca os valores da coletividade.

“Eu tive que abrir mão de muita coisa para acompanhá-los, inclusive um mestrado. Essa vitória tem um valor que transcende o esporte. Essa vitória tem uma mensagem de como o ser humano pode se superar. Eles se dedicaram muito a isso, era o que mais ocupava o tempo, o amor e a paixão deles. Espero que eles entendam que isso extrapola o basquete. Eles podem conseguir muitas coisas com força de vontade, dedicação e coletividade. Se eles não têm uma ajuda tão grande, eles precisam se ajudar”, concluiu.

Procuradas, as prefeituras dos municípios de Massapê e Tamboril não responderam às perguntas enviadas pela nossa equipe até o fechamento desta reportagem.

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