águas públicas
É problemática a relação entre a cidade de Belo Horizonte e suas águas desde o período da construção da nova capital. Ainda que um dos principais motivos da escolha desse sítio para a construção de Belo Horizonte fosse a abundância dos recursos hídricos, e que a proximidade com o Ribeirão Arrudas, que corta a cidade de oeste a leste, tenha sido grande condicionante da ocupação, as águas não foram tratadas com respeito no planejamento urbano da cidade. O traçado geométrico proposto pela Comissão Construtora ignora completamente o relevo e os caminhos das águas. O Arrudas e os córregos da capital serviriam como despejo de lixo e esgoto desde o princípio da ocupação, e já a partir da década de 1920 começam a ser retificados e canalizados.
Com o passar dos anos, a população aumentava e a associação entre rios e insalubridade ficou evidente. Em um contexto de positivismo higienista, a solução foi iniciar o fechamento dos cursos d’água a partir da década de 1960, processo que se estende até os nossos dias. Nas regiões centrais da cidade, a existência dessas águas que correm debaixo do asfalto é notada, pela maioria, apenas em meses de chuva quando elas ganham a superfície e inundam determinadas regiões. As minas d'água que brotam aos montes ao longo dos cursos tampouco recebem alguma atenção: na maioria dos casos, as águas são armazenadas embaixo dos edifícios e despejadas diretamente na rede pluvial. Não se pode dizer que estejam sendo desperdiçadas: ainda que a água limpa seja jogada nos córregos e no ribeirão lotados de esgoto, esse processo é importante para diluição do esgoto e diminuição da mancha de poluição. Contudo, antes de receber esse fim, elas poderiam ser melhor aproveitadas na criação de espaços de encontro cotidiano com as águas — espaços, esses, raríssimos em nossa árida Belo Horizonte.
A Escola de Arquitetura foi construída em 1939, segundo uma lógica modernista e positivista. No que diz respeito às águas, segue as diretrizes em uso até hoje na cidade e adota um posicionamento de domínio da natureza e dessas águas. Seu quarteirão, era, originalmente, cortado pelo códrrego Acaba Mundo; na região, existiam inúmeras nascentes. Contudo, os sinais dessas águas também só se fazem presentes em situações de inundações.
Em seu jardim, um lago artificial existe, com formas similares à lagoa da Pampulha. Engraçada essa relação: ao mesmo tempo que não aproveitamos as potencialidades das águas urbanas, das cachoeiras e quedas d’água que existiam pela cidade, além de destruirmos tudo isso — poluindo, retificando, canalizando, tamponando — criamos lagos e lagoas artificiais para servirem, unicamente, como elemento estético. Na Escola, a água que poderia ser usada para regar o jardim e umedecer o solo, é colocada em local impermeável; chafarizes e uma bomba são o que poderiam fazer as águas se movimentarem.
A presença do lago na paisagem da praça variou muito ao longo dos anos. Ao iniciarmos a disciplina, o laguinho estava na mesma situação da praça: abandonado, sujo, vazio. Quando questionamos a direção da Escola de Arquitetura a respeito de sua inatividade, nos foi explicado que a bomba estava quebrada há alguns anos porque a caixa de máquinas não era impermeabilizada e a água que entrava em época de chuva danificava o maquinário. Para enchê-lo novamente, pensamos em alguns modos de utilizar as águas das nascentes do entorno ao lago. Mas pela dificuldade de trazer essas águas até o laguinho, já que não encontramos uma mina no mesmo quarteirão da Escola, não chegamos a nenhuma solução, e decidimos aproveitar essas águas minimamente, para a limpeza do lago. Ainda que não fosse uma solução duradoura, achamos importante chamar atenção para a presença da fonte e colocar a visita à mina como um evento marcante. Contudo, a inexistência de um projeto de alimentação permanente do laguinho — com o aproveitamento de águas de chuva, por exemplo -, não incentivou a continuidade de seu uso cheio de água, e manteve a lógica do sistema de funcionamento pela bomba, de modo não natural.
Num primeiro momento, fizemos uma limpeza coletiva do laguinho com as águas da mina e, num segundo, enchemos com água de um caminhão pipa. Algumas pessoas de fora da comunidade da Escola participaram brevemente em ambos os dias — principalmente o senhor que trabalha na banca na praça e algumas pessoas com crianças -, mas o envolvimento maior foi dos alunos da Escola de Arquitetura, que fizeram, nesses dois dias, farras agradáveis. Entre esses dois eventos, o trabalho foi no sentido de mobilizar, tanto a comunidade da escola — com os próprios eventos, com conversas, questionando a diretoria sobre as condições do laguinho — quanto a comunidade dos moradores nas proximidades, através de entrevistas, conversas e questionários distribuídos nos condomínios. O conserto da bomba ficou pronto depois da última ação que fizemos na praça. No momento em que fomos encher o laguinho, percebemos que havia um cano quebrado, que impedia que a água retornasse para o laguinho. A direção da Escola se comprometeu a consertá-lo, mas desde então não temos voltado com frequência à Escola e não sabemos se já foi consertado. Haverá uma assembleia dos alunos na próxima semana e o laguinho está na pauta.
Ao longo do processo, foi possível notar um desejo latente de que aquele lago voltasse a funcionar, seja por lembranças passadas, seja por nunca tê-lo visto cheio. Isso nos fez aprofundar nossos questionamentos sobre as possibilidades de aproveitar as águas de córregos e minas — tão abundantes da região da Escola — e de criação de espaços na cidade de vivência com a água. Algumas alternativas que enxergamos são piscinas públicas, contra a lógica da existência de uma piscina por edifício; um grande reservatório subterrâneo na Savassi, no lugar de projetos de estacionamentos; canais que interliguem as minas e as tragam de volta para o cotidiano da cidade.
Ainda, enxergamos como um dos desdobramentos dessas reflexões e como proposta concreta do que podem ser esses espaços de água na cidade a conversa e oficina sobre parklets e nascentes, que aconteceu na Peixaria, no dia 05 de dezembro. A proposta, que surgiu a partir do mapeamento desenvolvido durante a disciplina de algumas minas da região central, tinha como objetivo a elaboração de possibilidades de se aproveitar águas de minas, incialmente em parklets, antes que elas caiam na rede pública. Discutiu-se questões relacionadas ao planejamento urbano, à gestão das águas, à mobilidade e aos mobiliários urbanos em espaços públicos.
Mapa de ações
- Mapear águas que afloram no entorno da Escola, através de indicações de pessoas e ouvido atento a barulhos de água na sarjeta e nas bocas de lobo.
2. Consertar a bomba
_Fazer orçamento
_Pedir autorização para saída de bem da escola [deve-se preencher uma ficha com número de patrimônio e descrição do bem e entregá-la na portaria da Escola]
_Conseguir dinheiro: passar o chapéu em evento na praça + Marina e Isabela bancarem
3. Limpar e encher o lago
_Evento no facebook
_Comprar material de limpeza [a Escola não forneceu o material, por não ser de responsabilidade dela — afinal, a praça não está dentro do prédio e por não sermos funcionárias da limpeza]
_Buscar água de mina
_Chamar caminhão pipa
_Vender cerveja + passar o chapéu para pagar caminhão pipa
4. Questionário entregue à comunidade
_Você sabia que há algumas nascentes do córrego Acaba Mundo na região da Praça?
_Acha importante aproveitar a água dessas nascentes? Se sim, como?
_Na praça, temos um lago que está seco há muito tempo. O que você acha de transformá-lo numa piscina pública?
5. Medir qualidade da água da mina
Níveis de referência:
. PH: 6,0–9,0. Em meios ácidos, os metais pesados são mais danosos ao organismo. Os hidrogênios que ficam soltos mantém esses metais em circulação na água, enquanto que em meios básicos eles sedimentam. A terra deixa a água mais básica — tem a ver com acharmos que água de rio deixa o cabelo mais macio!
. ORP (oxigenação): 220 ou maior [até 8000]. Boa oxigenação permite vida [vegetal e animal] e diminui a chance de bactérias.
. EC (condutividade) : menor que 20. Indica presença de sais minerais. Presença de agrotóxicos, contaminação por esgoto e metais pesados aumenta a condutividade elétrica.
Os resultados da medição indicam que a água da mina é de boa qualidade, mas não podemos afirmar se é potável sem testes químicos.
Para traduzir os resultados das análises, propusemos um sistema de leds sob um mapa com os pontos de medições ligado a par leds que iluminavam chafarizes da fonte na Praça da Liberdade em que fizemos as medições. Usamos arduíno e relays que ligavam e desligavam os par leds de acordo com o toque nos pontos do mapa. A fonte Praça da Liberdade tinha cor vermelha, a pior entre as três; a mina da rua Bernardo Guimarães teve resultado intermediário, por isso cor verde; a fonte da Praça Raul Soares, a melhor dentre as três, cor azul.
6. Desenvolver lambe-lambes para sinalizar a existência de minas