Vendinha e Feira na Praça

Luciano Garcia
Praça Paraiba
Published in
5 min readDec 17, 2015

As feirinhas na Escola e na Cidade

A cidade de Belo Horizonte é palco de um grande número de feirinhas de ruas que se estabelecem, claramente como espaços de comércio, mas também como espaços de troca de experiências, de fomentação da cultura local, e, mais importante, como uma forma de ocupação dos espaço públicos pelas pessoas. Essa última faceta das feiras de rua estabelece-se como um ponto nevrálgico na atual situação belo-horizontina, uma vez que nos últimos sete anos a cidade tem passado um por um intenso processo de descaracterização e privatização dos seus espaços públicos, seja ele realizado pela iniciativa privada com apoio da poder público ou seja ele capitaneado pela própria Prefeitura.

Percebe-se, em Belo Horizonte, outrora também conhecida como Cidade Jardim, uma política urbana voltada para os automóveis: cortam-se árvores e erguem-se viadutos em nome da fluidez de um modelo de deslocamento esgotado em si mesmo. Assim, ao mesmo tempo em que espaços públicos, que poderiam ser destinados ao uso e ao bem estar dos cidadãos, cedem lugar para o concreto e o asfalto, políticas higienistas controlam a ocupação e o uso desses espaços remanescentes em nome de uma pseudo segurança pública. Dessa maneira, no sentido oposto dessa política de controle encabeçada pela Prefeitura, surgem movimentos em BH que lutam por um direito básico dos cidadãos: o uso do espaço público. A Praia da Estação, talvez o mais representativo desses movimentos, mantém uma crítica clara às posturas do poder público quanto ao deficitário transporte público, à situação dos moradores de rua, às ocupações e até mesmo com relação à grandes eventos de rua como o Carnaval.

Temos com a Praia um forte elemento em comum: a ocupação de uma praça como meio de resistência, de transformação e de questionamento. A Praia com a sua ocupação para uma transformação cidadã da cidade. Nós, em uma apropriação da Praça da Escola de Arquitetura para transformar a própria Escola, que a tantos anos enclausura-se em si mesma e dá as costas para um espaço tão simbólico para si e para a cidade. Deste modo, buscamos trazer a Escola para fora ao mesmo tempo em que tentamos trazer um pouco da cidade para a Escola, uma vez que essa rica e fértil relação, exaustivamente deixada de lado, só tem a engrandecer e gerar frutos positivos para ambos os lados.

Decidida nossa área de atuação, fomos atrás de ideias numa tentativa de aproximar, a priori, a Escola de Arquitetura e seu entorno imediato. Percebemos que nas redondezas da Escola existe um considerável número de feirinhas de rua que ocorrem semanalmente e nos atinamos para certas ações que tem ocorrido dentro da Escola, como a Cozinha Comum e a Feirinha de Tudo. A Cozinha é uma experiência conjunta que procura aproximar alunos, funcionários e comunidade externa em um ato simples, mas, atualmente, tão revolucionário, que é o ato de cozinhar. Por sua vez, a Feirinha de Tudo é uma oportunidade para que pessoas de dentro e de fora da Escola venham expor seus trabalhos e produtos, compartilhar experiências e se divertirem. Dessa forma, vimos aí uma possibilidade em potencial de aproximação entre esses dois universos, Escola e feiras de rua, tão próximos fisicamente, porém tão separados na vivência da cidade.

Após algumas visitas a essas feiras, percebemos que os feirantes possuem barracas fixas e que não existia na Escola um mobiliário para que as pessoas pudessem expor seus trabalhos ou até mesmo os alimentos preparados na Cozinha Comum. A partir daí tivemos a ideia de construir uma Vendinha, também futuro nome do nosso mobiliário, que fosse móvel, ou seja, as pessoas, alunos, feirantes, poderiam carregá-la com seus produtos e expô-los onde desejassem. A Vendinha seria um mobiliário, funcionalmente dedicado à exposição e ao comércio, mas ideologicamente uma tentativa de aproximação dos feirantes e a Escola. Além do mais, a Vendinha seria um elemento propulsor para a Feirinha de Tudo trazendo mais pessoas, produtos e experiências e enriquecendo-a ainda mais, bem como um incentivo para o uso da Praça externa da Escola levando a Feirinha para lá. Enfim, a Vendinha traz em si uma idealização para a ocupação dos espaços públicos de Belo Horizonte partindo do nosso local primário de atuação, perpetrando-se pelo imaginário da população e consumando-se nas futuras feiras de rua.

Processo de construção

A vendinha foi desenvolvida pelos alunos André Tiné, Carol Mattos e Luciano Garcia com apoio da oficina.cc, localizada no Bairro São Lucas em Belo Horizonte. A sua construção levou quase quatro semanas para ser concluída e os materiais utilizados foram: compensados de madeira reaproveitados de mobiliários construídos pelo primeiro período do curso de Arquitetura e Urbanismo noturno, rodas, eixo e suporte para guarda-sol retirados de um carrinho de picolé, doado pelo Professor Wellington Cançado, usado em uma ocupação efêmera do Festival Eletronika, parafusos, corda azul, porcas-borboleta, verniz para madeira e tintas plástica nas cores azul, amarelo e branco. As ferramentas utilizadas foram serra de bancada, serra tico-tico, furadeira e parafusadeira autônomas, lixadeira orbital, martelo e chave inglesa.

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