3 minutos e 24 segundos

Pra ler ouvindo: Alkaline Trio feat Tegan Quin — Wake Up Exhausted.

Sabe quando você escuta uma música que em poucos segundos te leva de volta pra um momento exato da sua adolescência? Sem perceber, você volta a ter 15 anos. Quando era só um moleque sem nada pra se preocupar. Sem contas pra pagar, sem jobs pra resolver. Com cicatrizes, mas só nas canelas mesmo, e um coração sem medo e cheio de urgência em ser feliz.

Você vai parar direto naquele show em Osasco, que foi com seus amigos e seus moicanos de glicerina só pra encontrar aquela menina que você passou meses conversando no MSN. Aquela menina engraçada, com franja no rosto, cinto de tachinha e que gostava das mesmas músicas que você. Ela, que só por isso, já era perfeita. A mulher da sua vida, você pensava. Nem precisava ter um bom emprego, se dar bem com seus amigos, gostar dos livros do Murakami e restaurante japonês. Nada disso era importante. Ela era perfeita.

Você então se esconde dos seus amigos e some com ela pra um banco atrás do palco. E lá ficam por horas sozinhos conversando. Contam histórias de uma vida curta, mas sem medo. Ela ri da sua professora de redação que tinha pelos no peito. Você do dia em que ela foi expulsa da sala por ter levantado da cadeira quando o amigo gordo sentou do lado dela. Ela diz que queria aprender a tocar violão. Você ganha sua primeira aluna.

Até que a tal música começa a tocar. A mesma música que você está ouvindo hoje, quase 20 anos depois. A MELHOR MÚSICA DO MUNDO! — como você costumava dizer. Ela se levanta, vai pra frente do palco e canta sorrindo. O sorriso mais lindo que você já viu. O sorriso da mulher da sua vida. Você tem cada vez mais certeza disso. Ela para de cantar antes do segundo refrão e olha pra você. O mundo para de girar por um momento. Você a beija enquanto o seu coração e o dela parecem disputar qual é o mais rápido. Falta ar. A respiração falha. “Dá pra morrer de amor?”- você se pergunta. O beijo acaba. A música não. Você demora um pouco pra abrir os olhos. Ela também. Você coloca o cabelo dela atrás da orelha, deixa a mão encostar naquele rosto macio e ali mesmo, no meio de um show de punk rock, diz o primeiro “Eu te amo” da sua vida. Sem medo do que isso pode significar. Sem medo da onde isso vai te levar. Sem medo algum. Você só diz o que sente. Ela diz que te ama de volta antes de te beijar de novo. E por alguns segundos, tudo o que você quer é que o mundo acabe ali, porque você tem certeza absoluta que nunca mais vai ser tão feliz na vida. Nunca mais.

A música acaba.

Você olha pro lado e percebe que está de volta a sua vida adulta, cheia de medos, inseguranças e com uma inveja sem tamanho daquela sua versão quase 20 anos mais nova.