Afinidade Musical

Bruno Barbieri
Pra ler e ouvir
Published in
2 min readMar 10, 2014

Para ler ouvindo: Spoon — You Got Yr. Cherry Bomb.

Eu não sei vocês, mas pra mim não tem nada mais apaixonante do que uma menina que gosta das mesmas músicas que você. Isso é um filtro inevitável e mais forte que qualquer ser humano. Por exemplo, se você encontra uma menina na balada com uma camiseta do Ramones, ela já é mais interessante do que as outras. Se ela comemora quando o DJ toca Queens of the Stone Age, você se apaixona. Daí se ela canta todas as músicas que você gosta. Pronto! Pode pagar um drink pra ela, você encontrou a futura mãe dos seus filhos. É simples assim.

E os exemplos vão muito além da balada. Quando você conhece alguém que gosta das mesmas músicas que você, você tá ferrado. Uma vez no trabalho, eu perguntei na maior ingenuidade pra menina que senta do meu lado qual que era a banda favorita dela. Sem pensar ela falou: Millencolin! Eu travei. Não sabia o que falar. Fudeu! Depois disso é difícil olhar pra ela do mesmo jeito. Eu brinco que se ela tivesse falado que me amava não ia ser tão foda quanto ela gostar de Millencolin.

Também não vou ser hipócrita e dizer que essa é a única fórmula do amor. Eu mesmo já namorei por quase quatro anos uma menina com o gosto musical completamente diferente do meu. E olha que no começo essa diferença também era apaixonante. Ela pedia pra ir junto comigo nos shows de hardcore, dizia que adorava a vibração e os moleques voando pelos ares. Eu, pra retribuir, ia aos shows sertanejos amarradão. Já baixei CD dos Tribalistas, do Chiclete com Banana e do Engenheiros do Havaí pra fazer playlist de aniversário pra ela. E fazia isso com um sorriso na cara.

Até que um dia, perto de completar 4 anos de namoro, o rádio do meu carro começou a tocar Jota Quest. Sem nem pensar, eu mudei de estação. Na hora, ela me deu um olhar assassino, voltou pra estação e gritou: “AMOR!!! Por que você trocou? Aquela é a nossa música!!!” enquanto isso o rádio cantava “Que voe por todo mar e volte aqui, pro meu peito” Eu nem sabia que a gente tinha música. E tinha que ser essa música? Não deu outra, meses depois nosso amor voou como o vento da música.

Tem uma frase do filme Alta Fidelidade (ótima adaptação do livro do Nick Hornby) que explica bem tudo o que eu sinto. “Livros, discos e filmes. Pode me chamar de superficial, mas essas coisas importam, porra! ” E importam mesmo. Você pode até casar com uma modelo, engraçada, gente boa e que te ama, mas se você gosta, mesmo que só um pouquinho, de música e ela te der de presente um cd do Carlinhos Brown, esse amor está com os dias contados.

Publicado na Revista Curto Circuito 6.

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