Carta de não amor a você.

Bruno Barbieri
Pra ler e ouvir
Published in
3 min readJan 13, 2016

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Pra ler ouvindo: The National — Cold girl fever.

Eu não tenho certeza se foram exatamente essas as palavras, mas em algum momento num passado próximo eu olhei pros seus olhos cheios de lágrimas e disse: “Não, eu não te amo e provavelmente eu nunca te amei.” Eu te disse isso pela primeira vez naquele dia, mas eu sempre soube disso.

Eu digo que sempre soube disso porque desde o começo, mesmo você sendo uma das meninas mais inteligentes e lindas que eu já conheci, eu nunca fiquei nervoso ao seu lado. Nunca! Meus dentes nunca bateram e minhas mãos nunca suaram frio quando a gente sentava num restaurante. Na verdade, eu sempre soube o que dizer e como te fazer rir. Eu também nunca precisei concordar com tudo o que você falava só pra parecer o cara perfeito. Pelo contrário, eu adorava discordar só pra ver você ficando brava e com bico na cara. No celular, eu nunca esperei a hora certa pra te escrever e nem fiquei nervoso quando uma resposta sua não chegava. E depois de uma noite maluca na cama, quando você dizia que me amava baixinho no ouvido, eu preferia fingir que estava dormindo a responder. São essas pequenas coisas juntas que me fizeram ter tanta certeza que eu nunca te amei mesmo adorando passar as melhores horas da minha semana com você.

O mais difícil disso tudo, moça do olho verde que de verde não tem nada, é que desde que você saiu da minha vida, eu passei a odiar todo mundo em minha volta. É, eu simplesmente odeio todo mundo em minha volta.

Eu odeio sair pra jantar porque todo mundo só pensa nas malditas calorias, enquanto você não dividia nem suas batatinhas comigo.

Eu odeio ir ao cinema porque ninguém coloca o canudo no nariz pra me fazer rir. E pior, ninguém ri da sua piada favorita: quando eu coloco os óculos 3D e finjo estar segurando seus peitos a distância.

Eu odeio como o silêncio perto de outras pessoas pode ser tão desconfortável e com você era só um tempo a mais pra gente ficar se olhando.

Eu odeio ficar cheio de energia depois de comer e não ter ninguém do meu lado querendo dançar valsa que nem idiota no meio da rua.

Eu odeio achar um link de uma cabrita comendo torrone e saber que não existe outra pessoa no mundo que vai entender essa piada.

Eu odeio como todas as outras mulheres ficam feias usando uma touca de banho e você, de alguma maneira quase inexplicável, ainda consegue fazer meu olho brilhar.

Eu odeio como por mais seguras e confiantes as outras pessoas sejam, ninguém tem a coragem que você teve de me mandar uma mensagem do banheiro dizendo: “desculpa, mas deu ruim aqui.”

Até a coitada da minha geléia preferida que alegrava as minhas manhãs de mau humor, eu passei a odiar depois que você não dorme mais comigo.

Acho que deu pra entender que desde que você sumiu da minha vida, eu odeio todo mundo em minha volta. Mas sabe de uma coisa? Tem uma pessoa que eu odeio mais que todas as outras. E essa pessoa sou eu. É, eu mesmo.

Desde que você foi embora da minha vida, eu me odeio mais que todo mundo. E eu me odeio tanto assim pelo simples fato de mesmo sentindo tanta falta de você, eu ainda tenho certeza absoluta que eu não te amo e que eu nunca te amei.

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