Pare de ouvir os outros

Bruno Barbieri
Pra ler e ouvir
Published in
4 min readApr 20, 2018

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Pra ler ouvindo: Dan Andriano — It’s Gonna Rain All Day.

Você provavelmente não me conhece pessoalmente e se me conhecesse ia perceber logo de cara que eu falo pra caralho. É, eu falo o tempo inteiro mexendo os braços que nem um italiano sem jeito e muito provavelmente vou te interromper em uma conversa. Eu sei, eu sei. É chato e eu juro que tento me controlar, mas é mais forte do que eu. O pior é que sempre foi assim. Uma das minhas mais claras lembranças de infância é da minha mãe gritando: “Ô menino que fala mais que a boca, viu!”

Outra lembrança bem marcante pra mim é a do dia em que meu avô me chamou de canto pra me dar uma bronca e disse: “Bruno, a gente tem dois ouvidos e só uma boca pra ouvir mais do que falar.” Hoje eu prefiro imaginar que ele queria me ensinar alguma coisa, mas pode ser que ele só queria que eu calasse a boca mesmo.

Os anos passaram e hoje com 34 anos eu queria muito ter a chance de sentar na frente do meu falecido avô e dizer que eu não concordo nem um pouco com ele e que eu tenho um bom motivo pra isso.

Repara o tanto de merda que a gente tem que ouvir por aí. O tanto de mentira e falsidade no mundo. Foi por isso que eu cheguei a conclusão que a gente tem que parar de ouvir os outros. É, parar de ouvir mesmo. Porque a gente tem sim dois ouvidos, mas bem na frente deles temos dois olhos e eles que realmente importam. O que eu quero dizer é que a gente tem que parar de ouvir os outros e passar a prestar mais atenção no que as pessoas fazem.

Porque falar é fácil. Falar não dói. Não custa nada. Não dá trabalho nenhum. E por isso mesmo todo mundo fala o que quer. Ou melhor, todo mundo fala o que o outro quer ouvir. Fala o que for preciso pra ser aceito naquele momento. Mas se você parar um pouquinho e prestar atenção nas atitudes de uma pessoa, é muito mais fácil entender o que ela realmente quer dizer.

Presta atenção naquela pessoa que diz que morre de saudades de você, mas que vive marcando um dia pra marcar um almoço e pra só aí ver se vai poder te encontrar em um outro dia. É, confuso assim mesmo.

Repara também naquele chefe que vive dizendo que adora o seu trabalho e que te admira como profissional, mas que contrata alguém menos experiente para a vaga que você deveria ter sido promovido.

E o tanto de gente em sua volta que se diz revoltado contra a corrupção no país, mas que come a coxinha na fila do quilo antes de pesar. E ainda pede desconto com a carteirinha falsa de estudante. Você sabe do que eu tô falando. É só prestar um pouco mais de atenção pra reparar que o que as pessoas falam e como elas realmente agem é bem diferente.

O contrário também existe. Eu mesmo tenho um irmão mais novo que, por força do costume, eu nem falo oi e já saio xingando ele. Eu nem percebo que falo os palavrões mais pesados que você pode imaginar, mas tirando isso, eu acho difícil encontrar uma parceria maior do que a nossa.

Tem também a feminista das redes sociais que perde horas escrevendo textos gigantescos defendendo os direitos iguais, mas que se recusa a tirar a carteira do bolso pra dividir a conta com o namorado.

Tenho certeza também que você já deve ter trabalhado com aquele cara boa praça. Ele anda pelo escritório elogiando os outros e tem uma piada interna com cada pessoa. Todo mundo o ama. Daí você senta pra almoçar e ele é um grande filho da puta com o garçom. O que você acha? Esse cara é legal mesmo, ou ele só faz esse papel porque isso vai fazer bem pra carreira dele?

Esses são só alguns exemplos de que não vale a pena ouvir as pessoas. É muito mais fácil prestar atenção nas atitudes. Tá tudo na nossa cara, mas a gente não quer ver. Não quer ver porque dói. É mais fácil acreditar que a menina que você saiu na sexta teve sim uma noite incrível com você e que ela não responde suas mensagens porque tá ferrada no trabalho em pleno domingo. Acorda! Se ela quisesse, ela responderia.

O pior é que eu deveria ter percebido isso muito anos atrás quando fiz um curso de roteiro com o Robert Mckee. Tem uma parte que ele fala “são nos momentos de conflito extremo que você define quem é o seu personagem.” Não importa o que ele disse antes, é a atitude que ele toma no meio do caos que define quem ele realmente é. Pronto! Mais uma prova que a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Sei lá. Mas o que eu quero dizer é que são as atitudes que tomamos que nos definem. Simples assim. Por isso, eu repito mais uma vez: pare de ouvir os outros! E ainda bem que você está lendo esse texto e não me ouvindo.

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