Saudade

Pra ler ouvindo: Death Cab For Cutie — I Will Follow You Into The Dark.

Saudade é uma palavra que representa um sentimento tão difícil de explicar, mas tão difícil de explicar que o mundo inteiro desistiu, quero dizer, quase o mundo inteiro. Porque nossos, não sei se sábios ou só corajosos ancestrais portugueses criaram essa palavra. A palavra favorita entre os compositores de sertanejo universitário, pagodeiros dos anos 90 e poetas adolescentes com o coração partido.

Saudade é tão difícil de ser explicada que quando alguém acerta, acabam dando os créditos para algum gênio. Por exemplo, se você procurar “saudade” no Google, você vai dar de cara com um lindo poema de Pablo Neruda. Um poema com versos como: “Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida….” Mas a verdade é que como bom chileno, Pablo Neruda nunca ouviu falar da palavra saudade e por isso não escreveu esse poema. Será então que foi o Jabor ou o Veríssimo? — pergunta o curioso.

E é assim que as pessoas costumam descrever saudade, como um vazio acompanhado de dor ou um buraco gigantesco no peito. Eu prefiro dizer que você não sente saudade de uma pessoa que está longe ou que não faz mais parte da sua vida. Pra mim isso é sentir falta de alguém. Saudade, saudade mesmo, você só sente quando encontra essa pessoa que estava fazendo falta na sua vida.

Sabe quando você abre a porta da sua casa e dá de cara com aquela pessoa que você ama e ela estava longe? Na hora seu coração dispara, sua mão treme e fica molhada, você sente aquele cheiro inconfundível e lembra o tanto que aquilo te fez falta. Você aperta a pessoa com força tentando dizer, sem falar uma palavra, que você faria de tudo pra segurar ela ali e nunca mais a deixar sair por aquela porta. É nesse momento, e só nesse momento, quando você está perto da pessoa que você entende o que é realmente sentir saudade.

E é por isso que eu não acho que saudade seja um sentimento ruim. Na verdade, eu acho que a saudade poderia resolver muitos dos problemas de relacionamentos do mundo. Por exemplo, todo mundo diz que casamento é uma instituição falida. Que quando você casa, o amor está com os dias contados. Mas o que as pessoas não percebem é que não é o amor que acaba, é a saudade. O casal passa a morar junto e acha que só aquilo basta. Esquecem das surpresas, dos encontros, vivem todos os dias em uma grande rotina. Uma rotina feita para matar a saudade aos poucos. E aí, quando a saudade acaba, a graça acaba. A novidade acaba. O desejo acaba. Tudo acaba.

A verdade é que se eu tivesse que pixar alguma coisa nos muros da cidade, eu não pixaria “Mais amor, por favor.” mas sim “Mais Saudade, por favor”. E é por isso que eu não tenho medo de dizer que sentir saudade não é triste, triste é não sentir saudade, ou como o último verso do poema sem dono sabiamente diz: “e esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades”.