SORTE

Bruno Barbieri
Pra ler e ouvir
Published in
3 min readFeb 19, 2015

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Pra ler ouvindo: The Killers — Mr. Brightside.

Eu sou um cara de muita sorte, mas muita sorte mesmo e todo dia eu agradeço por isso antes de dormir. Primeiro porque eu nasci na família mais incrível que eu conheço. Um pouco estranha, eu confesso. Mas minha casa sempre foi a casa de todo mundo. Lembro bem de um dia quando eu tinha uns 7 anos de idade e minha tia perguntou pra minha mãe: “Nádia, você passa mel nos brinquedos dessa casa? Toda criança que entra aqui não quer ir embora.” Eu lembro que ouvi aquilo e pensei fazendo careta: “Eca, mel!! ” Mas a resposta certa pra essa pergunta era simples: “Não tia, não tinha mel nos brinquedos, não. Tinha muito amor naquela casa e todo mundo sentia isso logo que abria a porta.”

Eu nem vou começar a falar da sorte que eu tive de ter a minha mãe, pai, vó e todo o resto pra não chorar já no começo do segundo parágrafo. Mas eu vou falar sim de uma outra sorte. Enquanto a maioria das pessoas passam anos tentando encontrar um melhor amigo pra chamar de irmão, eu antes de completar 2 anos de idade ganhei um irmão que eu tenho muito orgulho de chamar de meu melhor amigo. E só isso já ia me fazer o cara mais sortudo do mundo.

Até que um dia eu escutei por aí que família não é aquela que você nasce, mas a que você escolhe. E como eu não sou bobo nem nada, resolvi escolher mais um monte de gente pra fazer parte dessa minha família incrível. Por exemplo, minha mãe nunca deixou a gente ter um cachorro em casa. Tudo bem, eu adotei logo um bando de cachorros loucos. Tem cão de guarda, baixinho, catalão, sequelado, prettiest, narigudo, de raça e até vira lata. Tudo membro da minha família.

Depois disso eu adotei uma namorada barbada que está comigo há mais de 12 anos. Uma cunhada que eu sempre chamo de gata, mas que na verdade eu quero dizer: a irmã que eu nunca tive. Uma hippie que cria minhocas, a menina do olho verde, a japa de osasco, o narigudo que se coça e geme dormindo, o magrelo do frente, o natalino, las locas, o frito, a frita, o negro, a terapeuta que me chama de filho, o boss, o palmeirense, a quinta série toda, o papi, uma inteira família mineira, a ligada no 220, o colega, a itálica, o panda, o carioca e até o porteiro que ainda acha que eu sou corinthiano. É tanta gente que eu com certeza vou parecer vó em almoço de domingo e esquecer o nome de um monte de neto.

Mas mais importante do que poder escolher as pessoas, foi descobrir que família não é quem a gente escolhe não. Família na verdade são as pessoas que escolhem ficar do seu lado a todo custo. E é aí que entra mais uma vez a minha sorte. Porque mesmo sendo chato, mas chato pra caralho! Eu fico muito feliz em saber que esse monte de gente incrível escolheu fazer parte da minha vida.

Há alguns anos atrás quando um membro dessa família gigante mudou pra Argentina, eu escrevi um texto de despedida pra ele. Nele eu dizia que distância não se mede nos quilômetros entre as cidades que você e as outras pessoas estão, mas no tamanho do buraco que fica no seu coração. E eu vou contar uma coisa pra vocês. O buraco que todos vocês vão deixar no meu coração é muito, mas muito maior do que os 9.917 km entre São Paulo e Los Angeles.

Mas eu não vou ficar triste não, por que como eu já disse antes, eu sou um cara de sorte. Muita sorte. Então eu só vou sorrir e dizer uma coisa inspirada na letra da música que a gente não canta, mas declama todas as sexta-feiras naquela instituição de caridade da Rua Aspicuelta: “Não importa a cidade em que a gente viva. Eu nunca! Eu nunca! EU NUNCAAA vou ficar longe de vocês. Nunca!”

E sim, além de sortudo, eu sou brega pra caralho. Porque quem ama é brega. E eu amo todos vocês. Todos.

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